Crítica | 007 – Operação Skyfall

Permanência em constante transformação

Skyfall
Direção de Sam Mendes
Com Daniel Craig (Bond),
Judi Dench (M) e Javier Barden (Silva)
2012 . Reino Unido . 145 min

Bond, James Bond. Certas coisas não mudam nos filmes de 007.  Perseguições espetaculares em que carros espetaculares são espetacularmente destruídos diante de nossos olhos; uma visita a um elegante cassino onde Bond de smoking pede aquele drink famoso mexido não batido e flerta com uma mulher misteriosa, linda e perigosa.  

Apesar das cenas previsíveis e obrigatórias da série existe espaço para a renovação e Operação Skyfall nos surpreende com um Bond atormentado por uma crise de meia idade. A série está para completar 50 anos e os tempos são outros. O velho James Bond precisa se adaptar ao século XXI e, ao que parece, está conseguindo a proeza de se reciclar no admirável mundo novo do cyber crime.

O nível dos filmes de 007 vem subindo e não sei se soaria como sacrilégio eleger Operação Skyfall como o melhor de todos os tempos. Tudo bem, o filme acabou de ser lançado e tem que competir com os clássicos do Sean Connery, mas vamos falar um pouco sobre ele.

Descartado

No início do filme Bond passa por uma prova de fogo. Durante uma operação em que a lista dos agentes do MI6 pode cair nas mãos de terroristas, a chefe de Bond é colocada diante de uma decisão difícil: perder seu melhor agente ou colocar em risco a identidade de todo o seu efetivo. M não vacila e Bond é alvejado, supostamente morto pelo fogo amigo de sua própria equipe. Um combatente sacrificado pelo grupo.

Obviamente o interminável Bond sobrevive, mas o tiro pegou mais fundo e alcançou as sólidas convicções do nosso herói. Por um longo tempo Bond permanece desaparecido levando uma vida desregrada e em crise com seus valores do passado. Bond considera-se traído pelo MI6, descartado em um jogo de interesses onde ele não passa de mero peão.  Esse Bond humanizado aparece na tela com a barba por fazer, cicatrizes pelo corpo e um olhar perdido que não lembram em nada o galã de elegância impecável de outros tempos.

O retorno do herói

O tempo passa e Bond resolve que o único caminho a trilhar é o retorno ao MI6. Infelizmente, não o recebem de braços abertos. Sua chefe o considera um desertor e decide que ele precisa disputar a vaga novamente passando por todas as provas que um novato precisa vencer para entrar no seleto grupo de agentes do MI6.

A vida torta levada por Bond durante seu afastamento mais o tempo que não ajuda ninguém e insiste em passar para todos complicam a vida do 007. Sua pontaria não é mais a mesma. Surge uma dúvida no ar: seria o momento de uma aposentadoria honrosa? Apesar dos resultados fracos nos exames, M considera que Bond pode voltar à ativa, mas essa decisão difícil tem a ver com uma missão especial que só ele pode encabeçar.

O inimigo que está do outro lado tem um currículo muito parecido com o de Bond. Trata-se de um cyber criminoso que no passado foi agente brilhante do MI6. Por alguma razão, esse agente se bandeou para o lado negro da força.

Novos tempos

Para ajudar na sua nova missão Bond vai contar com a ajuda do novato Q, um garoto de ego inflado que entende tudo de Informática e acha que a geração de Bond devia dar passagem. Por favor, nada a ver quem enxergar em Q um legítimo representante da geração Y. Q entende que quem domina os bits deve comandar e pessoas como o Bond devem ficar com funções secundárias como apertar o gatilho.

Apesar das diferenças, tanto Q como Bond vão ter que unir forças no calor da batalha. Ambos vão entender que precisam um do outro nesses novos tempos digitais. Dessa vez, Bond não recebeu nenhuma engenhoca espetaculosa com alto poder de destruição para auxiliar em sua missão. Novos tempos: a tecnologia evoluiu tanto que seria ridículo pensar em canetas que filmam ou disparam tiros.

A Pátria mãe

A relação de Bond com M não é das melhores. M é uma senhora austera que não dá moleza para ninguém. Algo a ver com a figura materna de velhas rainhas inglesas ou da pátria mãe que só cobra sacrifício de seus filhos? Nesse filme, M tem papel de destaque. Ao mesmo tempo em que ela exige o impossível de Bond, há um vínculo profundo entre ela e o vilão interpretado por Javier Barden. 

M comandou o vilão Silva no tempo em que ele servia o M16 e foi ela quem o descartou da corporação quando os interesses momentâneos do poder conspiraram contra ele. M representa a velha guarda da Guerra Fria, um tempo em que havia apenas o branco e o preto. M não foi talhada para tempos em que predomina a cor cinza, mas antes de sair de cena ela precisa desatar alguns nós.

O vilão que Bond deve eliminar não tem nome. M o chama de Silva, mas o nome verdadeiro dele, quem saberá? Silva é um vilão carismático e atormentado. Seu objetivo não são diamantes ou armas nucleares como esperado de vilões da série. Silva tem sede de vingança, aquela que move montanhas. E vingança boa deve ser servida fria, após meticulosa fermentação. Silva é um anjo caído que foi da luz para as trevas.

Busca das raízes

O confronto final entre Bond e Silva se dará em uma velha Escócia lendária, local onde Bond cresceu. Para recuperar suas energias e curar suas feridas o herói deve retornar à casa ancestral onde os valores eternos o aguardam desde sempre. Para enfrentar o futuro, Bond se reconcilia com o passado, coleta no passado tudo que lhe possa ser útil para enfrentar o futuro. Essa é a mensagem para quem quer construir um clássico: mantenha-se fiel à tradição, mas incorpore o novo sempre que fizer sentido.

Operação Skyfall nos mostra que as chamadas franquias do cinema não precisam cair na mesmice. O paralelo mais evidente que me vem à cabeça é com a série Batman que no século XXI também deu um notável salto de qualidade. Seria uma tendência nos estúdios: humanizar os super heróis, dar densidade às tramas e aos personagens sem esquecer das perseguições espetaculares, dos efeitos especiais e do charme clássico de Bond, James Bond.

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