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Crítica | A queda – as últimas horas de Hitler

Alemães ajustam contas com o passado

Der Untergang
Direção de Oliver Hirschbiegel
2004 : Alemanha : 156 min
Site oficial: www.downfallthefilm.com
Com Bruno Ganz (Adolf Hitler),
Alexandra Maria Lara (Traudl Junge) e
Corinna Harfouch (Magda Goebbels)

O risco era alto: Um filme alemão sobre o fim do Terceiro Reich. Bastava errar a mão e os idealizadores seriam acusados de desrespeitar a memória dos milhões de mortos da Segunda Guerra. Mas o filme deu certo e, com equilíbrio e sensibilidade, ajudou os alemães a acertarem contas com seu passado.

Hitler visto de perto

Algumas pessoas ficaram incomodadas por verem um Hitler humano. Realmente, a atuação de Bruno Ganz nos coloca diante de um Hitler perturbado, que delira comandando tropas imaginárias, que não sente compaixão pelo destino dos alemães, mas que reserva algumas palavras ternas para colaboradores próximos. Não vejo como poderia ser diferente. Em um filme denso não se tem escolha senão mostrar o personagem principal como ser humano, mesmo que o ser humano em questão seja Adolf Hitler.

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Crítica | Adeus, Lenin!

A segunda queda do muro de Berlim

Good bye, Lenin!
Direção de Wolfgang Becker
2003 : Alemanha : 118 min
Com Daniel Brühl (Alexander) e
Katrin Sass (Christine)
Site oficial: www.good-bye-lenin.de

Sempre esperamos que a arte exorcize os demônios da História. A queda do muro de Berlim foi um trauma para muita gente. Não que as pessoas quisessem a continuação do muro, mas porque houve duas quedas em uma só: a do muro e a do socialismo real.

Tudo bem, estamos falando de pessoas ao redor do mundo que acreditavam, algumas ainda acreditam, na utopia socialista. Mas quem viveu no socialismo real vê as coisas sob outra perspectiva e nada como um filme feito por alemães para nos dar a visão de quem estava lá sobre o fim do muro e da RDA (República Democrática Alemã, a Alemanha oriental e socialista).

Comunista devota

Christine (Katrin Sass) é uma mãe devotada aos filhos e ao partido comunista. Depois que seu marido abandonou a família em circunstâncias mal explicadas, ela passou a ser uma ativista da causa socialista. Seu filho Alexander (Daniel Brühl) é mais pragmático e não se entusiasma com o comunismo. Chega a participar de uma passeata de protesto em 1989 pela queda do regime alemão oriental. A mãe de Alexander o vê no exato momento em que ele é preso pela polícia que dispersa a passeata e isso a leva a um enfarte.

Ela permanece em coma por oito meses e, enquanto isso, a situação política da Alemanha oriental vira de pernas para o ar. Quando Christine sai do coma, os médicos avisam o filho que a situação dela é muito delicada e que ela não pode passar por emoções fortes. Alexander então decide esconder da mãe comunista fervorosa toda a reviravolta política que ocorre no país. A partir daí, está montado o palco para situações hilárias e absurdas.

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Crítica | Apocalypto

Caçada implacável ao bom selvagem

Direção de Mel Gibson
2006 : EUA : 139 min
Com Ruddy Youngblood (Pata de Jaguar) e
Dalia Hernandez (Seven).
Site oficial: www.apocalypto.com

O filme é sobre caçadas e já na primeira tomada um grupo de índios caçadores acua uma anta para a armadilha mortal. Depois de abater a presa, o líder da caçada arranca o coração do animal. Esse é o primeiro coração arrancado durante o filme.

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Crítica | Colateral

Quem se importa se um estranho morrer?

Collateral
Direção de Michael Mann
2004 : EUA :  116 min
Com Tom Cruise (Vincent) e
Jammie Fox (Max)
www.collateral-themovie.com

No início de Colateral todos os personagens são desconhecidos uns dos outros. Por capricho do destino ou do acaso eles vão se cruzar ao longo das poucas horas em que a história acontece e suas vidas vão se entrelaçar de forma trágica. São pessoas perdidas na noite de uma cidade desumana e que parece vazia. Colateral fala sobre solidão na selva urbana, solidão que desilude uns e que torna outros em selvagens insensíveis.

O fracassado do bem e o bem-sucedido do mal

Max (Jammie Fox) e Vincent (Tom Cruise) são subprodutos opostos da metrópole. Max é um pacato fracassado e Vincent um psicopata bem-sucedido. Um pensa que nada pode e o outro que pode tudo. O pacato tem um sonho distante e busca refúgio olhando para uma foto pendurada no seu quebra sol. O psicopata é uma máquina de matar dado a filosofar sobre a inutilidade da virtude. Colateral é um duelo entre dois extremos. Seria o duelo entre o bem e o mal?

Max é taxista e trabalha a noite. Sua ligação  com as pessoas se resume contatos rápidos pelo retrovisor. Elas entram e saem de seu táxi e deixam impressões vagas. Max é um observador, às vezes enojado, do seu mundo. Ele é boa praça, um cara carismático na sua insignificância. Graças a isso, conquista a simpatia de alguns passageiros. Até ganha um cartão da promotora de justiça Annie para quem ele fez uma corrida.

Para o caso de ele querer conversar sobre a vida em geral, sabe como é, né? O batismo de fogo de Max começa quando Vincent entra em seu carro. Vincent vai permanecer em Los Angeles apenas por algumas horas para contatar cinco pessoas em pontos diferentes da cidade e quer que Max o leve até elas. Infelizmente, os assuntos comerciais de Vincent com seu primeiro contato da noite não saem como era para ser e Max se torna testemunha de um assassinato.

Missão dada, missão cumprida

A partir daí a relação entre os dois muda e Max passa a ser motorista e refém de um matador profissional obcecado em cumprir sua missão. Depois do primeiro corpo tombar o ritmo do filme muda. A tensão cresce a cada cena e começa uma longa corrida pelas ruas de Los Angeles regada a violência e morte.

Vilão que se presa tem carisma e Vincent perturba o espectador porque é um perfeccionista na arte de matar. Não lhe faltam as virtudes do vilão: tem sangue frio, é oportunista, inteligente, corajoso, competente e focado. Além de matador profissional, Vincent é um filósofo da violência capaz de confundir a cabeça de Max com suas tiradas cínicas. Apesar de ser um niilista, para Vincent, missão dada é missão cumprida e esse fundamentalismo é o seu calcanhar de Aquiles. Ufa, ainda bem que esse cara tem um ponto fraco.

Solidão da metrópole

Diretores como John Ford elevaram o gênero western à categoria de arte. Michael Mann é um dos responsáveis pela elevação do nível do gênero policial. No western, havia a solidão das grandes paisagens desabitadas. Em Colateral, temos o homem solitário que enfrenta a violência do asfalto sem fim. Quando duas pessoas se conectam por algum motivo, mesmo que sejam extremos opostos, haverá uma convergência entre elas.

Cada um vai dar algo de si ao outro. Max, o meticuloso, vai ganhar em coragem, determinação e capacidade de improvisar sob pressão. Vincent, o facínora, acabará esboçando alguns sinais de humanidade. Mas Michael Mann é um otimista e nos seus filmes a aproximação entre o bem e o mal acontece, mas nunca termina em relativismo. O bem e o mal não devem se misturar e cabe ao bem vencer no final.

Marcante

  • A fotografia das cenas externas e noturnas, a trilha sonora intimista, o timing preciso de cada cena criam um clima único. É como caminhar sozinho e sem rumo na madrugada pelas ruas de uma grande cidade

Filmes

Crítica | Distrito 9

Apartheid alienígena

District 9
Direção de Neil Blomkamp
2009 : Nova Zelândia/África do Sul : 112 min
Com  Sharlto Copley (Wikus)

De repente, uma espaçonave gigantesca estaciona nos arredores de Johanesburgo, África do Sul. No interior da nave, são encontrados milhares de alienígenas doentes e desnutridos. O governo local aloja os estranhos seres em um terreno logo abaixo de onde a espaçonave flutua misteriosamente. Com o passar do tempo, a relação da população terrestre com os alienígenas começa a ficar tensa. Afinal, os intrusos não vão retornar para o espaço?

Alienígenas favelados

O terreno ocupado pelos seres interplanetários se transforma em uma imensa favela. Espere aí. Esse é um filme sobre aliens ou sobre favelados? Distrito 9 é uma criativa e impiedosa metáfora sobre choque de culturas. Quem quiser imaginar a espaçonave como uma grande embarcação que despeja refugiados indesejáveis em um país africano, fique a vontade.

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