Conexão sintática

As conexões ocorrem quando integramos dois ou mais itens sintáticos em um conjunto relacionado semanticamente por meio de sintagmas conectivos para formar um item composto de nível sintático mais alto.

Conexão de frases

Conexões entre frases geram períodos. As frases participantes de uma conexão são aceitáveis quando observadas isoladamente, exceto no caso específico das que apresentam verbo flexionado no modo subjuntivo. Vejamos um exemplo:

  • Ele acordou cedo e saiu para o trabalho.

São aceitáveis as frases desmembradas do período acima tomadas isoladamente:

  • Ele acordou cedo.
  • Saiu para o trabalho.

As frases de uma conexão são sintaticamente independentes. A conexão é um elo semântico entre as frases que se estabelece pelo conectivo. No exemplo anterior, as frases se ligam pelo conectivo e, que estabelece entre as duas uma relação semântica de adição lógica. Entende-se que os fatos relatados pertencem a uma mesma cadeia de acontecimentos sucessivos. Vejamos outro exemplo:

  • Ficou rico, mas não era feliz.

No exemplo, temos duas frases sintaticamente independentes, mas que do ponto de vista semântico e segundo a opinião do emissor, contrastam entre si. Ao conectar as duas frases pelo conectivo mas, o emissor quis passar a idéia de que uma vez rico, espera-se que seja feliz.

A conexão de frases é feita por razões semânticas. As conexões agregam sentido ao enunciado. Percebemos isso claramente na série a seguir:

  • Ele estuda gramática e escreve bem.
  • Ele estuda gramática, mas escreve bem.
  • Ele estuda gramática, logo escreve bem.

Comutatividade

Algumas conexões de frases são comutativas, outras não. Vejamos dois exemplos:

  • Penso, logo existo
    Existo, logo penso.
  • Pedro é arquiteto e Antônio é engenheiro.
    Antônio é engenheiro e Pedro é arquiteto.

No primeiro par de frases, a comutação provoca uma alteração de sentido no período. No segundo par, não há restrição semântica de se comutar as frases.

A comutatividade das conexões de frase depende essencialmente da natureza do conectivo. O conectivo logo, por exemplo, não admite comutação, enquanto o conectivo e é tipicamente comutativo.

A comutatividade é limitada, em alguns casos, por razões semânticas. Por exemplo:

  • Acordou cedo, tomou café e partiu para o serviço.

Soa estranho comutar as frases conectadas do exemplo.

  • Partiu para o serviço, tomou café e acordou cedo.

A limitação para a comutação, nesse caso, vem da expectativa que temos de encontrar as frases em uma ordem cronológica de desenrolar dos fatos.

Aceitabilidade das frases isoladamente

A princípio, todas as frases conectadas são sintaticamente independentes e aceitáveis quando tomadas isoladamente. Essa regra só encontra exceção em alguns casos de conexão em que na segunda frase encontramos o verbo flexionado em modo subjuntivo. Os exemplos a seguir, contém frases aceitáveis isoladamente:

  • Voltei cedo do serviço porque estava com uma forte gripe.
  • Voltei cedo do serviço.
  • Estava com uma forte gripe.

Ao contrário, a segunda frase do próximo exemplo não é aceitável quando isolada.

  • Eu estaria tranquilo se tivesse concluído o projeto.
  • Eu estaria tranquilo.
  • * Tivesse concluído o projeto.

Embora nesse caso a segunda frase não seja aceitável isoladamente, consideramos o conjunto como uma conexão devido a certos usos bastante peculiares dos tempos do modo subjuntivo, que acontecem somente em conexões de frase.

Conexões restrita e ampla

Cada coordenativo conecta duas frases do período, ou seja, medeia uma relação uma para uma. Alguns coordenativos, porém, podem se repetir entre frases contíguas gerando uma conexão mais ampla entre várias frases.

O coordenativo ou, por exemplo, pode ser usado para conectar várias frases contíguas, bastando para isso, que se repita entre as frases. O resultado é uma conjunção de frases indeterminada em número. Exemplo:

  • Ou viajo para a chácara, ou vou para o litoral, ou nem viajo no feriado.

O coordenativo mas, por sua vez, não gera conexões amplas entre frases contíguas. Vamos analisar um exemplo:

  • Ele era competente, mas não era pontual, mas não era assíduo, mas não era leal.

No período do exemplo, temos 4 frases. A interpretação mais adequada para ele, é considerar que as três últimas frases contrastam uma a uma com a primeira. Esse período poderia ser parafraseado da seguinte forma:

  • Ele era competente, mas não era pontual.
  • Ele era competente, mas não era assíduo.
  • Ele era competente, mas não era leal.

Em resumo, alguns conectivos geram conexões restritas a duas frases e outros, conexões amplas indeterminadas em número de frases, em que o conectivo se repete intercalado entre as frases.

Conexões comutativas

Podemos classificar as conexões de frase por vários critérios. Aqui, vamos buscar uma classificação focada no aspecto morfossintático. Uma primeira dicotomia que vamos estabelecer é entre conexões comutativas e não comutativas.

Comutativas aditivas

São conexões amplas e comutativas de frases. O conectivo típico dessa classe é e, utilizado juntamente com o morfema pausa quando em conexões amplas.

  • Ele escreve bem, tem boa didática e se relaciona bem com os alunos.
  • Ele se relaciona bem com os alunos, escreve bem e tem boa didática.

Comutativas aditivas negativas

São conexões amplas e comutativas de frases. O conectivo típico dessa classe é nem que equivale a e não.

  • Não viajou e não descansou.
  • Não viajou, nem descansou.
  • Nem viajou, nem descansou.
  • Nem descansou, nem viajou.

Comutativas alternativas

São conexões amplas e comutativas de frases. O conectivo típico dessa classe é ou.

  • Aumentamos o preço ou vendemos com prejuízo.
  • Ou aumentamos o preço ou vendemos com prejuízo.
  • Ou vendemos com prejuízo ou aumentamos o preço.

Comutativas adversativas

São conexões restritas e comutativas de frases. O conectivo típico é mas.

  • Arrependeu-se depois, mas ficou feliz com a compra.
  • Ficou feliz com a compra, mas arrependeu-se depois.

Conexões não comutativas

A característica que define esse grupo é a impossibilidade de trocar a ordem das frases no período, sem que isso cause alteração de sentido.

Sem o verbo da segunda frase no subjuntivo

As conexões desse tipo são restritas a duas frases. Ambas são aceitáveis se observadas isoladamente.

  • Penso, logo existo.
  • Vamos dormir porque estou com muito sono.
  • Existo porque insisto.
  • Trazia sempre uma lembrança quando voltava de viagem.

Com o verbo da segunda frase no subjuntivo

Admitem apenas duas frases na conexão. Só a primeira frase da conexão é aceitável se observada isoladamente. A segunda resulta inaceitável, em função de apresentar o verbo flexionado no subjuntivo.

  • Nunca saberemos a razão daquele ato, embora tenhamos investigado muito.
  • Eu ficaria rico se soubesse os detalhes da fórmula.
  • Limpou o quarto para que ela tivesse uma boa impressão.

Veja alguns exemplos de períodos com frases conectadas de formas variadas:

F(SConF)Características da conexão
Assobiaechupa cana.Comutativa aditiva
Ninguém se feriu,nemhouve danos materiais graves no acidente.Comutativa aditiva negativa
Estudou para o concurso,masnão passou.Comutativa adversativa
Vaiouracha.Comutativa alternativa
Penso,logoexisto.Não comutativa implicativa
Desistiporquenão vi chances.Não comutativa implicativa inversa
Ganhava bememboranão fizesse esforço para isso.Não comutativa concessiva com verbo no subjuntivo
Todos passariamseum passasse.Não comutativa condicional com verbo no subjuntivo
Guardou o jantarpara queele comesse mais tarde.Não comutativa final com verbo no subjuntivo
Ele ficou mais alegrequandomudou para a casa nova.Não comutativa temporal com verbo no subjuntivo

Conexões de sintagma

Conexão de sintagma ocorre quando integramos dois ou mais itens por relação lógica aditiva ou alternativa através de conectivos para formar um sintagma composto. Veja nos exemplos, as conexões em negrito:

  • Pedro, Paulo e João almoçaram juntos.
  • O novo modelo é moderno, econômico e confiável.
  • Temos três opções de cor: vermelho, branco ou preto.
  • Agradeço à direção, aos professores a aos pais.

No primeiro exemplo, temos três elementos que se integram por relação aditiva para compor um sintagma substantivo. Na segunda frase, temos uma enumeração em que adjetivos se integram em relação aditiva para compor um sintagma adjetivo. No terceiro exemplo, temos uma relação alternativa e no quarto exemplo temos a formação de um sintagma substantivo preposicionado composto.

As características básicas das conexões de sintagma são as seguintes:

  • Os itens se intercalam com sintagmas conectivos, incluindo o morfema pausa, podendo formar cadeias longas.
  • As relações entre os elementos podem ser aditivas (tipo e) ou alternativas (tipo ou), mas não ocorre mescla de relações. Por conseqüência, são conexões amplas e comutativas.
  • Tanto as relações aditivas como as alternativas podem ser negativas.
  • Admitem conexão: sintagmas substantivos (SS), sintagmas substantivos preposicionados (SSp) e sintagmas adjetivos (SAdj) e, por conseqüência, sujeito (Suj), objeto direto (OD) e objeto indireto (OI).

As conexões de sintagma são logicamente semelhantes às de frase. A diferença mais marcante entre as duas está no maior número de possibilidades semânticas que as conexões de frase apresentam. Enquanto as conexões de sintagma se limitam às relações aditiva e alternativa, as conexões de frase admitem vários outros tipos de relação semântica como adversativa, implicativa, temporal, condicional, etc.

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Um comentário em “Conexão sintática

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