Legibilidade

A leitura é um ato de percepção, tradução, decifração e compreensão. Percepção de signos visuais, de uma ordem espacial e da diagramação. Tradução, pois na leitura é feita a permuta de um código visual para um código linguístico. Decifração porque envolve o reconhecimento do signo. Compreensão porque, uma vez decifrado o signo, extrai-se dele a mensagem. Legibilidade é a qualidade da comunicação otimizada para a produtividade da leitura.

Qualificação do leitor

Consideremos dois tipos de leitor: um que chamaremos de qualificado e o outro, desqualificado. O leitor qualificado tem grande inteligência verbal, alta competência gramatical e lexical, está habituado a leituras. Enquanto lê, sua atenção pouco se volta para a decifração, tem método e disciplina ao ler.

O leitor desqualificado tem pouca inteligência verbal, domínio insuficiente do léxico e da gramática, pequena experiência de leituras e maus hábitos ao ler. Assim, quando falamos em legibilidade convém citar de que nível de leitor tratamos. Um texto ilegível ao leitor desqualificado pode não o ser para o qualificado.

Decifratória e automática

A leitura decifratória é aquela em que a atenção e o esforço do leitor se dissipam principalmente na decifração. É típica de indivíduos que estão se familiarizando com o código como os que estão sendo alfabetizados ou aprendendo uma segunda língua. Esta dificuldade não ocorre somente entre leitores desqualificados. Fatores externos à leitura podem tornar o texto ilegível criando dificuldades mesmo para o leitor qualificado. A leitura silábica é um caso extremo da leitura decifratória.

Automática: é aquela em que se emprega pequeno esforço na decifração. Supõe leitor qualificado e texto otimizado para a leitura.

Vocal e mental

A leitura vocal pode ir de sua forma mais apurada à recitação com esmeros de entoação e até o murmúrio entre dentes. A leitura mental pode simular uma recitação a plena voz ou se afastar disso rumo a uma leitura mais rápida que foge da entoação.

Fonológica e ideogrâmica

A leitura fonológica, praticada tanto verbal como mentalmente, é a tradução de um código visual para um código acústico. O signo visual é convertido em fonema, palavra, frase.

Na leitura ideogrâmica ou visual, o signo visual, que é grafemático, é captado como signo visual remetendo ao significado sem a passagem pelo linguístico. É assunto para experimentação determinar a possibilidade de leituras integralmente visuais, a partir de signos grafemáticos. A leitura ideogrâmica é típica do leitor qualificado, que a pratica associada à leitura fonológica tendendo mais para uma ou para outra dependendo da situação. Na leitura ideogrâmica a tendência é de velocidades de leitura maiores.

Integral e seletiva

A leitura integral é feita palavra por palavra, linha a linha, sem qualquer pretensão. Contrariamente, na leitura seletiva o leitor tem objetivos previamente estabelecidos, como encontrar palavras-chave e elementos de seu interesse. Apos a busca ele realiza a leitura integral.

Leitura produtiva

A leitura produtiva é rápida, com boa compreensão, dispensa releituras. Para isto acontecer há fatores relacionados à leitura e fatores externos a ele. Começaremos com os inerentes ao ato. Fatores que influenciam a produtividade da leitura:

  • Fisiológicos: acuidade visual.
  • Psicológicos: atenção, motivação, estado emocional, tendência à réplica, bloqueios psicológicos.
  • Intelectuais: divagação, preconceitos, egocentrismo, atitude crítica.
  • Ambientais: iluminação, conforto, ausência de ruídos.
  • Metodológicos: abrangência da zona nítida, automatismo, mentalização, leitura visual, leitura seletiva.

A zona nítida corresponde à região do campo visual captada pela fóvea do olho. Embora muito pequena em relação ao campo total da visão, é a região mais nítida do campo visual. Certos leitores conseguem enquadrar mais grafemas na zona nítida, numa mesma fixação dos olhos, que outros. Esses leitores obtêm velocidades de leitura maior. Se eles chegam a isto pelo treinamento ou pela natureza da visão que possuem é matéria para a fisiologia da visão.

Um maior automatismo aumenta a velocidade da leitura. Primeiro porque não se perde tempo com a decifração consciente, depois porque a atenção não se dissipa diante da lentidão da entrada de signos. O automatismo melhora com o treinamento e com a competência linguística. É de se cogitar se depende de fatores como a inteligência verbal ou outras aptidões pessoais.

  • A leitura mentalizada tende a ser mais veloz que a vocal porque nela é possível ignorar apuros de entoação, abstraindo tudo o que na entoação reduz a velocidade.
  • A leitura visual é mais rápida que a fonológica. Em princípio, a interiorização de um signo visual é mais rápida que o tempo para a elocução da palavra que o designa.
  • A leitura seletiva é mais rápida que a integral, óbvio. Desde que se aceite uma pela outra, com a consequente perda de compreensão envolvida, a leitura seletiva é mais produtiva.

A leitura mais produtiva ocorre quando os fatores externos que influenciam a leitura estão otimizados, quando o leitor é qualificado para o nível do texto, sua acuidade visual é boa, está atento, motivado, tranqüilo, sem tendência à réplica, sem bloqueio psicológico contra a leitura em si ou ao assunto do texto, não divaga, não se fecha em si, controla o ímpeto à crítica, a abrangência da zona nítida é máxima, sua leitura é automática, mentalizada, tende para o visual, é seletiva.

Quando sacrificar a produtividade

Nem sempre a leitura mais rápida é a ideal. Para textos sugestivos, talvez o melhor seja divagar. Outros textos devem ser lidos com visão crítica nem que isto signifique interromper a leitura em vários pontos. A leitura visual não é a ideal para textos dramáticos e poéticos em que a máxima fruição se dá quando são recitados. Outros textos são melhor aproveitados com leitura integral. Um romance policial, por exemplo, só é lúdico se lido página a página e não apenas no ponto em que se desvenda a identidade do criminoso.

Legibilidade de edição

A legibilidade de edição envolve fatores externos à leitura que otimizam a produtividade no nível gráfico. Casos de má legibilidade de edição:

Ligados à decifração

  • Mistura de tipos de letras.
  • Adornos que escondem o traço básico do grafema (camuflagem).
  • Tipos bojudos, ou seja, aqueles em que a área dos vazados e das reentrâncias é mínima em relação à área do tipo.
  • Tipos esguios, ou seja, aqueles em que há desproporção entre medidas ortogonais entre si.
  • Tipos de traço fino.
  • Letras amontoadas ou encostadas.
  • Terminar a linha no meio da sílaba, da palavra da locução ou da frase.
  • Baixo contraste de cor entre letra e fundo (camuflagem).
  • Fundo carregado de informação.
  • Alteração do traço básico do grafema (estilização).
  • Suprimir contornos da letra (camuflagem)
  • Baixa resolução (camuflagem).
  • Seqüências de letras com padrões semelhantes.
  • Corpo da letra carregado de informação (camuflagem).
  • Abreviaturas.
  • Números altos em notação decimal.

Ligados à recepção

  • Tamanho reduzido dos grafemas.
  • Palavras que não cabem dentro da zona nítida da visão.
  • Letras afastadas.
  • Linhas inclinadas, onduladas ou oblíquas.
  • Escrita vertical.
  • Falta de alinhamento na margem esquerda.
  • Variações de tamanho das letras em uma mesma linha.
  • Letras desalinhadas.
  • Siglas que não podem ser lidas como palavras.

Categorias retóricas

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