Para que serve um caderno de caligrafia?

Já é possível ver alunos brasileiros assistindo aula com notebook sobre a carteira. Alguns deles são felizardos com renda familiar para tanto. Outros são alunos que participam de programas de governo. Esses alunos são resistentes à escrita manual. Dizem que teclar é mais prático, mais organizado, mais moderno. Uma parte dos professores acha que independente dos avanços tecnológicos, escrever à mão é importante. Não dá para contar com o computador em todas as situações, dizem.

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Estamos em um período de transição das tecnologias de escrita e ainda é cedo para dizer se a escrita manual vai se tornar obsoleta, mas essa conversa me fez lembrar de outra habilidade: a de produzir fogo sem recorrer a fósforos ou isqueiro. Nossos antepassados que moravam em cavernas dominavam bem essa técnica que hoje só é conhecida por poucos especialistas como escoteiros e militares. No tempo das cavernas, ninguém pensava que fosse possível sobreviver sem saber acender uma fogueira a partir de madeira seca. Atualmente, se você sair por aí dizendo que essa habilidade é importante vai ser chamado de tongo.

Tenho a impressão que a habilidade para a escrita manual logo estará empalhada no museu das técnicas obsoletas. Em uma geração a tecnologia da escrita vai ser reescrita. Para ser sincero, não estou preocupado com o destino dos cadernos de caligrafia. Ao longo da história tantas habilidades foram ultrapassadas. Quantos sabem se expressar com pena e tinta nanquim na atualidade?

Não se descabelem, saudosistas das belas formas curvilíneas dos calígrafos exímios. Outras habilidades mais urgentes vos esperam. Digitar com dez dedos sem olhar para o teclado, por exemplo. Bem, talvez nem isso seja necessário no futuro próximo repleto de computadores comandados por voz.

Prova de caligrafia para quem usa teclado

Estou desaprendendo a escrita manual. Quando escrevo à caneta parece que minha mão não me obedece mais. Minha letra nunca foi uma maravilha e agora está se tornando mais e mais garranchosa. O pior é que escrevo o tempo todo no trabalho e em casa. Como uso o teclado para redigir 99% dos meus textos, lentamente estou perdendo a habilidade para a caligrafia. Essa constatação me ajuda a refletir sobre alguns estudos surgidos recentemente sobre o potencial do computador para estimular o aprendizado. Tanto no Brasil como no exterior, esses estudos revelam que o uso do computador não melhora o desempenho dos alunos em avaliações como a Prova Brasil, aplicada nos alunos do Ensino Fundamental. Pelo contrário, indicam que o uso regular do computador está associado a uma queda no desempenho dos alunos nessas provas.

Uma leitura apressada desses estudos poderia nos levar à conclusão de que o computador prejudica o aprendizado e que seria melhor bani-lo da escola e do quarto dos estudantes. A minha letra garranchosa, entretanto, me leva à outra conclusão. Que valor vai ter no futuro uma caligrafia primorosa? Estou imaginando um mundo em que há teclados por todos os lados, além de computadores comandados por voz. As provas que avaliam o aprendizado dos alunos estão avaliando as competências corretas para o mundo de hoje? Com o computador, os alunos aprendem menos ou aprendem coisas que não se ensinava antes? Talvez essas provas estejam avaliando a caligrafia de alunos que são hábeis apenas em digitação.

Reflexões

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2 pensou em “Para que serve um caderno de caligrafia?

  1. Saudações, Radamés.

    Essa é uma perspectiva interessante, já pensei mesmo em substituir as folhas-soltas por um notebook. Há, entretanto, outra perspectiva relevante: qual o benefício prático (?…) em obrigar os alunos a escreverem quanto à eficiência de ensino? Se fossem aplicados métodos de ensino sem a necessidade de transcrições regulares, haveriam progressos notáveis.

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