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As poucas araucárias

A araucária é uma árvore majestosa e fotogênica que já dominou a paisagem no sul do Brasil, mas está ameaçada de extinção. Seu perfil elegante e sua copa em forma de cálice se formam porque ela se ergue acima das demais árvores na busca pela luz do sol. O estado do Paraná já foi conhecido como terra dos pinheirais pela abundância de araucárias. Infelizmente, a exploração predatória reduziu a nível crítico os exemplares da árvore símbolo do estado. Atualmente, está mais fácil ver araucárias nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Andando pelas estradas rurais do Paraná encontro poucas araucárias isoladas em meio às plantações. Esses exemplares solitários rendem boas fotos pela combinação da imponência do pinheiro com as curvas e texturas suaves das plantações. O efeito plástico dessa combinação é inegável, mas o registro dessa beleza serve também como alerta para o risco que paira sobre o futuro das araucárias. Gosto de fotografar araucárias mesmo que elas estejam em uma paisagem fortemente modificada pelo homem, que é a condição mais fácil de encontrar ou, de preferência, quando elas se encontram em áreas relativamente preservadas que nos remetem a uma época de poucas décadas atrás em que elas eram abundantes nas terras do Sul.

 

Temos que encontrar uma forma de preservar a araucaria angustifolia para as futuras gerações. Atualmente, não é permitido derrubar essas árvores cobiçadas pela sua madeira que não é de lei, mas bastante útil na construção civil. A proteção legal das araucárias remanescentes, porém, tem um efeito colateral perverso. Os proprietários de terra estão destruindo as mudas de araucárias que surgem, pois não querem que novas árvores se formem e, com isso, prejudiquem a exploração comercial do terreno. Como de costume, a legislação ambiental no Brasil pune quem tem capital ecológico a preservar e isenta de qualquer compromisso quem devastou no passado. Com essa realidade, a renovação da população de araucárias fica comprometida pelo envelhecimento dos exemplares. Outro problema é a coleta precoce das pinhas para venda do pinhão, semente da araucária. O pinhão é apreciado na culinária local, mas se a pinha é colhida antes do tempo certo, não ocorre o trabalho dos pássaros que disseminam as sementes e garantem a continuidade da espécie.

Fotografar araucárias é uma paixão que tenho. Sem contar a beleza dessa árvore única, os cliques podem chamar a atenção para o risco que essa espécie corre, além de me situar em uma tradição paranaense de retratar esse símbolo do Paraná e do Sul do Brasil.

 

Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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