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Yes, nós temos viaduto estaiado

Os fotógrafos (inclusive eu) ganharam um novo marco visual curitibano para apontar suas lentes: o viaduto estaiado sobre a Avenida das Torres. Ainda sem nome oficial, o viaduto na Rua Coronel Francisco H. dos Santos está liberado para circulação de veículos e vem causando polêmica. Com 225m de extensão e um mastro de 74 metros de altura, o número que mais impressiona nessa obra é o seu custo: R$ 112 milhões (até agora). É como se cada um dos 1,9 milhão de curitibanos desembolsasse R$ 59,00 para ver a obra concluída. Tudo bem, o viaduto vai encantar os turistas que passarem por baixo dele no trajeto aeroporto-centro ao chegarem à cidade para a Copa, além dos curitibanos da gema (como eu) que poderão postar fotos do arrojado viaduto no Facebook.

 

O primeiro viaduto estaiado curitibano desafoga o trânsito em um ponto bastante congestionado até então, mas ouso pensar que resolver os problemas de trânsito com viadutos e trincheiras é coisa do velho Século XX. Como diria o ex-prefeito de Curitiba e urbanista renomado Jaime Lerner, viadutos apenas ligam um congestionamento a outro. Curitiba é a capital mais motorizada do Brasil. Temos um carro para cada dois habitantes. O desafio é fazer com que esses carros fiquem na garagem e que a população circule a pé, de bicicleta ou de transporte público. O nosso transporte coletivo é uma referência nacional, mas quem o conhece no dia-a-dia sabe que está longe de ser nossa melhor opção para circular.
Agora temos um viaduto estiloso de linhas arrojadas que rende boas fotos e que pode se tornar o mais novo marco visual curitibano. Marcos visuais são bons para o turismo e, pensando bem, boa parte dos marcos visuais pelo mundo afora têm características em comum com o viaduto estaiado: custo astronômico, utilidade duvidosa e manutenção cara. Duvidam? Pensem na Torre Eifel, Estátua da Liberdade, Taj Mahal e nas pirâmides do Egito. No caso do viaduto estaiado ainda temos um agravante: o entorno da obra é de uma aridez provinciana que só gera ruído nas fotos. Gosto de marcos visuais que cumprem uma função social como a Ópera de Sidney ou o Museu Guggenheim de Bilbao e aqui mesmo em Curitiba temos um bom exemplo no Jardim Botânico de Curitiba.
Em vez do viaduto estaiado deveriam ter construído uma obra convencional bem mais barata? Deveriam ter gasto essa dinheirama para expandir a malha de ciclovias para a cidade inteira? O custo da obra poderia ser mais baixo com uma gestão austera do dinheiro público? Como se não bastassem as polêmicas que cruzam o viaduto sem parar, ainda temos um projeto na câmara de vereadores que prevê a concessão do futuro nome da obra à inciativa privada. Fiquem tranquilos ó conservadores curitibanos recatados: não poderão disputar o nome empresas do ramo de fumo e bebidas alcoólicas.

 

Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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