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Dimensões da alimentação

Entenda dimensão como um conjunto de princípios, fatores e regras que influenciam em nossa alimentação. A alimentação humana é regulada por várias dimensões. Com frequência, essas dimensões colidem entre si e é muito difícil encontrar uma receita que atenda várias dimensões simultaneamente.As dimensões que vamos analisar são:

Econômica.
Nutricional.
Gastronômica.
Cultural.
Ecológica.
Conveniência.
Afetiva.
Técnica.

Econômica

Escolhemos alimentos baseando-nos nos preços e estes variam devido a sazonalidade, disponibilidade dos ingredientes, flutuações de mercado, condições climáticas etc. Exceto para os muito afortunados, o valor da alimentação importa e determina hábitos de consumo. É a dimensão que mais colide com as demais. Realmente, é difícil se alimentar gastando pouco e ao mesmo tempo ter excelência nutritiva, gastronômica, conveniência, etc.

Nutricional

Comida nutritiva e saudável é o que o bom senso manda. Nem todos prestam atenção à dimensão nutricional. Para piorar, no dia a dia somos bombardeados com dicas folclóricas e sem fundamento científico sobre o que comer e não comer. A dimensão nutricional costuma colidir com a da conveniência, às vezes nos obriga a sacrificar a dimensão gastronômica e nos obriga a gastar mais para comer. Infelizmente, alguns deslumbrados da dimensão nutricional adotam uma postura elitista e acham que todos podem substituir porco por salmão.

Gastronômica

Quem não quer comida gostosa, bem feita, vistosa e cheirosa? Todos querem, mas convenhamos, é preciso educar o gosto para alcançar refinamento quando o assunto é comida. É a dimensão favorita dos bon vivants, dos adeptos da alimentação gourmet. Como regra geral, comer bem custa caro e às vezes tem que abrir mão de valor nutritivo, conveniência e meio ambiente. A dimensão gastronômica costuma conversar bem com a dimensão cultural.

Cultural

A dimensão cultural é a mais antiga. Nossa alimentação é regulada por tradições nacionais, influências étnicas, religião, moda e atualmente, por ideologia. De fato, a alimentação é uma das áreas mais reguladas entre as atividades humanas. A culinária étnica é muito apreciada nesses tempos multiculturais. Dietas da moda se sucedem a cada estação. São típicas da dimensão cultural as restrições alimentares. Muçulmanos não comem carne de porco, certas religiões hindus não admitem o consumo de carne etc. Poucos prestam atenção nas pressões ideológicas na alimentação. É o caso dos críticos dos alimentos industrializados associando-os à ganância capitalista. Nem sempre a dimensão cultural conversa bem com as dimensões econômica, nutricional e ambiental.

Ecológica

A dimensão ecológica vem ganhando relevância em tempos recentes. Ambientalistas pressionam pela produção de alimentos de baixo impacto, com baixo consumo de energia, produção local, sem pesticidas, orgânicos etc. O limite da alimentação ambientalmente correta é o preço e questões nutricionais. É comum o ambientalista preferir uma alimentação vegetariana ou vegana e aqui temos uma mistura com a dimensão cultural.

Conveniência

A dimensão da conveniência, da comodidade e praticidade é a mais apreciada pelo público geral. Realmente, a maioria quer uma alimentação que não dá trabalho, que basta desembalar e consumir. Infelizmente, há um preço a pagar pela comida conveniente dos produtos prontos, dos fast-foods, aquela alimentação que sua avó chamava de comer porcarias. E o preço é salgado. Comida de conveniência costuma ser cara. Nutricionistas a criticam pelo valor nutritivo mais baixo e por riscos à saúde. Conhecedores da boa culinária vão dizer que é de mau gosto, infantil, sem complexidade.

A indústria alimentícia investe pesado em comida conveniente e é acusada de usar ingredientes mais econômicos que as formas tradicionais de produzir. Mas antes de demonizar a comida industrializada conveniente é bom lembrar que nem todos tem tempo, dinheiro e perícia para fazer comida em casa. Ok, muitos tem preguiça mesmo, mas a comida conveniente não é um problema se consumida com moderação. Quanto aos excessos de sal, açúcar e gorduras isso tem mais a ver com o gosto popular que precisa ser educado.

Afetiva

Temos uma relação afetiva, emocional com certos alimentos por que nos trazem lembranças da infância, de pessoas, de lugares onde estivemos. A dimensão afetiva é individual, mas se conecta com a dimensão cultural. A macarronada de domingo na casa da avó italiana é uma lembrança emotiva para muitos.

Técnica

A produção de alimentos tem a dimensão técnica. Os métodos podem ser ancestrais, artesanais, caseiros, industriais ou altamente tecnológicas. Existe até um ramo da alta gastronomia especializado em comida tecnológica, de astronauta. Certos alimentos não podem ser produzidos em modo caseiro, pois demandam equipamento especial.

As curiosas dietas da sociedade moderna

Encontramos incontáveis dietas na sociedade contemporânea. Muitas são folclóricas, outras parecem científicas, mas são puro xamanismo nutricional. Algumas das mais comuns são:

Saudável. Focada em cuidados com a saúde. Valoriza o alimento nutritivo e saudável. Dieta indicada pela maioria das nutricionistas.
Conveniente. Baseada em alimentos industrializados quase prontos para consumo, franquias, delivery e outras fontes convenientes.
Vegana. Sem ingredientes de origem animal em qualquer etapa de produção.
Vegetariana. Alguns ingredientes de origem animal são aceitos como ovos e leite.
Ecológica. Prioriza soluções que preservam o meio ambiente como evitar carne bovina e preferir produção orgânica.
Natural. Envolve uma idealização de busca de alimentos direto da natureza, geralmente privilegiando low tech e comida tradicional simples.
Tradicionalista. Busca raízes étnicas, métodos tradicionais, low tech.
Diet e light. Atende necessidades específicas de obesos, diabéticos, celíacos, etc.
Gourmet. Valoriza a sofisticação dos ingredientes e do preparo. Normalmente, parte da receita básica e substitui ingredientes e técnicas por versões mais sofisticadas.
High tech. Soluções avançadas de preparo, adepta de métodos ‘tecnológicos’ como desidratação, liofilização, etc. Comida de astronauta.

Mandamentos da dieta saudável

O que é dieta saudável, aquela recomendada pelas nutricionistas? Difícil de explicar, mas coloco aqui algumas regras que fui anotando com o tempo e creio seriam aprovadas por qualquer profissional de nutrição.

Moderação. Comer o suficiente para se manter no peso ideal.
Variedade. Alimentação variada garante a ingestão equilibrada dos nutrientes que precisamos..
Micronutrientes. Consumir alimentos ricos em micronutrientes como frutas e verduras.
Fibras. Ingerir alimentos ricos em fibras para o bom funcionamento do intestino.
Sal. Evitar o sódio para não ter hipertensão.
Açúcar. Evitar açúcares para não ter diabetes.
Gordura. Evitar gorduras saturadas e trans por causa das doenças cardíacas.
Perda de valor. Evitar processamentos que reduzem valor nutritivo como longos cozimentos, frituras, etc.
Digestão lenta.Evitar alimentos de assimilação rápida como farinhas brancas trocando-as por opções que dão saciedade como farinhas integrais.
Alimentos sob suspeita. Evitar ingredientes que estudiosos apontam como prejudiciais à saúde como defumados e certos aditivos químicos. Mesmo que muitos estudos nessa área sejam inconclusivos, melhor prevenir-se.

As três fases da alimentação na vida

Para muitas pessoas, inclusive eu, há três fases da vida bem distintas na relação com a comida. São elas:

Descontrole. Fase da juventude em que você come cheese salada às onze horas da noite e depois dorme como uma pedra. Sem preocupação com pós brancos (açúcar e álcool). Parece que o estômago é um triturador, nada faz mal e você mantém a forma apesar da dieta ruim.
Moderação. Fase da meia idade em que você começa a prestar atenção em dicas de nutricionista, olha a tabela nutricional do produto, começa a moderar no sódio, açúcar e gorduras.
Restrição. Normalmente, ocorre na última idade e a moderação já não é suficiente. Tem que começar a restringir o consumo de várias substâncias, prestar atenção nos sinais do corpo e fazer exames periódicos para ver níveis de pressão, glicemia, colesterol etc.