Não sei bem o que é, mas vou dar a minha versão. Minimalismo é uma filosofia prática, orientada para a conduta cotidiana. De certa forma, é uma reação ao modo de vida adotado por muitas pessoas, inclusive eu no passado, a um estilo de vida consumista que tem gerado mais frustração do que bem-estar e que se não for deixado de lado nos levará ao colapso pelo esgotamento dos recursos naturais.
Para mim, a visão de mundo de cada um é condicionada pela sua experiência de vida e, por isso, deixem-me partir de um exemplo familiar. Meu avô Lourenço era sapateiro, ganhou a vida consertando sapatos. Embora ainda existam alguns sapateiros por aí, a maioria das pessoas atualmente prefere descartar os sapatos gastos em vez de consertá-los.
Além disso, mantêm uma coleção de sapatos muito maior do que precisam para viver. Minhas avós e minha mãe tinham máquina de costura em casa, sabiam usá-la e faziam reparos nas roupas da família até onde dava. Meu pai nunca teve carro, não sabia dirigir e viveu bem até os 86 anos.
Ora, meus antepassados eram minimalistas. Não desperdiçavam nada e usavam seus poucos bens até o fim. Não era uma questão de escolha, mas de necessidade. Hoje, os avanços tecnológicos e de produtividade permitem às pessoas levar um estilo de vida menos espartano, o que pode levar ao acúmulo desnecessário de bens.
A questão é que as ditas facilidades da vida moderna geram efeitos colaterais. As casas se encheram de coisas, recebemos mais informação e estímulos do que podemos processar e isso não está gerando felicidade, pelo contrário, está produzindo angústia e preocupação.
O minimalismo surge, então, como uma forma de combater a sobrecarga de consumo que está corroendo a nossa qualidade de vida e ameaçando nossa existência no planeta. Minimalismo é a arte de viver com o necessário, abrindo espaço à valorização das experiências e dos relacionamentos em vez da busca insaciável por mais consumo, bens e informação.
De forma sintética minimalismo é:
Não há uma fórmula para o minimalismo. Cada um na sua experiência individual vai moldar seu minimalismo. Eu estou nesse caminho e pretendo aprofundá-lo sem cair no radicalismo, pois como dizia Aristóteles: a virtude está no meio.
Não considero o minimalismo uma filosofia de velhos; tem muito jovem aderindo a essa tendência; mas é claro que a experiência e uma casa cheia de tranqueiras acumuladas ao longo da vida deixam as pessoas maduras mais suscetíveis a esse estilo de vida.
Raramente alguém nasce minimalista ou é educado pela visão minimalista. O normal atualmente é a pessoa tornar-se minimalista. E não há idade ideal para isso acontecer. Os jovens de hoje estão mais suscetíveis ao minimalismo porque como é típico dos jovens reagem a uma situação degradada que recebem das gerações mais velhas. Os jovens têm visão crítica em relação ao consumismo e grandes preocupações ambientais. As pessoas maduras, por sua vez, sentem a necessidade de mudar velhos hábitos pela melhoria da qualidade de vida.
Aí entra a palavra chave para o sucesso do minimalismo: desapego. Para deixar um estilo de vida para trás onde o normal é ostentar, acumular e estocar o desapego é fundamental. Acredito que a necessidade de acumular vem de um instinto primitivo de sobrevivência. Mas convenhamos, a vida moderna está organizada de tal forma que hoje ninguém precisa se precaver para o inverno enchendo a caverna com alimentos.
O desapego é um exercício doloroso. Você precisa se desligar de coisas que lhe custaram esforço para adquirir, que lhe trazem segurança e recordações. É preciso rebater frases como: “posso precisar disso um dia” ou “mais vale uma mídia na mão do que duas na nuvem”.
Não sei por que eu me considerava minimalista antes de se começar a falar no assunto. Sempre gostei de ambientes clean, de conseguir resultados com poucos recursos. Quando parti para uma postura minimalista mais ativa, porém, percebi que estava longe do que se considera ideal para os dias atuais. Foi preciso desapego para me livrar de uma série de bens que estavam entulhando a minha casa. Sim, parece que tudo pode ser útil um dia, mas na maioria dos casos esse dia não chega.
O batismo do minimalista é o destralhamento. Considerando que você não nasceu minimalista, mas quer tornar-se uma das primeiras coisas que deve fazer é se livrar do acúmulo de tranqueiras amealhadas ao longo de uma vida de consumismo despudorado.
Eu comecei a pensar em destralhamento quando tive que fazer a opção: comprar um segundo guarda roupas ou colocar menos coisas dentro do guarda roupa? Destralhamento não é uma coisa que você faz em uma tarde chuvosa. Leva tempo porque é preciso desapegar, decidir do que se desfazer e como se desfazer.
Mim gosta dinheiro, logo a primeira opção que eu considero na hora de me desfazer de um bem é vende-lo. Se não for possível vender aí penso na doação, pois se não é mais útil para mim pode ser útil para outra pessoa. E a terceira possibilidade é o descarte correto. Não tem mais conserto? Está muito gasto? Veja como enviar a tranqueira para a reciclagem adequada.
Vender > doar > descartar corretamente.
Destralháveis. Várias coisas devem estar ocupando espaço na sua casa e podem ser passadas adiante. Provavelmente roupas ficam no topo da lista, mas se lhe falta ideia sobre destralháveis vai uma lista:
Só para ilustrar, um “case” meu de destralhamento bem-sucedido. Eu tinha uma impressora matricial em perfeito estado guardada há mais de vinte anos. Faz muito tempo que não uso impressora. Aí fiquei sabendo que elas têm valor para alguns profissionais. Comprei um cabo, procurei o software, testei, anunciei e vendi em uma semana na Internet por bom preço. Um tatuador da Bahia está satisfeito com a velha impressora.
Tenho visto vídeos de evangelistas do minimalismo dizendo que é preciso se desvencilhar das coisas que não usa há mais de um ano. Beleza. É isso aí. Mas a minha sugestão é outra: use o sistema FIFO. Quem é da área de logística conhece bem a regra: FIFO first in, first out ou PEPS primeiro que entra, primeiro que sai.
Se você tem muitas camisetas no guarda-roupas faça uma pilha e use sempre a que está no topo. As camisetas lavadas devem voltar à pilha pela parte de baixo. Com essa regra simples você vai girar todas as suas camisetas por igual. Nenhuma vai ficar mofando no guarda-roupas. Agora se na hora de usar a camiseta que está no topo você hesitar, talvez seja o caso de vende-la no brechó ou doá-la.
É incrível como algumas pessoas seguem as boas práticas quando estão trabalhando, mas as ignoram quando estão em casa. O sistema FIFO é uma técnica clássica de gestão de estoques. Por que não usá-la na vida privada?
Eu dei risada quando um amigo me contou há tempos que usava o sistema PEPS no seu guarda-roupa, mas depois de matutar um pouco concluí que é uma ótima maneira de girar meus bens pessoais. Vale para roupas, comida, cosméticos, louça, mas também para mídias. Faça uma rotação de acesso aos sites de notícias, por exemplo. Você não ficará condicionado a um único ponto de vista.
Outra vantagem do sistema FIFO é que você percebe se o seu estoque está alto. Um minimalista não estoca mais do que precisa. Talvez, você não precise de tantas camisetas e chegue à conclusão que basta a quantidade suficiente para enfrentar uma semana chuvosa em que a roupa lavada não seca.
Lembra daquele tempo em que havia só uma mesa na casa? Nela todos faziam as refeições, as crianças faziam a lição da escola e os adultos se reuniam para jogar canastra. Tempos minimalistas que não voltam mais. Um objeto, várias funções. Isso é multifuncionalidade.
Um minimalista preza a multifuncionalidade, mas o mercado detesta e tenta nos empurrar soluções hiper especializadas como espaço gourmet, sala íntima, sala de mídias, etc. Não, você não precisa de dez tipos de facas, seis tipos de copos nem três tipos de parafusadeiras. Provavelmente, não precisa de parafusadeira.
Felizmente o pessoal da Informática pensa multi. Se você pesquisar por multifuncional na Internet vem aquele aparelho que escaneia, fotocopia e imprime. Três em um. Que aparelho mais multifuncional do que o smartphone? Ele vem com relógio, despertador, agenda, mapas, música, vídeo, etc.
Se você é candidato a minimalista deve fazer perguntas como: essa solução resolve quantos problemas meus? Dá para fazer com alguma coisa que já tenho? Não fique contente com aparelhos com menos funções do que um canivete suíço. Ah, e seja você em pessoa um ser multifuncional.
Vivemos na economia da atenção, ou seja, tem cada vez mais empresas disputando um bem precioso que é a sua atenção. Mantenha esse bem sob controle porque é seu. Tome as providências para que a sua atenção se volte apenas para o que realmente importa para você.
Menos apps. Quanto menos aplicativos você instalar no smartphone e no computador, melhor. Principalmente, aqueles que geram notificações, pois estes roubam sua atenção a qualquer momento sem cerimônia. Faça uma análise dos aplicativos instalados no seu dispositivo e remova sem dó os que não são essenciais. Lembre-se que aplicativos estão sempre se atualizando, consumindo dados, derrubando a performance do aparelho e, em muitos casos, importunando você desnecessariamente.
Menos e-mails. Para mim, o e-mail ainda é uma ferramenta importante de comunicação. Felizmente, meu serviço de e-mail é eficiente na eliminação de spam. Mesmo assim, a quantidade diária de e-mails que chegam é alta. Crie regras para colocar os e-mails não urgentes em pastas secundárias para você checar uma vez por dia apenas. Cancele as newsletters sem importância. Você só deve ser notificado dos e-mails que precisam de checagem imediata.
Menos grupos. Nem precisa dizer que certos grupos de Whatsapp e Facebook são um karma. Silencie os chatos e saia dos grupos que não agregam nada.
Menos notificações. Silencie as notificações de aplicativos de pouca importância. É melhor você tomar a iniciativa de checar o aplicativo quando estiver com tempo e interesse.
Faça uma limpa no seu smartphone e seja feliz. Caso você tenha uma crise de abstinência por causa disso bem … Houston we have a problem. Um minimalista prefere uma vida digital enxuta e com poucos estímulos. Nada como uma barra de notificações limpa que só pipoca para coisas importantes.
É fácil obter um cartão de pagamento, mas quase impossível cancelá-lo. A maioria das pessoas conhece essa verdade absoluta do mundo moderno, mesmo assim muitos acumulam meios de pagamento como se eles trouxessem riqueza e status. O resultado é previsível: custos altos de manutenção; dificuldade para controlar várias contas e o risco do endividamento.
O minimalismo deve se estender aos meios de pagamento: contas bancárias, cartões de crédito, cartões pré-pagos, aplicativos de pagamento, crédito rotativo de magazines, etc. Não sou radical a ponto de recomendar o escambo ou pagamento só em dinheiro vivo. No uso pessoal, por segurança e comodidade mantenho uma conta bancária com cartão múltiplo, ou seja, o mesmo cartão opera no débito ou crédito. Gostaria de me restringir ao débito, mas infelizmente em algumas situações o cartão de crédito ainda é necessário.
A grande integração atual dos serviços de pagamento nos dispensa de querer cartões de várias bandeiras ou contas em vários bancos como no passado. Também estão desaparecendo opções tradicionais de pagamento como o cheque, carnês de loja e o velho caderno de mercearia. Mantendo apenas uma conta bancária e, talvez, um cartão de crédito você consegue efetuar seus pagamentos com comodidade. Fica mais fácil de acompanhar os gastos e você economiza em taxas. Estou falando do nível pessoal; se você tem empresa talvez precise mais opções de pagamento.
Agora, quem ainda acha que ter uma carteira repleta de cartões é chique o minimalismo ainda não lhe tocou o coração. Certamente, não é o seu caso nobre leitor(a), pois se você chegou até aqui na leitura é porque falamos a mesma língua.
Confesso: sou do tempo das mídias físicas. Livro era de papel, música era no disco preto com um buraco no meio e filme era em fita magnética que precisava rebobinar. Para os mais jovens essa discussão sobre mídias físicas é meio fora da casinha, afinal eles sabem que tudo vem da nuvem, até a chuva. Mas deixe-me explicar: sou do tempo em que a editora publicava um livro e se você quisesse ler tinha que comprá-lo, caso contrário a edição se esgotaria e nova chance só dali uns anos quando lançassem nova edição. Em função disso acumulei livros, discos e filmes ao longo da vida. A minha prova de fogo do minimalismo foi me desapegar das mídias físicas. Ainda tenho muitas comigo, mas vendi cerca de um terço do meu acervo até agora e continuarei me desfazendo até reduzir o estoque às peças de consulta frequente ou com valor sentimental. Entendo que a hora de passar a minha midiateca adiante é agora, enquanto ainda existem pessoas interessadas em mídias físicas e que podem fazer bom uso de um bem que já cumpriu seu papel quando estava em minhas mãos.
Eu sei que alguns preferem ler em papel porque consideram a experiência sinestésica da mídia física superior. Outros cultuam os LPs porque a qualidade do som é melhor. E há quem se sinta mais seguro dispondo da mídia física do que contando com um esotérico acesso à nuvem. O problema é que estoque físico demanda espaço, móveis e manutenção. Felizmente, tenho me adaptado bem ao mundo das mídias digitais e entendo que se gasta menos assinando serviços do que adquirindo licenças físicas de obras. Não sei se no mundo do futuro tudo estará a um clique, mas já cheguei à conclusão de que mais importante do que ter um livro na estante é tê-lo lido na memória.
Por um bom tempo atuei profissionalmente no mundo digital e, por isso, tinha participação intensa em redes sociais. Nem precisa dizer que chegou uma hora que me vi na obrigação de fazer um destralhamento digital. Participar de redes sociais é quase uma necessidade da vida moderna, mas é preciso controlar a imersão nesse mundo para manter a saúde mental, poupar tempo e ganhar em qualidade de vida. Menos é mais também nos relacionamentos virtuais.
Algumas ideias para lidar com redes sociais em uma perspectiva minimalista:
Um minimalista usa redes sociais com avareza. Dessa forma, ganha mais tempo para as velhas redes analógicas da vida real. Também foge da cilada de caçar curtidas a qualquer custo. Reduzir as redes, reduzir as postagens, reduzir o tempo on-line, reduzir a dependência, reduzir.
Uma maneira prática de definir quais bens você deve manter na sua casa minimalista é estabelecer estoques mínimos. Funciona como a dinâmica das empresas modernas que reduzem ao mínimo os estoques e operam no modo just in time, ou seja, só adquirem o bem quando ele realmente vai ser usado.
Vou dar um exemplo pessoal. Perguntei a mim mesmo: quantos calcados eu preciso? E fiz uma lista.
Feita a lista verifiquei que tinha mais de cinco pares na prateleira. Tudo bem, não joguei fora o excesso, pois seria desperdício. Simplesmente vou usar o que tenho até o desgaste natural, mas na hora de ir às compras vou respeitar a regra do estoque mínimo. Um dia chegarei ao estoque ideal e dali em diante a ideia é só adquirir um bem novo para repor outro que ficou fora de combate.
A regra do estoque mínimo é importante principalmente para compras de supermercado. O Brasil é um dos países que mais desperdiça alimentos, justamente porque as pessoas fazem estoques além do que precisam e cozinham mais do que vão comer. Daí que muito alimento perecível se perde na despensa e na mesa. Manter apenas o estoque mínimo é uma questão de bom senso, de economia, de ecologia e de respeito.
Eu tinha dúvidas se algumas práticas do meu cotidiano colidiam com a filosofia minimalista. Tentarei resumir as principais na sequência.
Valor sentimental. tenho em casa alguns objetos de valor sentimental como a tesoura de alfaiate do meu pai, a máquina de escrever que eu usava décadas atrás e a máquina de costura de minha mãe. A tesoura do meu pai ainda tem utilidade cotidiana. Ela corta bem. A máquina de costura é usada como aparador de sala e a máquina de escrever decora a estante. Não creio que um minimalista precise se desfazer de seus velhos bens sentimentais, mas pode tentar dar a eles um uso reciclado. Preservar a história familiar é mais importante do que radicalizar no destralhamento. O problema é se tudo para você tem valor sentimental.
Objetos de decoração. Uma casa minimalista pode ter objetos de decoração? Na minha casa tenho quadros e vasos, por exemplo. O ideal como sempre é que os objetos passem mensagens como uma história de família ou de viagem. A quantidade reduzida de objetos valoriza o que você tem. Quantidade elevada dá trabalho, dispersa a atenção e fica feio.
Coleções. Minimalista pode colecionar? Já colecionei várias coisas na vida, sempre de forma meio caótica. Atualmente, mantenho apenas uma modesta coleção de cédulas antigas bem cuidada e bem organizada. Imagino que se a coleção abarrota a casa algo não está certo. Minha coleção quase não ocupa espaço nem tempo meu. Com ela aprendo alguma coisa sobre História e Economia. Coleção boa não lhe absorve demais e tem razão de ser.
Tecnologias obsoletas. As tecnologias estão se sucedendo em velocidade assustadora. Rapidamente, a casa começa a acumular bens de diferentes gerações tecnológicas. O problema é que manter tecnologias obsoletas costuma dar trabalho e custar caro. O ideal é tentar migrar para as tecnologias mais recentes tendo em vista que costumam ser mais práticas e convenientes.
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