Em sentido amplo, crase é a pronúncia contraída de dois fonemas iguais e adjacentes. Por exemplo: no enunciado seus sapatos temos dois fonemas /s/ adjacentes. A tendência do falante é realizar uma pronúncia contraída desses fonemas que, em muitos casos, chega aos ouvidos do receptor como um único fonema. O fenômeno da crase é muito comum na fala.
Basta que dois fonemas iguais ocorram adjacentes. Isso se dá com frequência nas fronteiras de palavras, quando o fonema final da primeira se repete no início da seguinte. Percebemos a crase em enunciados como:
Um dos princípios básicos de nossa ortografia é a segmentação do texto palavra a palavra, que parte da suposição que a realização oral do discurso se dá com pausas entre as palavras. Sabemos que isso não ocorre na fala cotidiana, mas há um princípio de produtividade aceitável em favor da prática da segmentação palavra a palavra na escrita.
Escrevemos supondo que a palavra é pronunciada isoladamente. Com isso, ganhamos uma maior uniformidade na escrita, evitando que a mesma palavra possa ser representada de formas diferentes dependendo do contexto em que é proferida. A consequência dessa convenção é que nossa escrita ignora o fenômeno da crase. No entanto, há um caso particular em que representamos a crase na escrita. Para isso, fazemos uso do acento grave.
Representamos a crase somente na contração da preposição a com o fonema /á/, se este formar o artigo feminino definido (a, as), ou o demonstrativo aquele e suas flexões (aqueles, aquela, aquelas, aquilo). Veja alguns exemplos:
A crase de dois fonemas /á/ é representada substituindo a+a por à, ou seja, pelo a com acento grave, ou craseado. Observe que a representação da crase não se estende a outros casos de contração de dois fonemas /á/ contíguos. Não é válido usar crase em situações como no exemplo a seguir:
O uso do acento grave costuma confundir até os redatores experientes. Isso acontece porque, devido às sutilezas de nossa estrutura gramatical, nem sempre é fácil identificar corretamente a contração a+a. Vamos analisar as frases a seguir.
As frases parecem similares, mas em uma temos contração e em outra, não. A palavra Brasília não é precedida por artigo em frases como a do exemplo. Já, a palavra Bahia ocorre precedida por artigo. Podemos perceber melhor a presença ou a ausência do artigo criando frases alternativas. Vamos fazer isso permutando a preposição a por até.
Essa aparente similaridade confunde os redatores. A dúvida aqui está em saber se o artigo está presente ou não e se temos contração. Em situações assim, o melhor é tentar gerar frases similares que nos deem uma ideia mais clara sobre a estrutura sintática da frase. Outra situação que costuma gerar dúvidas está exemplificada nas frases a seguir.
Aqui, a dúvida que pode surgir é quanto à presença da preposição a na estrutura das frases. Para tirar a dúvida, precisamos analisar a estrutura sintática. Fazendo isso, vamos perceber que na primeira frase, a palavra pergunta é objeto direto da frase (o que respondi), logo não temos preposição. Na segunda frase, a palavra diretoria forma o objeto indireto (a quem respondo), logo temos preposição.
Nesse exemplo, temos que observar em que sentido o verbo está sendo empregado. Assistirno sentido de cuidar, zelar, atender não é seguido de preposição, mas no sentido de acompanhar como espectador, será seguido de preposição.
Em muitos casos, a presença do artigo ou da preposição é opcional. O redator, nessas circunstâncias, fica livre para usar o acento grave ou não. Exemplo:
Podemos usar vários artifícios para analisar a estrutura da frase e assim determinar se usaremos crase ou não. Um deles é permutar o substantivo feminino que sucede a provável contração por um similar masculino. Com isso verificamos a presença do artigo feminino.
Se fazendo a permuta, tivermos que usar ao, então ocorre crase, pois temos preposição + artigo.
Outro artifício para verificar a presença do artigo feminino consiste em substituir a preposição a por outra de mesmo efeito.
Como se vê, a dificuldade não está precisamente no uso do a craseado, mas sim, em saber quando se usa a preposição a e o artigo definido feminino. Infelizmente, só o convívio com o idioma nos traz a fluência no uso de ambos e, consequentemente, do acento grave.
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Então no caso do verbo Dirigir, "Dirija-se a direita" ou "Dirija-se à direita" ?
Creio que o correto seja "Dirija-se à direita", correto ?