Categories: Recursos

Alegoria – figura de linguagem

A alegoria se assemelha à metáfora em muitos pontos. Poderia até ser considerada uma metáfora do tipo III. Resolvemos considerá-la isoladamente em função de sua relevância e particularidades.

Alegoria contextualizada

Intuitivamente, a alegoria contextualizada ocorre quando um enunciado passível de leitura imediata transmite um significado impróprio ou deslocado do contexto extra verbal em que é lançado, fazendo o receptor pensar num segundo enunciado apropriado ao contexto que tenha com o primeiro uma relação de similaridade.

Os ditados populares são alegorias contextualizadas:

  • Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
  • Mais vale um pássaro na mão que dois voando.
  • Casa de ferreiro, espeto de pau.

Os dois enunciados da alegoria, o substituto e o substituído, devem ser pertinentes a uma mesma classe de enunciado genérico. Os três elementos da alegoria contextualizada são:

  • enunciado alegórico ou substituto;
  • enunciado substituído;
  • enunciado genérico.

Um exemplo baseado num ditado popular: Imaginemos alguém se queixando para um amigo por não conseguir conquistar a amada. O outro lhe diz: ‘Água mole em …’

  • Enunciado alegórico: ‘Água mole em …’.
  • Enunciado substituído: ‘Não desista! Ela há de ceder’.
  • Enunciado genérico: ‘A perseverança quebra lentamente as resistências’.

Pode-se questionar se a decifração de uma alegoria contextualizada é o enunciado particular adequado ao contexto ou, se ao contrário, é o enunciado genérico. Ambos são pertinentes. Cada receptor adotará a solução que julgar mais conveniente.

Excelência da alegoria contextualizada

A alegoria será melhor quando:

  • o enunciado alegórico for mais característico que o enunciado geral;
  • o enunciado alegórico atenuar ou intensificar com mais eficácia que o enunciado substituído;
  • o enunciado for novo, criativo.

Alegoria não contextual

Consideremos o livro A Metamorfose, de Kafka. Numa certa manhã, o personagem Gregor Samsa acorda transformado num repulsivo inseto. Será que Kafka, gênio da literatura, pretendia exclusivamente contar uma pitoresca história de um homem transformado em inseto?

É provável que estejamos diante de um recurso literário, que também é recurso de Retórica, que consiste em dizer uma coisa querendo dizer outra. Neste caso, a situação é bem diversa da que ocorre na emissão das alegorias contextualizadas. Para a alegoria de Kafka não está determinado o contexto em que ela se aplica. É o leitor que deve, por sua conta e risco, definir o que substitui o enunciado alegórico kafkiano. Trata-se de uma alegoria com semântica aberta.

Figuras de linguagem (Recursos retóricos)

No meu canal no YouTube

Baixe a planilha grátis que conjuga todos os verbos do português.

Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

Share
Published by
Radamés

Recent Posts

Locativos

A classe dos locativos é fechada e compostas por palavras invariantes, não flexionadas. Comportam-se como…

55 anos ago

Artigo – classe morfológica

A classe dos artigos é fechada e formada, a rigor, por um único lexema que…

55 anos ago

Possessivos – classe morfológica

A classe dos possessivos é limítrofe. Poderia ser considerada como um caso especial da classe…

55 anos ago

Sintagmas da língua portuguesa

Os sintagmas são as unidades formais mínimas da sintaxe, ou seja, são as unidades que…

55 anos ago

Essa língua portuguesa!

A língua portuguesa não é para fracos. São tantos detalhes e exceções que resolvi fazer…

55 anos ago

Essa reforma ortográfica!

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrou em vigor no Brasil em 1º de janeiro…

55 anos ago