Como acontece com a metáfora, a leitura imediata de uma metonímia nos revela uma impertinência. O leitor tentará resolvê-la usando um algoritmo próprio para metonímias. Os elementos desse algoritmo são:
Decifrar a metonímia consiste em chegar ao termo substituído, ou seja, ao referente que atende à dupla condição de ocupar a posição do substituto e manter com este uma relação de contiguidade. A decifração depende do contexto e deve ser pertinente a ele.
Um exemplo: Leu Drummond.
As metonímias normalmente são classificadas pelo tipo de relação que vincula o substituído ao substituto. Alguns casos notáveis:
Se apresentarmos alguns exemplos do que se entende por metonímia para uma pessoa que nunca estudou Retórica não será difícil, dali por diante, que ela identifique outras ocorrências de metonímia que lhe sejam apresentadas. É simples reconhecer intuitivamente uma metonímia, mas é muito difícil dar a ela uma definição compreensiva. Essa dificuldade decorre de questões como:
A parte pelo todo. Dizer que uma metonímia se forma permutando a parte pelo todo é uma informação relevante mas não suficiente para gerar metonímias adequadas pois nem toda parte que substitui o todo produz o efeito desejado. Exemplo: Após o incêndio ficou sem casa. Este enunciado pode ser substituído por uma metonímia: Ficou sem teto. Se a escolha da parte fosse arbitrária, poderíamos obter boas metonímias dizendo: Ficou sem janela ou Ficou sem parede ou Ficou sem soalho. Mas não é o que acontece. É comum ouvirmos: Leu Aristóteles, Hoje, concerto. No programa: Stravinski. Mas já não se ouve: Queimou uma Edison no lugar de Queimou uma lâmpada embora lâmpada/Edison gozem da mesma relação obra/autor que existe nas metonímias válidas.
Também não se diz Amputou um dedo no lugar de Amputou uma mão embora a relação dedo/mão seja do tipo parte/todo. Para a metonímia ser bem-sucedida algumas condições a mais precisam ser observadas.
Observando uma boa amostragem de metonímias podemos induzir alguns tipos como: parte/todo, continente/conteúdo, obra/autor, etc. Cada tipo apresenta peculiaridades e é razoavelmente distinto dos demais, o que dificulta a redução da disparidade. Na metonímia triste madrugada há uma tradução bem diversa da metonímia um quilo de batatas. Na primeira temos uma personificação, e na segunda, uma equivalência de quantidades.
Em princípio, no enunciado metonímico o substituto equivale em significação ao substituído. Só em princípio, pois, boa parte das metonímias não se sobrepõe perfeitamente em significado às suas decifrações.
Analisemos o seguinte exemplo:
O primeiro enunciado é a decifração das duas metonímias que lhe seguem. São metonímias do tipo parte pelo todo. A metonímia que usa ‘primaveras’ é bem comum. A metonímia que usa invernos não é adequada para substituir a que usa primaveras. Quando usamos a metonímia das primaveras, o discurso ganha um acréscimo de significação que não teria se fosse usado o enunciado não metonímico.
Com a metonímia das primaveras a mensagem além de afirmar um fato dá um juízo de valor sobre o fato. A metonímia tem este potencial modificador da mensagem relativamente ao enunciado próprio.
A metonímia O Brasil todo está clamando não é equivalente por completo ao significado de Os brasileiros todos estão clamando. Nessa metonímia, o clamor se estende para além do seu sítio natural. Poderíamos dizer tratar-se de uma metonímia hiperbólica.
Alguns tipos de modificação notáveis que a metonímia pode operar:
Alguns casos de metonímia se assemelham à definição da metáfora. Exemplo: O homem foi à Lua. No exemplo encontramos a metonímia. O substituto é homem enquanto espécie e o substituído é alguns astronautas. Também é plausível considerar o enunciado como uma metáfora. ‘Homem’ é um conceito semelhante a alguns astronautas. Na verdade todas as características de homem são pertinentes a alguns astronautas. O que descarta o enquadramento do enunciado como metáfora é a falta da intenção de comparar.
Pela própria definição, a metonímia é um enunciado que pode ser substituído por um enunciado equivalente que admite leitura imediata.
Certos tipos de metonímia impuseram-se de tal modo que a forma não metonímica que os substitui nunca é usada. As metonímias do tipo continente-conteúdo são exemplo.
Quem haveria de usar as formas:
O enunciado um quilograma de carne é mais pitoresco. Um enunciado para substituir a metonímia seria: Quantidade de massa de carne idêntica à da massa do protótipo-padrão, armazenado no Bureau Internacional de Pesos e Medidas. É uma metonímia do tipo: número de unidades de medida por quantidade. O que seria da concisão sem a metonímia num caso como este?
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muiiiittoo legall rs
Conteúdo maravilhoso! gostei muito