O uso retórico da ordem é vasto. Há vários tipos de ordem a considerar.
É aquela que rege a emissão dos signos do discurso. No discurso oral é linear e temporal, ou seja, cada signo é emitido individualmente numa sequência ao longo do tempo. A exceção é a dos discursos orais sobrepostos, quando mais de uma mensagem é veiculada no mesmo lapso de tempo. Basta lembrar dos quartetos da ópera lírica ou da música coral.
No discurso escrito a ordem de emissão é espacial, visual, é uma ordem de edição. A ordem de emissão escrita é ditada pela convenção. Na escrita ocidental, por exemplo, convencionou-se que a escrita deve ser da esquerda para direita, de cima para baixo e as páginas devem ser viradas no sentido anti-horário. Esta convenção é consequência da linearidade do discurso linguístico. Romper ou não com as convenções é decisão para quem edita, que arcará com os benefícios ou prejuízos disto.
Uma decisão vital sobre ordem de edição é como distribuir na página partes do discurso segmentado. Esse problema é típico do jornalismo, que tem de encontrar a melhor solução para ordenar no espaço títulos, subtítulos, legendas, textos, etc.
É aquela que rege a interiorização do discurso. No discurso oral, essa ordem não está a critério de quem ouve, mas de quem emite. Na oralidade, a ordem de recepção coincide com a de emissão. Exceção se faz à liberdade do ouvinte para concentrar sua atenção num ou noutro discurso nos casos de sobreposição.
No discurso escrito, o leitor é quem decide a ordem de interiorização. Diante de uma página de jornal, o leitor selecionará de acordo com a sua vontade a ordem de leitura. Essa liberdade do leitor não é incontrolável nem arbitrária. Há recursos de Retórica para manipular sua vontade. É provável que um leitor comece a leitura pelo título, pelo corpo tipográfico maior ou pelo texto de menor extensão, seguindo as regras da atratividade.
Considerando conhecida a ordem de recepção, é possível pensar num outro nível de ordenação que admite duas possibilidades: pelo significante ou pelo significado.
É aquela em que a ordem das partes do discurso se estabelece a partir de características do significante. O caso mais notável é a ordem alfabética, uma ordenação pelos grafemas iniciais correspondentes do discurso.
São as que dizem respeito não ao significante, como as de emissão e recepção, mas ao significado. Algumas ordens temáticas importantes:
As ordens gradativas podem ser:
É aquela dos termos sintáticos do período, entendido este como grupo de termos sintáticos inter-relacionados. A ordem sintática é determinada: pela gramática, da qual resultam ordens gramaticais e agramaticais. As agramaticais podem ser ambíguas ou ininteligíveis; pela estilística: de que resultam ordens conformes ou não aos padrões estilísticos vigentes; pela Retórica.
A comunicabilidade da ordem sintática será maior na ordem direta, que facilita o processamento, pois, cada função sintática está onde normalmente deve estar, o determinante é contíguo ao determinado, não são interpolados apostos e sendo mais usual não drena atenção para o significante.
As partes do período sintático podem ser ordenadas em função da importância, impacto, prioridade ou outro critério que as organize numa escala de valor. A parte a que se atribui maior valor é o foco da frase. A avaliação é subjetiva. O que é foco para um pode não o ser para outro.
Para enfatizar o foco por meio da ordem sintática, deve-se ter em vista que as duas posições mais enfáticas são o começo e o final. O começo é preferível quando se deseja fixar a atenção do receptor de imediato com algo de impacto, que se sobressaia pela sua importância. É a solução típica do jornalismo. O final é a solução que se adota quando se pretende gerar expectativa.
O deslocamento do foco para uma posição enfática pode prejudicar a comunicabilidade do período. Em certos casos, para conciliar as duas pretensões: comunicabilidade e ênfase, é necessário recodificar o período, situando o foco numa função sintática que possa assumir posição enfática sem prejuízo da comunicabilidade.
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