Recentemente assisti em casa um daqueles filmes raros que vão fundo na alma do ser humano. Falo de O Lutador com Mickey Rourke e Marisa Tomei, que conta a história de um lutador decadente que por décadas atua em espetáculos de wrestling. Bem, não é do filme que vou falar neste post, mas da viagem sentimental que ele desencadeou em mim, por isso, senhoooooras e senhooooores, convido todos a lembrarem do INCRÍVEL, fooooormidável e i-nes-que-cí-vel TELECATCH INTERNACIONAL DE CURITIBA.
Na década de 1970 as transmissões via satélite eram pouco comuns e as emissoras de TV apostavam em produções locais. O Canal 12 de Curitiba apresentava nos sábados à noite seu programa de lutas livres. Era o maior sucesso. Lá em casa, a audiência do Telecatch era cativa. Ainda lembro de meu avô Lourenço tenso e indignado diante da TV preto e branco:
— Olha lá, olha lá. O Joia está esfregando limão no olho do Brasão e o juiz faz que não viu nada.
Havia uma ordem bem estabelecida no Telecatch. De um lado ficavam os lutadores do bem como Brasão, Mister Argentina e Bala de Prata. Esses eram os caras boa pinta que arrancavam suspiros das moçoilas. Do outro lado ficava a turma da pesada que desconhecia completamente o significado de palavras como caráter, honra ou regras.
Nessa turma de bad boys despontavam vilões como Metralha, Verdugo, Fantomas e Tigre Paraguaio. Meu vilão favorito era o performático Joia o Psicodélico que costumava roubar a cena nas lutas em que participava. Onde o cara encontrou inspiração para esse nome, hein?
As lutas eram narradas pela voz entusiasmada de Wilson Brustolin. Os juizes também eram de dois tipos: havia os íntegros e os ladrões que roubavam até da mãe para favorecer os vilões. Alguns céticos diziam que o telecatch era uma grande marmelada. Bem, se era ou não era jamais saberemos. O que eu vi com meus próprios olhos algumas vezes foi a vitória do vilão. Lembro de uma vez em que ocorreu um embate histórico e surpreendente.
Brasão, o galã do telecatch, por alguma razão nunca divulgada caiu em desgraça com os vilões que aplicaram uma camaçada de pau no campeão paranaense e o deixaram beijando a lona. Esses casos isolados, porém, eram exceção. Normalmente, o paladino do bem sofria um bocado, mas no final desencadeava uma reviravolta sensacional com direito às famosas tesouras voadoras. Quase sempre, o vilão era arremessado para fora do ringue juntamente com o juiz ladrão que o protegia.
As lutas livres na TV vieram dos espetáculos circenses. Pertencem a uma categoria quase extinta de diversão pública onde os espectadores eram levados a uma catarse absoluta. Tempos inocentes que não voltam mais. Por onde anda esse povo do telecatch? O famoso La Múmia nunca teve sua identidade revelada. Sempre lutava com bandagens cobrindo todo o corpo. Dizem que era da polícia e que teria chegado ao posto de Comandante Geral da Polícia Militar do Paraná.
O Big Boy entrou para a política e se elegeu vereador pelo PV. Contam que Joia o Psicodélico ainda sobe aos ringues de circos mambembes no interior do Paraná. Certamente, ele continua incendiando as plateias com suas bravatas. Será que esconde limões na cintura? Longa vida ao Psicodélico e que prossiga a velha luta do bem contra o mal.
Crédito de imagem: Paraná on-line
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