Viver em uma casa ecológica é o sonho de muita gente, mas o que define a casa ecológica? A condição essencial é que ela gere um impacto ambiental bem menor do que as casas “normais”. Quanto menor? É difícil dizer, pois não existe padrão para esse cálculo.
Na minha escala pessoal eu diria que uma redução de pelo menos um terço seria o mínimo aceitável. Ecologistas mais aguerridos, porém, sonham mais alto e acreditam que uma casa pode alcançar níveis muito baixos de impacto ambiental chegando em alguns quesitos ao impacto zero. Uma das formas de reduzir o dano ambiental de uma moradia é torna-la autônoma em vários aspectos como veremos a seguir:
Autonomia em água
Captar água da chuva para substituir parte do consumo de água da rede pública é uma prática que está se popularizando. O passo além seria dispensar totalmente a água da concessionária. Viver apenas com água de chuva é possível desde que haja algumas condições favoráveis como uma boa área de telhado para coletar a água e a ajuda de São Pedro para fornecer chuvas bem distribuídas.
A água de chuva pode se tornar potável se passar por um tratamento básico para purificá-la e desinfetá-la. Um dos gargalos desse modelo é a cisterna para armazenar a água pluvial. Se for muito grande, o custo fica inviável, se for muito pequena, não dá conta dos períodos mais secos
Autonomia em energia elétrica
Gerar energia elétrica a partir da luz solar com células fotovoltaicas ainda é uma prática pouco comum. O que dizer então de gerar toda a energia elétrica da casa tendo o sol como única fonte? A casa precisaria de muitas adaptações para esse desafio. Primeiro, seria preciso reduzir o consumo. Água quente, por exemplo, pode ser obtida por aquecimento solar e não com uso de resistências elétricas; aparelhos elétricos devem ser os mais econômicos e os hábitos devem mudar para economizar esse tipo de energia.
Autonomia em energia para veículos
Ecologista que se preza usa transporte coletivo, mas existem opções de transporte pessoal menos prejudiciais ao meio ambiente. Se a casa produz sua energia elétrica porque não poderia abastecer veículos elétricos? A motocicleta elétrica tem consumo baixo e carregar suas baterias com células fotovoltaicas pode ser viável na casa ecológica.
Efluente 100% tratado
A casa ecológica gera menos efluente (água usada) do que uma casa normal graças ao reuso e às boas práticas dos moradores. Se essa casa não está interligada uma rede pública com tratamento é possível tratar o efluente nos limites da residência. O efluente tratado pode ser usado na própria casa para fins como irrigação.
Resíduo sólido zero
Resíduo sólido orgânico. A compostagem é uma solução simples que gera adubo e pode ser feita mesmo em casas com área reduzida de terreno.
Resíduo sólido reciclável. Plástico, metal, vidro e papel, além de outros tipos de resíduo reciclável podem ser encaminhados para a reciclagem na casa ecológica. Basta um pouco de boa vontade dos moradores para separar e preparar o resíduo.
Resíduo sólido não reciclável. Mesmo em uma casa onde os moradores seguem boas práticas ecológica é difícil zerar o resíduo não reciclável, mas é possível reduzi-lo a um mínimo desde que sejam adotadas algumas medidas nem sempre simples e cômodas.
Energia para queima. O gás de cozinha é um item de consumo difícil de eliminar na casa moderna. Podemos reduzir seu uso substituindo o aquecedor de água a gás pelo aquecimento solar ou trocando o forno a gás pelo micro-ondas, mas nas tarefas diárias da cozinha não é todo mundo que pode adotar o fogão a lenha.
Como viver de luz do sol
Que tal uma casa que não precisa da energia elétrica da rua? A ideia da casa ecológica que gera sua própria energia ainda é um projeto difícil de colocar em prática, mas não impossível. Com a tecnologia disponível no comércio já se consegue criar casas autônomas em energia elétrica. O custo é alto, mas tende a cair à medida que a indústria da energia limpa for se estruturando melhor.
Reduzir. O que é preciso fazer para deixar a casa autônoma em energia elétrica? Primeiro, reduzir o consumo ao mínimo com uma série de medidas. Uma casa de padrão médio com quatro moradores consome cerca de 300 KWh por mês. Os itens que mais pesam nessa conta são o aquecimento de água (chuveiro e torneira elétrica), a refrigeração (geladeira e freezer) e a iluminação. Vamos lembrar que uma casa ecológica tem boa ventilação e, por isso, dispensa ar condicionado.
Água quente pode ser obtida com um sistema de aquecimento solar ou com energia de biomassa (lareira, fogão a lenha) ou pela combinação das duas fontes; aquecimento a gás na casa ecológica não pode. Na refrigeração dá para economizar energia usando eletrodomésticos eficientes e com capacidade adequada às necessidades da casa; nada de geladeiras gigantes, velhas e ineficientes. Em iluminação se economiza usando apenas lâmpadas eficientes como as fluorescentes compactas. Iniciativas como essas podem reduzir o consumo da casa para menos de 200 KWh por mês.
Sistema. Depois que o gasto de energia for enxugado deve-se pensar em um sistema limpo de geração para a casa. O uso de painéis fotovoltaicos é uma opção preferencial e a turbina eólica também pode ser considerada. O sucesso do projeto depende da ajuda de São Pedro que precisa contribuir com um mínimo de sol e vento. Felizmente, no Brasil essas duas dádivas da natureza são fartas.
Um bom exemplo de projeto de casa autônoma pode ser encontrado no site do Cresesbe que mantém uma casa autônoma para fins de pesquisa e divulgação. O custo de um sistema que garanta 200 KWh por mês é alto; pode ultrapassar R$ 20.000,00, dinheiro que será recuperado com economia na conta de luz, mas se o dono da casa tiver cabeça de investidor vai concluir que gerar a própria energia ainda não é um investimento com retorno matador.
Os itens mais caros na geração própria são os paineis fotovoltaicos que representam cerca de dois terços do investimento. Os outros itens são baterias, controlador de carga que evita o carregamento excessivo das baterias, inversor que transforma a corrente contínua em baixa tensão das baterias em corrente alternada usada pelos eletrodomésticos. Para aproveitar melhor o investimento nos paineis o ideal é instalá-los em um rastreador que funciona coo o girassol que persegue o sol e move os paineis ao longo do dia para deixá-los sempre voltados para o sol.
Limitações. Uma casa autônoma tem limitações em relação ao modelo tradicional que usa a eletricidade da rua. As baterias acumulam energia para dias sem sol, mas em certas regiões ocorrem períodos com muitos dias seguidos de céu nublado. Na casa autônoma devem ser evitados os equipamentos de alta potência que consomem muita energia em curtos períodos, pois a descarga rápida prejudica as baterias. Diante dessas inconveniências o ideal seria combinar a geração própria com o fornecimento externo.
Em dias de sol à vontade a geração doméstica resolve o problema com sobra. Quando São Pedro não ajudar, o abastecimento externo complementa a carga. Equipamentos de consumo contínuo e moderado podem ficar ligados à rede solar e os de potência alta podem usar energia da rede pública.
Os futurólogos otimistas preveem que a casa do futuro poderá vender energia para a concessionária nos momentos em que estiver com produção excedente como em períodos de seca. É a geração de energia em grid que vai se viabilizar com o auxílio de sistemas computadorizados de gerenciamento. Mas para chegar ao ponto de vender energia elétrica no futuro é preciso começar no presente.
Rumo ao resíduo zero
A casa ecológica produz pouco resíduo sólido, graças a uma série de boas práticas dos moradores, mas será que é possível reduzir esse resíduo a zero? Provavelmente não no estágio atual da nossa sociedade, a menos que se adote um estilo radical de vida inviável para a maioria das pessoas. Uma volta pelos corredores do supermercado nos mostra que muitos produtos são vendidos em embalagens pouco ecológicas que vão gerar resíduo não reciclável mais adiante.
O que fazer então? Passar fome ou viver de uma pequena horta orgânica plantada no quintal? Calma! A dificuldade não deve desanimar o cidadão ecológico, pois se não é possível zerar o resíduo da casa dá para amenizar bastante a situação tratando em casa uma parte dele, garantindo que todo o resíduo reciclável seja efetivamente reciclado e reduzindo ao mínimo o material não reciclável. Vamos fazer algumas contas de padeiro para ver até onde é possível chegar sem esforços hercúleos.
Lixo orgânico. Cerca de 40% em peso do resíduo sólido gerado pela casa é do tipo orgânico. São orgânicos materiais como cascas e folhas de vegetais, pó de café, restos de alimentos, guardanapos de papel, restos de jardinagem e outros itens que se decompõem facilmente. Para esse tipo de resíduo a compostagem doméstica é uma solução simples e viável mesmo em terrenos com área reduzida. A compostagem dá pouco trabalho, alivia a coleta pública e produz adubo para as plantas. Pronto, com a compostagem a casa reduz quase pela metade sua produção de resíduo.
Reciclável. Plástico, papel, metal e vidro são os resíduos recicláveis tradicionais. Alguns especialistas acham que não é preciso separar o lixo reciclável por tipo. Eles alegam que os trabalhadores da reciclagem terão que fazer a separação correta de qualquer maneira. Pessoalmente, eu considero que separar por tipo é válido porque reduz o trabalho dos recicladores deixando o processo mais econômico. Mais importante, porém, do que separar por tipo é preparar os materiais para garantir a reciclagem. Os recicláveis devem ser encaminhados limpos, secos e compactados para as recicladoras.
Além dos quatro tipos tradicionais a casa gera resíduos especiais como baterias, eletrônicos e lâmpadas fluorescentes. Esses devem ser encaminhados para os pontos de coleta especializados. Encaminhando corretamente os recicláveis cerca de 40% do resíduo doméstico será convertido em matéria-prima para novos produtos.
Não reciclável. Na teoria todo resíduo é reciclável, na prática só dá para reciclar se o processo for economicamente viável. Alguns exemplos: Quando o material reciclável vem misturado com material orgânico geralmente se inviabiliza para a reciclagem porque é difícil higienizá-lo. Outro problema para a reciclagem são os materiais mistos como plástico metalizado e papel parafinado. Existem também os materiais não promissores para a reciclagem como o isopor que, por ser volumoso, encarece o transporte e armazenagem.
Para os materiais não recicláveis a regra é clara: não devem entrar na sua casa. Evite as embalagens de materiais mistos; as bandejas de isopor, objetos de acrílico e economize nos espelhos. Informe-se melhor sobre materiais não recicláveis e sobre alternativas para substituí-los. Com empenho dá para cortar o resíduo não reciclável da casa pela metade. Isso rende um corte de 10% no resíduo total da casa o que é muito considerando que se trata da parte mais problemática do lixo.
Fazendo o dever de casa o cidadão consciente pode reduzir seu lixo em 90%.
- 40% com compostagem.
- 40% com reciclagem.
- 10% com redução no uso de materiais problemáticos.
O destino dos 10% restantes deve ser a coleta pública seguida de tratamento, o que pode reduzir ainda mais o resíduo que será depositado em aterro. Convenhamos que aliviar o problema da prefeitura em 90% é progresso pra mais de metro.
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