Na maioria dos casos, os falantes não encontram dificuldades para segmentar o discurso em sílabas, pois há várias situações de uso da língua em que a consciência da sílaba é exigida. Isso ocorre, por exemplo, quando o falante emite o discurso em pequenos segmentos para enfatizar a mensagem ou para discriminar melhor sua pronúncia.

  • De-va-gar.
  • Cal-ma.
  • Ne-ga-ti-vo.

No discurso escrito, as palavras podem ser segmentadas para acomodar melhor o texto no final da linha tipográfica. Esse processo, conhecido como hifenização, segmenta as palavras preservando as sílabas. Quando segmentamos o discurso em sílabas percebemos as dificuldades que envolvem uma definição rigorosa dessa unidade formal. São dificuldades semelhantes às encontradas na definição de palavra. Vejamos, na sequência, características relevantes das sílabas.

Vamos começar pelas características básicas para, em seguida, aprofundar a análise. A sílaba resulta da segmentação do discurso em nível fonológico, portanto não é unidade significativa. A sílaba se compõe de um número reduzido de fonemas, que varia geralmente entre um e cinco. As sílabas com vogal são a quase totalidade e, nesse caso, só uma vogal está presente.

Pronunciabilidade

A sílaba é pronunciável. Observe a segmentação a seguir:

P-r-a-g-a.

Neste caso, não temos uma segmentação em sílabas porque alguns segmentos não podem ser pronunciados isoladamente como /p/ ou /g/.

Unidade mínima livre de pronúncia

Os fonemas são as unidades mínimas da fonologia e não admitem segmentação, tanto que não existe nível de análise do discurso inferior ao de fonema. Já a sílaba pode ser formada por mais de um fonema. É divisível, portanto. A sílaba é uma unidade formal, mas em outro sentido. Considere a série de sílabas a seguir:

/pá/, /pé/, /pi/, /pó/, /pu/.

Se desmembrarmos as sílabas apresentadas em segmentos menores, certamente poderemos pronunciar alguns desses segmentos como:

/á/, /é/, /i/, /ó/, /u/.

No entanto, não será possível pronunciar isoladamente o fonema /p/. Os segmentos da série são mínimos no aspecto da pronúncia, no sentido de que um desmembramento adicional gera segmentos impronunciáveis. Considere outra série de sílabas:

/fã/, /vá/, /sé/

Neste caso, é possível desmembrar as sílabas em segmentos menores, todos pronunciáveis. É possível pronunciar isoladamente /f/, /v/, /s/, /ã/, /á/ e /é/. No entanto, praticamente não encontramos situações em que /f/, /v/ e /s/ ocorrem em condição de independência. A ocorrência desses fonemas é condicionada à presença simultânea de outros fonemas adjacentes. Em outras palavras: são ocorrências presas. O desmembramento das sílabas desta série em segmentos menores gera itens pronunciáveis, mas nem todos são formas livres.

Para ser caracterizado como sílaba o segmento deve ser livre e mínimo do ponto de vista da pronúncia.

Todo fonema pertence a uma sílaba

A divisão silábica deve ser feita de tal maneira que todos os fonemas do discurso pertençam a uma sílaba. Veja o exemplo:

* P-ra-to.

A segmentação gerou as sílabas /Rá/ e /tô/ que ocorrem comumente em língua portuguesa. No entanto, deixou o fonema /p/ isolado, logo a divisão silábica falhou. O correto, neste caso, é a divisão:

Pra-to.

Fonemas agrupados em torno de vogal

Há casos raros de sílabas sem vogal como, por exemplo:

Pst.

No entanto, a quase totalidade das sílabas apresenta uma e só uma vogal. Podemos dizer que a vogal é a base da sílaba. Essa característica está ligada à pronunciabilidade. É a vogal que dá suporte à realização dos outros fonemas da sílaba. É como se os demais fonemas se apoiassem na vogal para serem pronunciáveis.

Alguns foneticistas propõem que nos casos raros em que a sílaba não apresenta vogal, há uma consoante desempenhando a função de vogal, ou seja, viabilizando a pronúncia dos demais fonemas da sílaba.

A sílaba admite apenas uma vogal. Quando uma sílaba apresenta dois fonemas com características de vogal, só um será emitido com qualidade vocálica plena. Os outros serão emitidos de forma diferenciada e classificados como semivogais. A semivogal é uma emissão vocálica minimizada, digamos, pela presença de uma vogal adjacente.

Unidade de emissão do aparelho fonador

Alguns foneticistas propõem que a sílaba é a unidade de emissão do aparelho fonador. Ao que tudo indica, existe correspondência entre os movimentos musculares do aparelho fonador e a emissão de sílabas. Nesse sentido, a sílaba é a unidade fisiológica de pronúncia. O que caracteriza a sílaba na abordagem fisiológica é a emissão de um conjunto de fonemas em um único movimento expiratório do aparelho fonador.

Propriedades da sílaba

A divisão silábica pode ser o elemento diferencial entre duas palavras, como no caso a seguir:

  • Ele sabia de tudo.
  • Canto do sabiá.

A principal diferença entre as palavras em negrito está na divisão silábica. Na palavra /sá-‘bya/ temos duas sílabas e na palavra /sá-bi-‘á/ temos três. Na palavra de duas sílabas, a vogal /i/ se reduziu a semivogal, em função de estar na mesma sílaba que /á/.

Combinações silábicas

Analisando as possibilidades de organização das sílabas da língua portuguesa chegamos ao seguinte quadro:

Va-brir, é-po-ca, i-de-ia.
CVcapatelefone.
SVIa-te, ie-man-já.
VCIres-ta, ab-di-car.
VSEi-xo, bu-ei-ro, au-to-mó-vel.
CCVPra-ga, tro-te, cra-te-ra.
CSVín-dio, có-pia.
CVCFozcortêsdescurvar.
CVSVairéucaução.
SVSUai.
VCCAbs-tra-to.
VSCEis.
CCVCGristris-te.
CCVSUm-bralplau-sí-vel, gnai-sse.
CSVSEn-xa-güei.
CVCCFê-nix.
CVSCMeus, nor-mais.
CCVSCSub-trais, com-prais.
CSVSCI-guais.
Tabela de combinações silábicas

* C =Consoante, S = Semivogal e V = Vogal.

Outras combinações são possíveis, mas raras em nosso idioma. A palavra script (s-cript), por exemplo, apresenta sílaba com a combinação CCVCC.

Sílabas com consoantes são bastante raras em nossa língua. São exemplos:

  • S-tress
  • S-cript

Algumas combinações com número alto de fonemas admitem pronúncias variantes em que a sílaba é dividida em duas como a seguir:

en-xa-guei ou en-xa-gu-ei.

A análise das combinações de fonemas em sílabas nos permite algumas conclusões:

  • A vogal é a base da sílaba. Em torno dela gravitam semivogais e consoantes.
  • As semivogais se ligam diretamente a uma vogal, antes ou depois desta.
  • A consoante pode ocorrer adjacente a outra consoante, mas não há sílabas com três consoantes seguidas.
  • A consoante se liga a outra consoante, a uma semivogal ou à vogal.

A partir das regras anteriores de formação de sílabas podemos chegar a um modelo geral para a composição da sílaba:

(C)(C)(S)V(S)(C)(C)

Veja exemplos de aplicação do modelo.

 (C)(C)(S)V(S)(C)(C) 
    a b dicar
bu   ei  ro
 pr a   ga
  c o r tês
    a bstrato
 tr i s te
 pl au  sível
enxa guei   
nor m ais  
compr ais  
scr i pt 
Exemplos de combinações silábicas

Fonética

Unidades formais mínimas da Linguística

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Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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  • OLá! MUito interessante seu texto! Era bem o que eu estava procurando na internet: um exemplo de palavra escrita com sílaba CCVCC. No exemplo da palavra fênix, não entendi porque você colocou a sílaba -nix como CVCC. É por causa do som do x nesta palavra ser "cs"? Aguardo resposta!! Obrigada desde já!

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Radamés

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