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O escrito e o falado

O discurso oral e o escrito diferem entre si em vários pontos. Cada um deles tem especificidades inerentes ao fato de serem formas de expressão suportadas por mídias distintas. Os perfis de uso das duas formas são diferentes, cada uma tem sua própria trajetória histórica e o discurso oral tem valor social diferenciado do discurso escrito. Nenhuma dessas diferenças entre os dois tipos, porém,  deve ser usada pelo linguista como justificativa para uma abordagem que privilegie esta ou aquela modalidade de expressão da língua.

O linguista deve dar tratamento uniforme às duas modalidades de expressão, permanecendo atento às especificidades de cada uma, mas sem que isso perturbe a imparcialidade da abordagem. Para o linguista, o discurso escrito não é melhor nem pior que o falado e vice-versa. Eles diferem nas suas características mas são iguais em relevância para o pesquisador.

Neutralidade ao estudar a língua

Parece ocioso começarmos nosso estudo da escrita com uma afirmação de neutralidade da abordagem, mas ela é necessária, pois o estudo do discurso escrito ainda é marcado por paixões e extremismos. Há duas correntes opostas em disputa nessa área. Uma é a da Gramática Tradicional, que tem preferência declarada pelo discurso escrito como objeto prioritário de estudo. A outra, dominante na Linguística do Século XX, estabelece o discurso falado como objeto preferencial de investigação.

A nosso ver, não existem motivos convincentes para justificar o desprezo a uma modalidade de expressão em favor da outra. Cada uma delas tem sua relevância cultural, social e histórica. Ambas desempenham funções importantes em sociedade e se articulam em um sistema integrado de trocas contínuas.

Sob alguns aspectos, pode-se dizer que o discurso falado é anterior ao escrito. A criança aprende a falar antes de aprender a escrever. As sociedades antigas usaram a linguagem falada por milênios antes de conhecerem a escrita. Podemos dizer também que a escrita não existiria sem a fala. Essa anterioridade não deve ser confundida com supremacia do discurso falado sobre o escrito. Na sociedade contemporânea, o discurso escrito convive com o falado, cada um em seus nichos de uso e não há como estabelecer uma importância relativa maior de um ou de outro.

A Gramática Tradicional teve seus motivos para se ocupar prioritariamente do discurso escrito. As obras literárias, em geral, são concebidas em forma escrita e a conservação do conhecimento formalizado se dá principalmente em forma escrita. O texto normalmente utiliza a variante culta do idioma. No passado, o acesso ao discurso escrito era privilégio de poucos. Essas e outras características do discurso escrito o fizeram mais apropriado para os propósitos da Gramática Tradicional.

Já as correntes linguísticas do século XX, pautadas pelo foco no discurso oral, em certo grau, escolheram esse caminho como reação à Gramática Tradicional. A primazia dada ao discurso oral pelos linguistas do século XX é uma guinada histórica no rumo da investigação linguística que repara um descaso de séculos. Enfim, os motivos que determinaram a linha de ação dos linguistas são históricos e sociais. A

gora que temos a perspectiva histórica para analisar a contribuição das duas correntes, podemos afirmar serenamente que ambas contribuíram com sua cota para o desenvolvimento do estudo da língua e já é possível adotar uma posição de equilíbrio no estudo da linguagem colocando os discursos escrito e falado em mesmo patamar de relevância.

Para começar

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Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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