A Gramática Tradicional desenvolveu uma sintaxe baseada na análise de frases bem formadas dadas a priori. Ou seja, parte de uma frase gramatical e aceitável e dela faz a análise para ilustrar a teoria sintática. Não existe nada de errado nesse método, tanto que a sintaxe tradicional é rica e bem sucedida. Mas uma das limitações do método analítico da Gramática Tradicional é que com ele uma quantidade grande de regras não é explicitada.
Por esse método estudamos uma possibilidade de frase e não todas as possibilidades similares do modelo escolhido. Se quisermos uma descrição mais exaustiva das regras sintáticas da língua, é melhor recorrer a um método dedutivo. A Gramática Gerativo Transformacional, por exemplo, é dedutiva no sentido de que não parte de exemplos de frases bem formadas, mas de regras que devem gerar frases bem formadas.
O método dedutivo faz o caminho inverso do método analítico da Gramática Tradicional. Enquanto o método tradicional vai da frase dada para a sua estrutura sintática, o método dedutivo obtém frases a partir da estrutura sintática dada.
O método dedutivo oferece a vantagem de ser mais rigoroso e exaustivo, porém cobra seu preço. A definição de todas as regras necessárias à geração de um determinado tipo de frase exige que se leve em conta um volume muito grande de variáveis e a pergunta que surge nessa hora é se vale o esforço de descer aos mínimos detalhes necessários para gerar todas as frases possíveis de um modelo.
Mais que isso, temos que questionar a possibilidade de se criar esse conjunto de regras tão completo e eficiente que gera todas as frases possíveis da língua. Uma sintaxe que gera frases gramaticais e aceitáveis exige que se estabeleça regras semânticas, além das sintáticas. E no estabelecimento das regras semânticas de geração a situação se complica consideravelmente.
Da nossa parte, não vamos nos comprometer com a exaustividade. Cremos que é possível atingir um nível satisfatório de descrição se nos restringirmos apenas ao aspecto sintático. A inclusão de regras semânticas no modelo, certamente dá mais poder à teoria, mas requer um esforço de descrição que ultrapassa nossos recursos de produção. A definição de regras semânticas será deixada a cargo de um futuro dicionário de uso do léxico. Este dicionário não se limitará a dar os sentidos possíveis de um item de léxico mas vai explicitar todas as condições típicas de uso desse item na língua.
Excluiremos as regras exclusivamente semânticas da nossa proposta mas queremos garantir que a sintaxe dedutiva gerará frases gramaticais, embora não possamos garantir que essas frases sejam semanticamente válidas. Em outras palavras, nossa sintaxe centrada no aspecto sintático gerará frases como estas:
Ambas as frases são gramaticais, mas só a primeira aparenta ser semanticamente válida. Para impedir que frases como o livro leu o menino sejam geradas pela nossa sintaxe dedutiva seria necessário acrescentar uma camada de regras semânticas ao modelo de geração da frase. Não nos ocuparemos disso por vários motivos.
Primeiro, porque nossa capacidade de produção não comporta uma tarefa tão volumosa. Segundo, porque é duvidosa a relevância de buscar uma descrição que desça a esse nível de detalhe quando o objetivo é descrever as características gerais do idioma. Além disso, dizer que frases como o livro leu o menino são semanticamente inválidas é perigoso. Um enunciado só é semanticamente válido quando imerso em um contexto. Talvez no contexto de uma fábula os livros leiam.
É relativa a utilidade de um conjunto de regras semânticas que impeça a geração de frases em que livro seja sujeito do verbo ler. Regras assim não dariam conta da linguagem figurada, das fábulas, da poesia. Não queremos cair no erro de pensar a linguagem apenas no seu ‘grau zero’, desprovido de metáforas, metonímias, alegorias, simplesmente porque o ‘grau zero’ não existe no mundo real.
Um conjunto de regras sintáticas pode ter vários níveis de abrangência. Vejamos algumas possibilidades:
As condições reais de trabalho nos levam a abdicar, em alguns casos, do nível ideal de abrangência em que o conjunto de enunciados gerados é idêntico ao conjunto de todos os enunciados gramaticais possíveis.
Vamos exemplificar o desvio da abrangência ideal com uma regra sobre períodos.
P = F ( [ SCon F]n)
O período (P) é formado por uma frase ou então, pela concatenação de duas ou mais frases que se relacionam duas a duas por sintagma conectivo.
A regra dada gera períodos bem formados. Vejamos alguns deles:
Podemos dizer que todos os períodos bem formados atendem à regra dada. Mas a partir dela, podemos obter também períodos inaceitáveis como:
A regra exemplificada gera todos os períodos gramaticais mas também gera períodos inaceitáveis. Seu nível de abrangência é bom. No exemplo, os períodos inaceitáveis são gerados porque a regra não estabelece restrições quanto ao uso simultâneo de conectivos, além de outras peculiaridades que precisam ser observadas na construção de períodos. Mas isso não quer dizer que a falta de abrangência total da regra a torna inútil. Como ela explicita uma característica comum a todos os períodos podemos considerá-la satisfatória em muitos contextos em que o nível de abrangência alcançado é mais do que suficiente.
A escolha do nível de abrangência com que se vai operar é uma decisão a ser tomada caso a caso. Há casos em que se busca apenas o geral. Em outros casos, a ideia é se restringir aos casos mais comuns, deixando as situações limítrofes e duvidosas de lado. Também pode ocorrer de se buscar uma descrição rigorosa de abrangência máxima.
Em nossa gramática transitaremos pela escala de abrangência descritiva ao sabor das necessidades.
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