Notação formal sintática

Poderíamos explicitar as regras morfológicas e sintáticas em linguagem natural. Um exemplo disso seria a seguinte definição de período:

O período é composto por uma frase e opcionalmente pela sua concatenação com outras frases em número indefinido relacionadas duas a duas por sintagma conectivo.

A definição de regras sintáticas em linguagem natural tem suas vantagens. Algumas pessoas se sentem mais confortáveis com elas. Mas temos também a opção de criar uma notação em estilo matemático para representá-las. Uma notação deste tipo oferece a vantagem de ser mais sintética, precisa e para alguns, mais elegante. A mesma definição dada para período em linguagem natural poderia ser feita da seguinte forma:

P = F ( [ (SCon) F]n)

Vamos deixar claro que a forma como explicitamos regras sintáticas não é central para o estudo da sintaxe. Podemos ser bem sucedidos usando linguagem natural, formal ou mesmo visual, como acontece quando usamos árvores sintáticas. Temos que considerar também que existem inúmeras possibilidades de notação matemática e nenhuma é melhor que outra, desde que todas sejam rigorosas e precisas.

Da nossa parte, procuraremos utilizar, sempre que possível, notações consagradas. Com isso, evitamos despender energia com a assimilação de novas regras de notação. Os gramáticos da linha gerativo-transformacional, por exemplo, já desenvolveram uma notação disseminada no meio linguístico que procuraremos aproveitar em nosso trabalho.

A notação que vamos utilizar é uma linguagem artificial de representação de um modelo teórico que interpreta as regras sintáticas da língua. Essa notação é uma linguagem que empregamos para estudar outra linguagem. Mais precisamente, que usamos para descrever o aspecto sintático de uma língua. A qualidade da notação não influi em nada na qualidade do modelo de descrição da língua. Em outras palavras: a notação pode ser primorosa e o modelo teórico inconsistente e vice-versa.

Condições para uma notação formal

Uma notação consistente deve dar conta de explicitar o seguinte:

  • A estrutura de constituintes sintáticos e como eles se decompõe hierarquicamente em constituintes de nível inferior.
  • Ocorrências
    • obrigatórias e opcionais.
    • em distribuição complementar.
    • inaceitáveis.
  • Relações entre determinantes e determinados.
  • Relações de concordância.
  • Ordens aceitáveis para um conjunto de itens.
  • Relações de regência.
  • Regras de co-ocorrência.
  • Especificações de
    • classes morfológicas.
    • categorias morfológicas.
    • léxico.
  • Regras suprassegmentais.
  • Encaixes.
  • Bifurcações.
  • Enumerações.
  • Aposições.
  • Intercalações.
  • Sintagmas avulsos.
  • Elipses.

A seguir, apresentamos as regras da notação formal que adotamos em nosso trabalho.

Regras de notação formal

  • Constituintes sintáticos são representados por letras ou abreviaturas. Por exemplo: P indica período, F indica frase, Art indica artigo,  etc.
  • A equivalência entre sequências de constituintes é indicada pelo sinal de igual. Por exemplo:
    Suj = SN
    Lê-se: Suj equivale a SN ou Suj pode ser reescrito como SN.
  • Equivalências entre sequências são escritas e numeradas a partir da seqüência de nível mais alto, de forma que um constituinte não seja decomposto sem antes ter sido apresentado numa sequência anterior.
  • Itens opcionais são representados entre parênteses. Por exemplo:
    SNs = (Art) (Poss) S (MAdj)
  • Sequências em distribuição complementar recebem numeração de segundo nível como: 2.1 e 2.2.
  • Sequências que diferem pela ordem dos constituintes devem serão identificadas por letras a, b, c… Por exemplo: 2.1.a, 2.1.b, 2.1.c.
  • A possibilidade de repetição indefinida do item é representada entre colchetes e com adição do índice n à direita. Por exemplo:
    [ (Conj) Adj] n
  • Lexemas são escritos em itálico. Por exemplo: ser, estar.
  • Flexões do lexema são representadas em itálico à direita do lexema ou constituinte após um ponto. Exemplo: ser.particípio, SV.gerúndio.
  • A especificação de classe morfológica deve ser feita após a decomposição máxima do constituinte.
  • A concordância dos constituintes é definida escrevendo ordenadamente os constituintes que concordam, o constituinte com quem concordam e as categorias que devem concordar. Por exemplo: Art, Poss e MAdj concordam com S em gênero e número.
  • As relações entre determinante e determinado são expressas relacionando os itens que determinam e em seguida o item determinado. Por exemplo: Art, Poss e MAdj determinam S.
  • Sequências inaceitáveis podem ser inseridas em qualquer posição, bastando iniciá-las com asterisco. Estas sequências não fazem parte da estrutura descrita, mas podem ser criadas para realçar, sempre que necessário, estruturas inaceitáveis.

Sintaxe

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