Artigo – classe morfológica

A classe dos artigos é fechada e formada, a rigor, por um único lexema que varia em gênero, número e definição.

DefiniçãoNúmeroMasculino Feminino
Definido Singular o a
DefinidoPlural os as
Indefinido Singular um uma
IndefinidoPlural uns umas

Os artigos têm um dos comportamentos mais peculiares da língua portuguesa. Primeiramente, são um caso limítrofe do conceito de palavra, pois há argumentos tanto para considerá-los como palavras, quanto para tratá-los como prefixos especiais. Um dos requisitos para definir uma sequência como palavra é que tenhamos uma forma livre, ou seja, a sequência pode ocorrer isoladamente sem vinculação obrigatória a outro morfema.

Os artigos não atendem esse requisito, são morfemas presos, pois não ocorrem isoladamente. Sempre que usados estão determinando um substantivo que vem na sequência.

Em segundo lugar, temos que considerar que o uso dos artigos se alterna com o não uso. O não uso também atribui característica de definição a um item.

Análise semântica dos artigos

A função principal do artigo é definir o sintagma substantivo a que pertence. Observe as frases a seguir:

  • Quem viaja ao Brasil percebe que o brasileiro é cordial.
  • Um brasileiro esteve na embaixada recentemente.
  • O brasileiro que conheci na viagem me contatou por e-mail.

Na primeira frase entendemos que a cordialidade é uma característica de todos os brasileiros, ou pelo menos típica dessa nacionalidade. O uso do artigo definido condiciona o entendimento do sintagma substantivo como conjunto completo, gênero, classe. O artigo definido modifica o sentido da palavra brasileiro, levando-nos a entendê-la como povo brasileiro.

Na segunda frase concluímos que apenas uma pessoa de nacionalidade brasileira esteve na embaixada. O artigo indefinido nos leva a entender a palavra brasileiro como indivíduo, mas indefinido, um brasileiro qualquer não individualizado.

Na terceira frase temos um indivíduo único definido, individualizado. Trata-se de brasileiro específico com nome e R.G. Por isso, o uso do artigo definido.

Dos exemplos concluímos três possibilidades de significação agregadas ao sintagma substantivo pelo artigo:

  • Todo o conjunto. O artigo definido define a classe, o grupo, a totalidade de seres que o sintagma pode abranger.
  • Um ou alguns elementos não individualizados do conjunto. O artigo indefinido aponta para um ou mais indivíduos de um conjunto sem individualizar, sem especificar.
  • Um elemento específico do conjunto. O artigo definido aponta para um elemento específico e bem identificado do conjunto.

O potencial do artigo para individualizar o sintagma substantivo em que está inserido nos leva a possibilidades no mínimo pitorescas para o artigo. Veja a série a seguir:

  • O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil do século XIX.
  • Desejo um Brasil melhor para meus netos.

Na primeira frase estamos especificando dois Brasis: o primeiro citado é o do século XXI e o segundo o do século XIX. Estamos falando do Brasil de forma individualizada, mas considera-se que são dois Brasis separados pelo tempo.

Na segunda frase o falante concebe que há várias possibilidades de Brasil futuro e que ele deseja uma dessas possibilidades indistintas desde que seja melhor do que a realidade atual.

Um outro exemplo pitoresco: Um certo Capitão Rodrigo. Embora Capitão Rodrigo seja pessoa bem definida e delimitada, o uso do artigo indefinido sugere a ideia de que o tal capitão seria um qualquer, alguém que não se sabe de onde veio nem para onde vai.

Comportamento gramatical

O artigo compõe sintagmas substantivos. Quando é utilizado sempre será o primeiro elemento do sintagma substantivo que forma. Exemplos:

  • O Brasil.
  • Um amigo.
  • Um muito querido amigo meu.

Em muitos casos, o artigo forma sintagma substantivo composto também por sintagma adjetivo e, por isso, na Gramática Tradicional diz-se que o artigo pode substantivar adjetivos.

  • O brasileiro.
  • um verde escuro

O artigo está em distribuição complementar com os demonstrativos, ou seja, podem ocupar a mesma posição na estrutura sintática, mas quando se usa um lexema, não se usa outro. Por exemplo:

  • O brasileiro que está na embaixada.
  • Um brasileiro que está na embaixada.
  • Esse brasileiro que está na embaixada.

Essa característica de complementariedade nos deixa tentados a conceber o lexema artigo e o lexema demonstrativo como parte de um conjunto maior que tem por função definir o sintagma substantivo a que pertencem. Os demonstrativos indicam que o substantivo é específico, mas além disso, o posicionam relativamente às pessoas do discurso.

Não é aceitável expressão como:

* O este brasileiro que está na embaixada.

Usos derivados

Como é comum na língua o uso básico, objetivo do lexema origina usos derivados por semelhança, analogia, etc. Com os artigos também temos usos derivados. Veja o exemplo:

  • Este não é um livro qualquer, é o livro dos livros.

No caso há um contraste entre um livro e o livro, onde a definição é entendida como proeminência, destaque, relevância. Este é um caso em que o uso do artigo definido porta conotação positiva, nos leva a pensar no substantivo definido como mais elevado. Por outro lado, aplicar o artigo indefinido a um referente pode levar a uma conotação negativa:

  • Esse não passa de um João Ninguém.

Usar ou não usar o artigo?

Em muitos contextos o uso de artigo é redundante. Objetivamente, ele não precisa ser empregado antes dos ditos nomes próprios, ou seja, aqueles sintagmas substantivos que designam de forma individualizada e inequívoca o ente. Não seria necessário dizer:

  • O Brasil está entre as economias com PIB mais elevado.

A supressão do artigo na frase anterior não compromete a compreensão, mas é costume na língua portuguesa certa redundância no uso dos artigos.

Morfologia

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