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Aquele que não se deve nomear

Quando conversava com meus filhos sobre Harry Potter, costumava dizer brincando – não pronuncie o nome daquele que não se deve nomear – referindo-me ao bruxo mor que atormenta o garoto Potter. Meu filho caçula adorava pronunciar o nome proibido só para ver minha reação falsamente indignada.

Bem, por via das dúvidas, não vou escrever aqui o nome do bruxo que lidera a facção do mal no mundo de Hogwarts. O que quero falar mesmo é sobre o poder mágico das palavras. A autora J.K. Rowling sabe muito bem como as palavras mágicas fascinam crianças e até adultos. No mundo de Hogwarts, se certas palavras forem pronunciadas, coisas acontecem e não estamos falando de acontecimentos banais e sim, de mágica.

Da mesma forma, certas palavras não devem ser pronunciadas, como é o caso do nome do nefasto bruxo inominável, caso contrário, coisas terríveis podem acontecer. J.K. Rowling não inventou as palavras mágicas, nem as palavras tabu. Elas existem desde os primeiros tempos. Nos dias de hoje, envolvidos pelo cerco da vida tecnológica, nos afastamos dessa percepção do mundo como um lugar mágico.

No entanto, isso parece nos fazer falta. Prova dessa necessidade é o encanto que a série Harry Potter desperta em crianças e adultos. No mundo de Hogwarts, o bruxo inominável não pode ser nomeado porque citar o mal equivale a invocá-lo. Basta consultar o verbete diabo em um bom dicionário para ver a profusão de palavras que existem para se referir ao inominável sem usar seu nome.

De certa forma, criando palavras alternativas para se referir ao inominável, estamos criando novos nomes para ele. A diferença é que essas formas alternativas não têm o poder invocatório que o nome oficial possui. Era assim na religiosidade primitiva, assim é hoje em nossa busca do mágico e do sagrado perdidos.

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Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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