Letras

O fim da letra cursiva

A letra cursiva, que é usada há séculos, corre risco de desaparecer do nosso cotidiano no intervalo de uma geração. Os dois motivos principais para essa extinção provável são as novas práticas pedagógicas e a evolução da Informática.

A escrita latina tem quatro variantes principais mostradas a seguir.

Variantes para vários usos. Cada variante tem suas características próprias: as maiúsculas tipográficas são solenes; as minúsculas tipográficas têm boa legibilidade; as variantes cursivas foram desenvolvidas durante a Idade Média para permitir uma escrita manual mais rápida. Realmente, é possível alcançar uma velocidade de escrita maior quando se usa o método clássico de passar de uma letra a outra sem levantar a pena do papel.

Variante mais difícil. O problema é que a escrita cursiva exige melhor coordenação motora e seu aprendizado é mais demorado. Muitos educadores acham que não vale a pena estressar a criança em processo de alfabetização cobrando dela a escrita cursiva. Segundo eles, o melhor é focar em aspectos mais importantes da aquisição da escrita e não há problema se a criança usar só letra de forma, que é mais fácil de escrever, embora mais demorada. De certa forma, esse abandono pedagógico da letra cursiva vai de encontro à realidade do mundo informatizado.

Por que ensinar? Para que gastar tempo com o desenvolvimento da caligrafia cursiva se no futuro o jovem pouco uso fará dessa habilidade. A ampliação do uso da Informática está tornando o lápis e a caneta em artefatos de usar na escola, pois em casa e no trabalho o instrumento principal de escrita certamente é o teclado.

Talvez não seja apenas a escrita cursiva que esteja ameaçada de extinção. Todas as formas de escrita manual correm risco. Devemos rir ou chorar? Eu nunca tive orgulho de minha caligrafia, que considero própria, mas sem aquele toque de beleza e estilo que me fariam lamentar caso deixasse de usá-la. Por outro lado, sempre apreciei minha habilidade de digitar com dez dedos sem olhar para o teclado.

Beleza da caligrafia. Tá certo que digitação não mostra a sua personalidade. Está bem que algumas belas caligrafias correm risco de desaparecer. Não me refiro à letra de professorinha, mas àqueles que realmente se expressam com estilo quando usam uma caneta. Bem, esses podem continuar escrevendo na pena pelo bem da arte. Já os médicos de garranchos indecifráveis que se convertam o mais rápido possível para o teclado e a impressora. Aliás, escrever em letra legível agora é uma exigência do código de ética da Medicina.

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Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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  • Eu amo escrever. Minha letra não é bonita, nem feia também. Adoro cadernos novos, cheinhos de "páginas em branco a serem preenchidas..."

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Radamés

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