Definição é um enunciado que delimita um conceito na sua exata extensão e compreensão, de modo unívoco em dado contexto, inteligível para dado background e de modo eficaz para determinada função.
Poderíamos deixar o conceito de definição mais restrito e mais rigoroso para obter definições mais concisas, acrescentando condições como:
Tais restrições, contudo, são dispensáveis. Podem ou não ser exigidas caso a caso.
Do que se disse podemos concluir:
Há diversas maneiras de delimitar um conceito, tais como:
O modo escolhido deve ser relevante para tornar a definição eficaz ao que se destina.
Uma definição pode ter uma ou mais das seguintes funções:
Contextualidade de definições: Um enunciado só é definição se for estabelecido o contexto em que se aplica e suposto um background mínimo de quem a usa. ‘Animal racional’ é uma definição para homem num contexto da zoologia, que pode ter pouco valor num contexto metafísico. Além disso, é necessário que se saiba o que é ‘animal’ e o que é ‘racional’.
Nome: É uma palavra ou locução que define um conceito, é definição, e tem com o conceito uma relação simbólica. O nome é signo para o conceito, logo, tem permanência, reprodutibilidade e aceitação.
Definição analítica: É aquela que delimita o conceito relacionando seus atributos, suas propriedades. A forma de uma definição analítica é uma conjunção de proposições.
Definição classificatória: É um tipo de definição analítica que se vale dos critérios de uma taxonomia. O caso particular mais notável é a definição aristotélica, na qual o conceito é definido citando-se o gênero próximo e a diferença específica. Gênero próximo é a classe taxonômica mais restrita a que pertence o conceito e diferença específica, o que o diferencia dentro do gênero essencialmente.
Não se deve confundir definição classificatória com definição dentro da taxonomia. Definir uma classe dentro de uma taxonomia é determinar sua posição dentro da taxonomia, o que pode não ser suficiente para que o receptor delimite o conceito.
Definição por exclusão: É a que diz o que o conceito não é numa classe. Para ser válida, é necessário que o conceito definido seja classe complementar da classe negada.
Equivalência de definições: Duas definições se equivalem quando se referem ao mesmo conceito.
São muito comuns os enunciados que evidenciam equivalências de definição. A equivalência mais praticada é aquela que relaciona o nome a uma definição analítica. Exemplo: ‘O homem é um animal racional.’
Definição ostensiva: É uma categoria que diverge em natureza das definições até aqui abordadas. É o ato de fazer conhecer na objetividade a que o nome se refere. Exemplo: ‘Uma vaca? Vaca é aquele bicho lá no pasto. Está vendo?’
‘Ser’ e ‘nada’ são indefiníveis.
O prefixo pseudo não deve ser entendido como pejorativo. As pseudodefinições, para dados contextos são suficientes e práticas.
Definição circular é o enunciado no qual se define um conceito usando-se o conceito na tentativa de definição. De outro modo, para entender uma definição circular, o conceito definido tem que ser conhecido nos termos em que a definição deveria estar dando a conhecer. Exemplo:
Não há definição circular quando, por exemplo, define-se o conetivo ‘e’ enquanto categoria linguística por meio de um enunciado onde se usa ‘e’. Nesse caso, temos a diferença entre uso e menção.
Há um caso especial de definição circular que é aquela em que é necessário o conhecimento de conceitos que formam grupos de mesma raiz conceitual.
Seja o enunciado: ‘O estrategista é aquele que se ocupa da estratégia’. Os conceitos delimitados por ‘estratégia’, ‘estratégico’, ‘estrategista’ pertencem a uma mesma raiz conceitual. Se quem lê o enunciado acima sabe a que se refere ‘estratégia’ e não sabe a que se refere ‘estrategista’, julgará a definição acima válida. Agora, se o receptor carece do conhecimento da raiz comum aos conceitos, tem-se uma definição circular de ‘estrategista’.
Esse tipo de definição é típica do dicionário. No dicionário, escolhe-se uma palavra num grupo de mesma raiz. Para essa palavra dá-se uma definição usando referências que não dependem do conhecimento prévio da raiz. As demais palavras do grupo são definidas em função dessa. Se quem usa o dicionário encontra uma definição com este tipo de circularidade terá de buscar a entrada lexical em que esta se rompa.
Equivalência circular de definições: Quando se pratica uma equivalência de definições, na maioria das vezes, o que se pretende é apresentar uma alternativa a quem recebe o discurso para que este possa delimitar o conceito. Quando se diz: ‘Gastrite é uma inflamação do estômago’ está-se estabelecendo uma equivalência entre um nome, ‘gastrite’, e uma definição analítica, ‘inflamação do estômago’, provavelmente porque nem todos sabem que o nome gastrite define uma inflamação do estômago. Uma equivalência circular, ou circunlóquio, é aquela em que não se agrega a informação nova que o receptor carece. Na equivalência circular ocorre apenas uma mutação cosmética da definição. As informações constantes em cada lado da equivalência são basicamente as mesmas. Não acontece a informação nova.
A utilidade da equivalência de definições: Existe uma falácia que diz que toda equivalência de definições é inútil porque elas se reduzem à fórmula ‘A é A’, o que não acrescenta nada ao conhecimento. Realmente a redução existe. Quando se diz ‘Gastrite é uma inflamação do estômago’ está-se praticando uma equivalência que se reduz ao princípio da identidade. Mas dizer que práticas desse tipo são inúteis é um erro, pois nem todos sabem que gastrite é uma inflamação do estômago. A falácia parte da premissa que todos conhecem a natureza das coisas e o significado dos nomes e aceitando-a concluímos que os dicionários e os livros didáticos são inúteis. Hoje, dizer: ‘A Terra é um planeta redondo’ é uma redundância. No tempo em que se julgava a Terra chata era uma heresia.
A falácia da circularidade da busca dos significados:Consiste em pensar que é impossível conhecer o significado das palavras porque eles são elucidados pela prática de equivalências de definição, como se faz nos dicionários. Quer dizer, o significado de uma palavra é explicado com outras palavras, que são explicadas por outras, até que retornamos à palavra inicial. A falácia existe quando se desconsidera a existência da definição ostensiva, que em algum ponto da cadeia de equivalências de definição se interpõe para tirar o receptor do labirinto de palavras que remetem a outras palavras.
Grupos de definições concatenadas: São um conjunto ordenado de definições e ocorrem geralmente nas teorias científicas e matemáticas. Um ou mais conceitos costumam ser considerados primários, ou seja, são introduzidos sem definição. A primeira definição do grupo é estabelecida com referências unicamente a conceitos primários. A segunda definição pode se referir a conceitos primários e ao conceito delimitado pela definição l. A definição n pode ser feita com referências a conceitos primários e a quaisquer conceitos delimitados pelas definições precedentes.
Os grupos de definições concatenadas são organizados por background crescente. Geralmente escolhem-se para conceitos primários os mais evidentes e simples, o que não é absolutamente necessário, mas geralmente conveniente.
Ao se perguntar ‘O que é um carro?’ e ‘O que significa ‘carro’?’ no primeiro caso está sendo pedida uma definição conceitual e no segundo caso, uma definição de significado.
Para responder à segunda pergunta, pode-se dizer: ‘Carro é um automóvel’, ou seja, praticarmos uma equivalência de significados, também chamada sinonímia, quando praticada entre nomes. Com uma resposta assim quem perguntou pode ter enriquecido o seu conhecimento sobre o léxico do português, mas não acrescentou nada ao seu conhecimento sobre as máquinas, que são chamadas de ‘carros’ e também de ‘automóveis’.
Numa equivalência de definições de conceito duas definições são pertinentes ao mesmo conceito e numa equivalência de significados, dois signos designam o mesmo conceito.
Há casos em que a equivalência de significados se confunde com a de conceitos. Não há como dizer se na frase ‘Carro é um veículo motorizado de quatro rodas’ há uma equivalência de significados ou de conceitos, pois ambas são formalmente idênticas.
A sinonímia costuma ser usada mais como equivalência de significados do que como equivalência de conceitos.
Não é para todos os enunciados que o estabelecimento da equivalência de significado é simples como no acima citado.
As palavras gramaticais, como conectivos, artigos e pronomes, por exemplo, em geral não oferecem meios de equivalência por sinonímia. Das interjeições pode-se dizer que não significam, mas que expressam estados emocionais. Das frases cerimoniais e protocolares pode-se dizer que não significam como as palavras lexicais, mas que têm função social em dadas situações.
Então, como se pode responder à pergunta ‘O que quer dizer ‘e’?’ O conectivo ‘e’ não tem sinônimos no português. Também não há nenhum objeto relacionado ao signo ‘e’ como existe um objeto relacionado com o signo ‘carro’. No dicionário encontraremos na entrada ‘e’: ‘conjunção que representa operação lógica de conjunção entre termos sintáticos, etc.’ O que o dicionário faz nesse caso é dar uma equivalência de conceitos, em vez de uma equivalência de significados. O dicionário supõe que ‘e’ está entendido como signo, logo como conceito e propõe a equivalência com uma definição analítica para uma categoria lingüística.
Uma outra solução que o dicionário adota é a de definição contextual, que aqui consideramos uma pseudodefinição. Vários contextos típicos do uso do ‘e’ são apresentados.
Finalmente, é bom lembrar que quando se estabelece a equivalência de significado entre ‘carro’ e ‘automóvel’ esta equivalência se limita à referência. Não estão sendo considerados os aspectos conotativos de cada signo, o que rompe com a sinonímia se for exigida total similaridade entre os signos.
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