Categories: Recursos

Metaplasmo – figura de linguagem

Genericamente, um metaplasmo é uma alteração intencional do código, é exercício de criatividade sobre a língua. Os metaplasmos são praticados nos diversos níveis linguísticos: gráfico, ortográfico, fonológico, gramatical.

Nosso  interesse está voltado para o uso retórico dos  metaplasmos, mas uma parte deles se difunde pelo uso e acaba levando à alterações diacrônicas do idioma.  Além disso, existe uma relação estreita entre a criação de  metaplasmos para uso retórico e a criação de léxico e gramática.

Tipos de metaplasmo

A seguir, sem pretensão de classificar nem de ser exaustivo, alguns tipos de metaplasmo:

  • Icônico: cria uma iconia. Exemplo: uma empresa de laticínios deu a um de seus produtos o nome de ‘mu-mu’.
  • De extrapolação: extrapola as características do código. Caso típico é a criação de palavras a partir de morfemas da língua.
  • Cobertura de defectividade: Quando o código é defectivo, às vezes essa defectividade pode ser suprimida por um metaplasmo.
  • Metaplasmos clássicos: São típicos na poesia anterior ao Modernismo. Visam basicamente regularizar a métrica e costumam ser divididos em fonológicos: elisão, sinérese, diérese, etc., e morfológicos: prótese, síncope, apócope, etc.
  • Elíptico: resultam da elipse de parte de um termo.

Criação de léxico e de gramática

Saussure já dizia que exceto alguns signos linguísticos icônicos, como as onomatopeias, a grande maioria deles tem relação arbitrária com seu significado. Realmente assim é para o signo enquanto objeto. Já com relação aos mecanismos de formação de nomes e neologismos, podemos dizer, imitando Quintiliano, que liberdade total para criar palavras só tiveram aqueles homens boçais dos primeiros tempos, que nomeavam conforme a primeira sensação que lhes causava o contato com as coisas.

A arbitrariedade na criação de léxico e de gramática é a exceção. Na maioria esmagadora dos casos, os nomes e os neologismos se formam a partir de palavras existentes, por vários meios, raramente arbitrários, muitos deles derivados de mecanismos de associação de significados. Os mecanismos de criação de léxico e  de gramática costumam ser os mesmos com que se fazem os metaplasmos.

Aqui são classificados alguns  mecanismos pela relação entre a origem e o resultado.

  • Elipse: Elimina-se parte da origem. Exemplo: pneu por pneumático. Siglas: ONU por Organização das Nações Unidas.
  • Junção: Afixação. O caso mais comum é o dos afixos que são morfemas. Condensação: Exemplo: embora por em boa hora. Não deixa de ser um mecanismo de elipse. Justaposição: Exemplo: guarda-chuva.
  • Polissemia: Metafórica, metonímica, arbitrária, irônica, alegórica. Por polissemia é criada boa parte do léxico de Informática, por exemplo, que é  uma área fervilhante no aspecto linguístico. Basta lembrar de termos como mousemenusurfarweb.
  • Empréstimo de outro léxico.
  • Criação arbitrária.
  • Derivação gramatical.

Acomodação prosódica

São as alterações fonológicas de um vocábulo para melhor se adaptar às tendências dominantes de pronúncia do idioma. Sua ocorrência é típica para os termos que são incorporados  por empréstimo ao léxico. As acomodações prosódicas estão fora do domínio retórico e as leis que as regem são as da linguística. Não há manipulação retórica da acomodação prosódica.

Simbolização

A criação de léxico é criação de símbolos. Um símbolo representa alguma coisa convencionalmente em determinado contexto da cultura. A simbolização é uma categoria antropológica. Na linguística, a simbolização tem uma característica especial: o símbolo é palavra e como tal na maioria dos casos tem uma relação arbitrária com a coisa simbolizada. Mas o significante que origina o símbolo, no início do processo, geralmente, se referia a outra coisa, a algo que mantinha com o simbolizado uma relação especial, não arbitrária.

Assim, se a locução ‘calcanhar de Aquiles’ simboliza a fraqueza, é inegável a arbitrariedade da relação entre o significado ‘fraqueza’ e o significante ‘calcanhar de Aquiles’, mas igualmente é inegável a não arbitrariedade entre o significado ‘fraqueza’ e o significado imediato de ‘calcanhar de Aquiles’. Neste sentido, a simbolização linguística raramente é arbitrária. A rigor estamos diante de dois símbolos: o primeiro é a palavra tomada como coisa, o segundo, é o sentido imediato, original da palavra.

A origem da simbolização lingüística geralmente é metafórica ou metonímica. A relação entre o que é significado e o seu significante geralmente é arbitrária, eventualmente icônica.

Grupo fraseológico

Grupo fraseológico ou frase feita é a frase que se consagrou pelo uso repetido em contextos semelhantes, ganhando condição de léxico. Exemplos: ‘Dar com burros n’água.’ ‘Matar cachorro a grito.’ A frase feita é repetida sem alterações, exceto as flexões de concordância necessárias ao contexto.

Figuras de linguagem (Recursos retóricos)

No meu canal no YouTube

Baixe a planilha grátis que conjuga todos os verbos do português.

Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

Share
Published by
Radamés

Recent Posts

Locativos

A classe dos locativos é fechada e compostas por palavras invariantes, não flexionadas. Comportam-se como…

55 anos ago

Artigo – classe morfológica

A classe dos artigos é fechada e formada, a rigor, por um único lexema que…

55 anos ago

Possessivos – classe morfológica

A classe dos possessivos é limítrofe. Poderia ser considerada como um caso especial da classe…

55 anos ago

Sintagmas da língua portuguesa

Os sintagmas são as unidades formais mínimas da sintaxe, ou seja, são as unidades que…

55 anos ago

Essa língua portuguesa!

A língua portuguesa não é para fracos. São tantos detalhes e exceções que resolvi fazer…

55 anos ago

Essa reforma ortográfica!

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrou em vigor no Brasil em 1º de janeiro…

55 anos ago