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Figuras de linguagem pouco conhecidas

Vamos abordar aqui alguns recursos retóricos que não foram tratados individualmente.

Balizas

Balizas do discurso são frases que parafraseiam as funções de diversos recursos de Retórica. Alguns exemplos:

  • Sinalização de ênfaseÉ bom frisar …, Ressalto que …
  • Indicação de ordemPrimeiramente …, Por fim …
  • Índice de segmentaçãoVamos à outra parte …
  • Indicar entoaçãoPausadamente …, Gritado ….
  • Indicar foco: Os verbos discendi são exemplo: Disse ele …

Silepse

Numa leitura imediata, a silepse é uma anomalia de concordância. Uma ou mais flexões da frase discordam do termo sintaticamente ligado. Via de regra, a concordância se dá com um termo hipotético, implícito, mas previsível, que poderia substituir com pertinência o termo discordante. A substituição não causaria prejuízo à mensagem.

Na maioria das ocorrências, a silepse não é um recurso de Retórica. Ela é mais comum como anomalia e como solução para o problema de concordância dos termos compostos. Em certos casos, é difícil discernir se a silepse tem característica de recurso de Retórica ou de anomalia. Exemplo: A dupla não fez nada. Ficaram parados. Neste exemplo, não há como prever se houve intenção ou lapso.

A silepse como solução para a concordância dos termos compostos: Eu e ele fizemos tudo. Neste exemplo, o verbo não concorda com nenhum dos dois sujeitos. Concorda com a ideia de conjunto.

Existe uma pseudo-silepse que surge quando um nome pede concordância diferente da que o conceito que ele representa pede. Exemplo: A populosa e dinâmica São Paulo. O conceito cidade pede concordância no feminino. O conceito São Paulo pede concordância no masculino.

Hipálage

A hipálage é um recurso de Retórica ou uma anomalia do discurso? Na frase: Enfiou o chapéu na cabeça não há estranhamento. Ao contrário, quando se diz: Enfiou a cabeça no chapéu há estranhamento. Este exemplo é de uma hipálage lexicalizada que não funciona como recurso de Retórica mas como forma-padrão.

A explicação para o estranhamento talvez esteja na psicolinguística. As frases são construídas de modo a considerar algo como agente e algo paciente. Como no processo de colocar o chapéu na cabeça o deslocamento é realizado pelo chapéu sob o ponto de vista da subjetividade de quem observa o chapéu entra na estrutura da frase como agente.

A hipálage pode ocorrer como anomalia, como forma típica padrão e como recurso de Retórica. Quando ocorre como anomalia, geralmente de tempo real, a hipálage deriva de uma confusão de atribuição de funções sintáticas. As ocorrências como padrão linguístico geralmente derivam de uma anomalia que se consagrou no uso. Enquanto recurso de Retórica a hipálage tem mecanismo semelhante ao da metonímia. É uma atribuição impertinente em que o que se atribui é pertinente ao que está contíguo na estrutura da frase.

Anacoluto

É uma frase incompleta, típica do discurso oral informal, na qual faltam termos sintáticos. Exemplo: Hum, vejamos. E se eu fizer… Não, não, quer dizer… talvez se a gente… .

Geralmente, a falta de palavras se dá no final do enunciado. Por ser sintaticamente incompleto o anacoluto é semanticamente incompleto.  O anacoluto assemelha-se à elipse, que também é frase incompleta. Diferem no fato que na elipse a parte ausente é previsível. Apesar de incompleta, da frase elíptica se extrai um sentido completo.

No discurso espontâneo, o anacoluto surge em função de má codificação e por isso não é considerado recurso de Retórica. Isso ocorre porque o emissor se arrepende da solução que iniciou ou porque começou a emitir sem ter em mente o final, ou por se arrepender do que começou.

Como recurso retórico, o anacoluto ocorre quando a suspensão do enunciado é intencional e deixa a continuação apenas sugerida pelo contexto. Exemplo: ‘Para bom entendedor…’

Bloqueia-se a continuidade do enunciado para fins de atenuação, para possibilitar plurissignificação.

Na Retórica clássica há uma definição de anacoluto que preferimos arrolar como um caso particular de retomada. Exemplos:

  • Essas criadas de hoje, não se pode confiar nelas.
  • O forte, o covarde seus feitos inveja.
  • A rua onde moras, nela é que desejo morar.

Os termos Essas criadas de hojeO forteA rua onde moras são postos em destaque pela citação desligada de outros termos sintáticos. Logo depois vem a frase onde se encaixariam e onde são substituídos por pronomes. É um recurso de ênfase, não é resultado de codificação defeituosa.

Enumeração

Enumeração é a sequência de pelo menos dois elementos de mesmo status sintático no discurso. Há três tipos de enumeração:

  • Aditiva – representada pelo conetivo ‘e’.
  • Optativa exclusiva – representada pelo conetivo ‘ou’.
  • Optativa não exclusiva – representada pela conexão ‘e/ou’.

Geralmente os elementos de uma enumeração são comuns a uma classe. Quando isso ocorre temos uma enumeração com paralelismo de similaridade. Hipoteticamente pode-se supor uma enumeração caótica, aquela em que os elementos são totalmente disjuntos.

  • Enumeração ordenada: é aquela em que a disposição dos elementos na seqüência admite algum tipo de ordem.
  • Enumeração na enumeração: há casos em que um ou mais elementos da enumeração são enumeração.
  • Enumeração classificada: ocorre quando os termos da enumeração são classes de uma taxonomia. Diferencia-se da enumeração com paralelismo pois, no paralelismo, não existe a obrigatoriedade de atender às regras que definem uma taxonomia, como conter todos os elementos do universo considerado e não haver interseção de domínios.

Retomada

Retomada é a segunda introdução de um elemento sintático, como ocorre no exemplo: ‘Os motivos são A, B e C. A porque …, B porque … e C devido à …’. A retomada se dá por motivos diversos como:

Para desenvolver o tema sem o uso de parênteses, o que prejudicaria a comunicabilidade.

Para rememorar um termo cuja determinação ficou em suspenso após uma digressão. Exemplo: ‘A Retórica que por longos séculos foi objeto de exegese, de adaptações às necessidades de época, de deturpações, esta Retórica agora …’.

Para enfatizar uma determinação. Exemplo: ‘Só um progresso importa, o progresso justo’.

O anacoluto citado pela Retórica clássica é uma forma de retomada com fim enfático. Exemplo: ‘A juventude de hoje. O que dizer dela?’

Superposição sintática

Ocorre quando um termo sintático desempenha função dupla no período. Exemplo: No meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho. (Carlos Drummond de Andrade). O termo ‘tinha uma pedra’ serve a dois adjuntos.

Redobro sintático

Ocorre quando o terceiro termo sintático tem com o segundo a mesma relação que o segundo tem com o primeiro. Exemplo:

  • João que amava Maria, que amava Raimundo, que amava …Carlos Drummond de Andrade.

Atribuição reflexiva

Ocorre quando se faz uma atribuição de qualidade sobre a própria qualidade. Exemplo: É um tédio que é até do tédio. (Fernando Pessoa).

Gradação de determinantes

É a sequência de atribuições a um determinado, a seguinte, num grau superior ao anterior se ascendente e o contrário de descendente. Exemplo: ‘É pouco, é mais que pouco, é muito pouco, pouquíssimo.’

Paralelismo de contraste ou antítese

É a referência num mesmo discurso a objetos que mantêm uma relação de contrariedade. Um objeto referido é o oposto do outro como bom e mau, belo e feio, moral e imoral, etc. Exemplos: ‘Dizer mais com menos’, ‘A quem ama, o feio, bonito lhe parece’.

Paralelismo de similaridade

É a sucessão de partes do discurso que tem entre si uma relação de similaridade de conteúdo. Para caracterizar o paralelismo, basta apenas a citação dos contrários em partes contíguas do discurso. Neste sentido, podem ser chamados de paralelismo a equivalência de definição e o sofisma da contrariedade camuflada. A primeira é paralelismo de similaridade e a segunda de contraste.

A definição de paralelismo, aqui, é aberta, por isso nem tudo que chamamos de paralelismo tem proveito retórico. O proveito costuma aparecer quando existe uma relação adicional entre os opostos ou similares que compõem o paralelismo. Alguns exemplos de relação adicional:

Os opostos são a realidade e a aparência, o prometido e o acontecido, o que é e o que deveria ser, o esperado e o acontecido, o utópico e o pragmático, etc.

Como a definição de paralelismo é aberta, também não se considera em que condição os opostos são inseridos no discurso. Pode haver afirmação de ambos, afirmação de um ou de outro, negação de ambos ou outras possibilidades de onde também resultará também efeito retórico.

Parêntese

Sintaticamente, o parêntese consiste na intercalação de um trecho de discurso entre duas partes do mesmo período ou mesma oração. A parte que sucede o parêntese é a continuação da parte que o antecede.

Parêntese num nível superior ao sintático é a intercalação de um trecho de discurso entre duas partes de um segundo discurso cujo núcleo temático é diferente. Assim como no parêntese sintático a parte do segundo discurso que sucede o parêntese é a continuação da parte que o antecede.

O parêntese é uma digressão, um desvio do núcleo temático e prejudica o processamento do discurso, pois suspende uma construção para retomá-la mais adiante, obrigando assim o receptor a uma retenção provisória de termos sintáticos órfãos.

É possível o parêntese dentro do parêntese.

O parêntese pode ser usado como recurso de concisão. Uma informação é dada logo após a citação do que lhe seja correlato, evitando assim a retomada desse correlato mais tarde para introduzir a informação. Como exemplo, o enunciado parentético: ‘Aristóteles, um dos maiores filósofos gregos, escreveu ‘Arte Retórica”. Para substituí-lo por uma construção sem parênteses será necessário o uso de uma retomada. ‘Aristóteles escreveu ‘Arte Retórica’. Ele foi um dos maiores filósofos gregos’.

Comparação

É formada por três elementos, todos explícitos: o comparado, o comparante e o atributo.

Como exemplo, algumas frases que contêm a mesma comparação:

  • Maria é bela como uma flor.
  • Maria tem a beleza da flor.
  • Maria e a flor, belas uma e outra.
  • Maria com a beleza da flor.

No exemplo dado, Maria é o comparado, a beleza é o atributo e flor o comparante.

A comparação dá expressividade à atribuição. Se dissesse Maria é bela as características da beleza não estariam delineadas. O comparante atua como determinante do atributo.

As funções e a excelência da comparação são próximas às da metáfora. O objetivo de uma comparação é criar uma atribuição expressiva. Isso se obtém quando: o atributo é muito pertinente ao comparado ou quando é muito característico do comparante.

A comparação torna palpável a relação entre o comparado e o atributo nos aspectos de qualidade e quantidade.

A comparação atenua ou agrava, conforme o caso.

Paráfrase

É o discurso semelhante a outro preexistente. A paráfrase é praticada com várias intenções:

  • Adaptar uma mensagem a outro contexto visando atualizar ou adequar ao contexto novo, etc.
  • Criticar o discurso preexistente ao criar uma versão que enfatiza, hipetrofia, atrofia, atenua, agrava, extrapola, minimiza, maximiza ou outra dualidade que altere a valoração que se supõe haver em torno do pré-existente.
  • Fazer caricatura. Neste caso o recurso principal usado é a hipérbole.

A paráfrase pode-se dar em diversos níveis do discurso: gráfico, fonológico, gramatical, semântico, mimético e havendo semelhança de estilo, no estilístico.

Quando a paráfrase visa produzir humor, chama-se paródia.

O resumo é uma paráfrase de conteúdo, com alteração do grau de síntese.

Uma paráfrase mimética é a dos discursos que veiculam a mesma fábula.

Plurissignificação

É a admissibilidade de mais de um significado válido para o mesmo enunciado. Um exemplo: Hamlet ao responder sobre o que lia: ‘Palavras, palavras, palavras’.

Formalmente a plurissignificação é semelhante à ambiguidade. Na ambiguidade a duplicidade de significado tem efeito negativo. Não se consegue discernir qual das duas possibilidades é a válida. Já na plurissignificação, ambos os sentidos são válidos.

Paradoxo

É um enunciado indecidível quanto à sua veracidade ou falsidade, o que ocorre em função da forma e independente de verificação externa ao discurso.

Paradoxos de Russel: Chamados por Bertrand Russel de paradoxos das classes, são proposições sobre proposições que resultam falsas quando aplicadas a si mesmas. O exemplo de Russel foi o seguinte: ‘Numa folha de papel está escrito: o que se diz no verso desta folha é falso. Ao virar a folha, no verso deparamos com a afirmação: o que se diz no verso desta folha é falso.’

Um exemplo vindo da Antiguidade: ‘Epimênides diz que todos os atenienses são mentirosos. Epimênides é ateniense, logo, o que ele diz é uma mentira e os atenienses não são mentirosos, logo …’

Os paradoxos de Russel são muito usados, em especial no discurso filosófico, o que traz problemas filosóficos mal vislumbrados, além de efeito retórico que é o nosso interesse. Alguns exemplos:

  • Só sei que nada sei.
  • Não existe filosofia perene.
  • Palavras são palavras, apenas palavras.

Tautologia

É o enunciado que resulta sempre verdadeiro, não importa a veracidade de suas variáveis. Exemplos:

  • Cada um é o que é.
  • O que está feito está feito.
  • Ou é ou não é.

Interjeição

Interjeições são ocorrências típicas do uso expressivo da linguagem. As características principais do uso expressivo são:

  • Externa estados de ânimo.
  • Emprego de signos próprios, geralmente originados a partir de ocorrências do uso comunicativo. Ocasionalmente pode lançar mão de signos não expressivos.
  • Não se volta para um receptor.
  • Não é comunicação, propriamente. A interjeição não veicula uma mensagem, ela indica um estado de ânimo.

Há ocorrências de discurso totalmente expressivas e outras totalmente comunicativas. Mas também há ocorrências em que os usos se interceptam. Por exemplo:

Quando alguém dá uma topada numa pedra e solta um palavrão, temos um uso todo expressivo, pois, o palavrão não se dirige a ninguém, apenas externa um estado emocional.

Uma característica relevante da interjeição é a brevidade.

Tipos de interjeição: Há ocorrências que só aparecem no discurso como interjeições. Por exemplo: ‘uau’, ‘ai’, ‘ui’, ‘Caramba’.

Há ocorrências que ora se dão como interjeição, ora como signos do uso comunicativo. Por exemplo: ‘Puxa’, ‘Droga’, ‘ Diabos’. Neste caso há uma polissemia, em que uma das possibilidades de uso do termo é expressiva e outra comunicativa.

A origem das interjeições: as interjeições são signos e formam-se por mecanismos diversos como:

icônico. Imitam sons não fonológicos associados aos estados emocionais que externam. Por exemplo: ‘ai’, ‘ui’.

Uso de palavras tabu. As interjeições que usam palavras tabu, como os palavrões, têm a característica adicional de serem uma ruptura da sociabilidade.

As interjeições originam-se também a partir de enunciados comunicativos correlatos com o estado de ânimo em questão. Exemplo: ‘Por Deus’, ‘Nossa’, ‘Pelas barbas do profeta’. Nesses exemplos há uma mensagem presente na leitura imediata, mas veicular esta mensagem não é o objetivo da interjeição.

Ocorrências não morfológicas

São os meios que se lança mão para reproduzir classes de sons não morfológicos. Exemplos típicos são vistos nos quadrinhos: ‘Bum’, ‘plaft’, ‘splash’, ‘crac’. Há ocorrências não morfológicas nos discursos escrito e oral.

É comum essas ocorrências serem símbolos. Nos quadrinhos, ‘Bang’ representa o som típico do disparo de uma arma de fogo. É símbolo mas não é signo, pois não é usado para citar o disparo mas para substituir o disparo na sua ocorrência.

As ocorrências não morfológicas, assim como os fonemas, não representam sons, mas classes de sons. Costumam ser em parte icônicas e em parte, arbitrárias. A representação perfeita geralmente não é possível, pois, os sons da fala raramente imitam com perfeição sons não fonológicos. Daí, geralmente as ocorrências não morfológicas serem símbolos verbais fonológicos não muito fiéis à classe de sons que procuram imitar.

Depois que uma ocorrência não morfológica se converte em símbolo, esta imitação imperfeita que ela realiza deixa de ser relevante, pois, a relação deixa de ser icônica para se tornar convencional.

Regras de supressão

A Retórica não se funda só no que se diz, mas também no que não se diz. Existem inúmeras regras de supressão para o discurso. Algumas notáveis:

  • Da indução fonológica: é típica da prosa quando esta evita rimas, repetições, ecos, aliterações, trocadilhos, ritmos, métricas, iconias fonológicas, ou seja, elimina-se do discurso tudo que leva à indução de semelhanças ou repetições no nível fonológico do discurso. Essa é uma regra do discurso elaborado. No discurso espontâneo, as induções ocorrem de forma assistemática.
  • Do clichê: É típica do discurso de pretensão bem-comportada, sisudo. O difícil é chegar a um acordo sobre a que se aplica o conceito do clichê. O jornalismo sempre se propõe esta regra e sempre a descumpre.
  • Do calão, da gíria, do regionalismo, do jargão. É uma regra típica dos discursos que pretendem servir a um espectro largo de receptores.
  • Das anomalias.
  • Das ocorrências fáticas e metalingüísticas. É típica do discurso elaborado sem retorno.
  • Das referências de contexto circundante. Típica do discurso público.
  • Da contradição e outras transgressões à lógica formal quando essas transgressões não podem ser interpretadas como recursos semânticos de Retórica.
  • Do que prejudica a comunicabilidade.
  • Do raro.
  • Do anacoluto, da reticência. Típica das ocasiões em que se deseja passar impressão de segurança.
  • Dos desvios do idioma-padrão.
  • Da redundância.

Todas as regras de supressão relacionadas acima são típicas de algum tipo de discurso com pretensões específicas, não podendo ser encaradas como válidas em geral.

Ocorrências metalinguísticas

Ocorrências metalingüísticas são trechos do discurso que tratam do código que está em uso. Nestes casos é comum uma palavra ser tomada não como instrumento do código, mas como objeto, seja enquanto signo, enquanto significante ou enquanto significado. Exemplos: O que quer dizer tal palavra?Tal palavra é muito sonora.

Nas ocorrências metalinguísticas é comum ser necessária a distinção entre uso e menção. Por isso cria-se mecanismos para distinguir quando um fragmento de discurso está sendo usado ou mencionado.

No discurso escrito, os mecanismos costumam ser convenções editoriais. Por exemplo: o uso de parênteses, apóstrofos, colchetes, barras, que convencionalmente, caracterizam a condição de uso ou menção do fragmento por eles delimitado.

Tanto no discurso oral como no escrito podem ser usadas balizas metalinguísticas. Por exemplo: ‘aqui se fala da palavra ‘tal’ e não do que ela se refere’.

Ocorrências fáticas

Uma ocorrência fática é um trecho do discurso que trata do andamento do ato comunicativo tal como:

  • Verificação de contato e sintonia. Exemplos: ‘Alô’, ‘Escute bem.’
  • Retificações. Exemplos: ‘Quer dizer…’, ‘Não usei a palavra certa …’
  • Verificação de transmissão. ‘Entendeu?’, ‘Ficou claro?’

As ocorrências fáticas são típicas do discurso espontâneo com retorno. No discurso elaborado sem retorno, as ocorrências fáticas costumam ser suprimidas.

Retificação

É toda ocorrência que apaga uma ocorrência anterior.

Exemplo: ‘Você multiplica por dois, quer dizer, ou melhor, multiplique por três’.

Quando ocorre sem intenção resulta de idas e vindas do entendimento. A retificação é típica do discurso espontâneo distenso, mas há certos casos em que é praticada intencionalmente no discurso elaborado. Nessas ocorrências de retificação intencional, costuma haver alguma relação entre o que se apaga e o que lhe substitui. A relação pode ser, por exemplo, a aparência e a realidade, o verdadeiro e o falso, o pretendido e o alcançado, etc. Nesta situação a retificação ganha função crítica.

Um caso particular de retificação é a retificação gradativa, na qual o substituto é semelhante em natureza ao apagado, mas diferente em grau.

Vocativo

Vocativo é toda invocação do receptor. Exemplos: ‘Você, pare’. ‘ Meu caro, vê se me entende’. ‘ João, é de você que estamos precisando’.

O vocativo é praticado com função fática ou apelativa. Na função fática visa confirmar a transmissão. Na função apelativa, busca-se um ganho de intimidade pela reiteração da exclusividade do discurso, como se o receptor dissesse: é para você que estou falando.

Qualidades notáveis de recursos retóricos

As características a seguir, normalmente são arroladas como recursos de Retórica, mas, na verdade, são apenas propriedades desses recursos.

Sinestesia

Sinestesia é a propriedade do discurso que gera uma associação entre uma sensação e outra sensação, ou uma impressão, ou uma situação. Exemplos:

  • Sensações evocando sensações: ‘cor quente’, ‘doce música’, ‘voz áspera’. Todos os exemplos dados são metáforas sinestésicas.
  • Sensações evocando impressões: ‘sabor de pecado’, ‘música sensual’, ‘imagem do medo’. Os exemplos dados são metonímias.
  • Emoções evocando sensações: ‘amor quente’, ‘sentimentos úmidos’. Os exemplos são metáforas.
  • Situações evocando sensações e vice-versa: ‘amargo regresso’, ‘sendeiro luminoso’, ‘comportamento frio’. Os exemplos dados são metáforas.

Impressionismo: ocorre quando uma situação, sensação, ou mesmo impressão se associa a uma impressão.

Personificação: é a atribuição de características humanas a coisas não humanas. Exs: ‘tempestade furiosa’ (metáfora), ‘triste madrugada’ (metonímia).

Materialização: é o recurso que associa uma noção abstrata a algo concreto. Exs: ‘amor sólido’, ‘determinação férrea’.

Palpabilidade: é a característica do discurso que traz o conceito para a área do familiar, do mensurável, do concreto, do preciso, para o receptor.

Há muitos casos de sobreposição de característica.

Exs.: ‘Triste madrugada’ é uma metonímia prosopopéica e impressionista.

‘Amor quente’ é uma metáfora sinestésica e impressionista.

Figuras de linguagem (Recursos retóricos)

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Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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