Ecológico é …

Algumas ideias ecológicas poderosas.

Ter poucos filhos

Você pode adquirir hábitos sustentáveis como ir ao supermercado com sacola de pano ou pedalar na magrela para ir ao trabalho. Tudo isso é bom para o meio ambiente, mas algumas atitudes têm um peso realmente estratégico na preservação do ambiente. Provavelmente, a decisão de maior repercussão ambiental que você pode tomar na vida é a definição sobre quantos filhos vai ter.

Eu não conheço ninguém que optou por ter menos filhos porque isso é bom para o meio ambiente. Quem planeja uma família menor, normalmente têm razões não ecológicas em mente como garantir uma formação mais sólida para os filhos. De qualquer forma, estamos diante de um belo caso de união do útil com o sustentável.

As famílias brasileiras têm encolhido nos últimos anos. Minha avó Judite teve sete filhos, minha mãe Helena teve dois e minha esposa Áurea, também dois. No meu círculo de convívio conheço vários casais com filho único e alguns que não têm filhos. Caminhamos para uma realidade típica de países onde o tsunami populacional perdeu a força. Itália e Áustria, por exemplo, já convivem com a redução populacional. No Brasil, nossa população ainda cresce, mas a previsão é de estabilização por volta de 2030.

Infelizmente, em muitos países o crescimento populacional ainda é explosivo. São países pobres, o que quer dizer que a maior parte das crianças que estão nascendo está fadada a crescer na pobreza. O crescimento populacional além de ser um problema ambiental é um sério problema social. Planejamento familiar é um assunto delicado que exige pensar em muitos aspectos da nossa vida, um deles é o mundo que vamos deixar para nossos filhos.

Ter carro e não usar

Cedo ou tarde todo mundo poderá ter um carro porque a renda aumenta e a tecnologia avança. E pode estar certo que quando esse dia chegar, tirando alguns poucos desprendidos, todos vão optar por ter seu belo carro. Nem precisa dizer que isso pode nos levar ao caos no trânsito e a uma tragédia ambiental, a menos que …

A menos que os carros fiquem a maior parte do tempo na garagem. A consciência ambiental evolui a passos de cágado. Vivemos na civilização da gasolina e as pessoas consideram o carro uma necessidade, embora ele seja mesmo uma comodidade e um símbolo de status. Diante disso, não adianta radicalizar. Em vez de pedir às pessoas que fiquem sem carro é melhor convence-las a reservar o carro apenas para os momentos necessários e significativos. Para ir ao trabalho: transporte coletivo; para passear com a família no final de semana: carro. Para correr para o hospital em uma emergência: carro; para levar o filho à escola todo dia: transporte escolar.

O uso essencial do carro é uma ideia mais assimilável pela população do que a extinção dessas máquinas. Nesse contexto de uso reduzido a população aceitaria melhor iniciativas como fechar algumas áreas da cidade ao carro particular. Carro: use com moderação.

Comprar na banca e trocar no sebo

Certa vez meu filho Otávio me perguntou se eu conhecia um sebo, pois ouviu dizer que lá encontraria mangás por um precinho bom. Satisfeito pensei: Esse garoto está me saindo melhor que a encomenda. Fomos ao sebo e descobrimos que eles fazem trocas 2 por 1. Você leva duas revistas lidas e volta com uma que ainda não leu. Propus então um probleminha bibliomatemático para o Otávio.
O sebo faz trocas na proporção 2 por 1. Otavinho tem 100 gibis lidos. Quantos gibis poderá ler se frequentar o sebo?
Frequentar o sebo é uma ação ecológica. Você lê mais gastando menos e permite que um bem cultural seja usado por mais pessoas. A indústria da cultura não sai prejudicada porque o sebo depende da publicação de livros novos para girar o seu negócio. O leitor consciente frequenta tanto a livraria como o sebo. Na livraria ele vai buscar o livro novo que passará adiante no sebo depois que a obra cumpriu sua função que é fertilizar a cabeça do leitor.

Repare que há uma diferença fundamental de comportamento entre o leitor que coloca o livro na estante e o que vai ao sebo fazer trocas. O primeiro fica com um estoque de livros sempre à mão, mas lerá menos com seu dimdim. O que vai ao sebo não terá estoque de livros em casa, mas poderá ler bem mais com o mesmo investimento. E aí vem a pergunta: o que é melhor? Livros na estante ou livros na cabeça? Quem não tem problema com dinheiro vai dizer que prefere o bem ‘virgem’ na estante e, talvez, na cabeça. Quem se preocupa com o meio ambiente e não vê problema em ler um livro que já passou por outra mão não vai se deixar seduzir pelo milenar e genético impulso da acumulação. Aliás, o passo seguinte dessa escalada ecológica é aderir à leitura on-line.

Resolução do problema bibliomatemático

  • Você vai ao sebo com 100 gibis e volta com 50.
  • Vai ao sebo com 50 e retorna com 25 gibis.
  • Vai ao sebo com 24 e retorna com 12.
  • Vai com 12 e volta com 6.
  • Vai com seis e volta com 3.
  • Vai com 4 e volta com 2.
  • Vai com 2 e volta com 1.

Conclusão: no final das idas e vindas você terá lido 199 gibis e ainda terá um na mão.

Demolir viadutos

A Prefeitura de São Paulo decidiu demolir o viaduto Diário Popular de 540 m localizado na região central de São Paulo. O viaduto vai ao chão porque outras obras absorveram o fluxo de veículos que passava por ele transformando-o em um Belo Antônio. A prefeitura considera que a área no entorno do viaduto vai se valorizar com a sua demolição. No seu lugar será implantado um parque.

A notícia boa é que um viaduto vai desaparecer, a ruim é que ele será desativado porque obras de maior porte absorveram a sua função. Recursos foram gastos para ergue-lo e mais recursos serão consumidos para destruí-lo enquanto o problema do trânsito em São Paulo continua.

Quem dera muitos viadutos fossem ao chão por falta de uso. Ouso dizer que o dia mais ecológico de São Paulo vai acontecer quando o Minhocão com seus 3 km de extensão for dinamitado. Mas para isso acontecer é preciso torná-lo inútil. Conseguiremos fazer isso? Chegará o dia em que não precisaremos mais de viadutos? No lugar de viadutos, parques, no lugar do asfalto, grama. Esse é o novo progresso.

Padronizar

O carregador do meu notebook foi para o espaço e eu sai atrás de um novo. A primeira pergunta que lhe fazem antes de vender esse acessório é: Qual é a marca e modelo do seu notebook? Como assim? É um simples carregador. Pois é, mas a voltagem de saída pode ser 12, 14, 16, 19, 20, 22 ou 24V e cada notebook exige um plug diferente. Durante minha pesquisa, fiquei sabendo que existem os carregadores universais. Eles vem com um seletor para ajuste da voltagem de saída, além de um pente de plugs intercambáveis. Com sorte, seu notebook vai se enquadrar em uma das combinações possíveis do carregador universal.

O carregador universal é um aparelho mais complexo do que os modelos específicos e, pela lógica, deveria custar mais caro. Na prática, o preço do carregador universal é um terço do cobrado por carregadores dedicados. É a lei da oferta e da procura em ação, obviamente. Apesar de mais complexo, o carregador universal tem maior rotação de estoque, menos variações na linha de montagem, etc. Só isso já bastaria para provar que o carregador universal é mais ecológico que os dedicados, mas pensando além, o ideal mesmo seria a padronização. Por que os fabricantes não pode produzir todos os notebooks com a mesma voltagem ou, pelo menos, com o mesmo plug?

A padronização dos carregadores já foi conseguida na indústria de celulares. As pessoas podem trocar de celular e continuar usando o mesmo carregador. Isso evita o descarte de milhares de toneladas de carregadores que são jogados fora em boas condições de uso. Fica aí o exemplo para a indústria da Informática. Em muitos casos, a intercambiabilidade de peças já foi alcançada. Os estabilizadores de tensão para computadores dektop, por exemplo, são universais há muito tempo. Você compra um estabilizador de tensão pela potência e não para uma marca específica de computador.

O carregador universal de notebook de hoje bem que poderia ser substituído por um carregador realmente universal. Uma só tensão de saída e um só tipo de plug. Esse carregador seria mais barato do que todos os modelos fabricados hoje em dia graças aos ganhos de escala. Pensando bem, não é só o carregador que poderia ser padronizado. Ele apenas alimenta a bateria e essa é a parte de maior impacto ambiental de um notebook. Qualquer iniciativa que aumente a vida útil da bateria é muito bem-vinda para o meio ambiente.

Doar

Muitas pessoas exageram no consumo durante o Natal, mas também é nessa época que ficamos mais propensos à generosidade, o que é bom para o meio ambiente. A dica ecológica natalina é doar na mesma proporção que consumir. Doar é fraterno e ajuda o meio ambiente de várias formas. A doação amplia a vida útil de bens, evita o descarte antecipado e a armazenagem por longos períodos de coisas que poderiam ser úteis nas mãos das pessoas certas. Para que a doação seja realmente ecológica, porém, é preciso levar em conta algumas boas práticas, tais como:

Vida útil. O bem doado deve estar em boas condições de uso e com uma razoável vida útil pela frente. Não adianta doar o que já era. Nesse caso, envie você mesmo o bem para a reciclagem ou o restaure antes de doar. Siga o exemplo das pessoas que consertam voluntariamente brinquedos velhos doados para que tragam alegria a quem os recebe em vez de frustração.

Baixa eficiência. Uma geladeira velha e mal conservada provavelmente tem consumo alto de energia. Quem receber esse aparelho vai gastar muito na conta de luz e pensando no meio ambiente seria melhor tirar definitivamente o trambolho de circulação.

Transferência de mico. A indústria está sempre produzindo bens de utilidade duvidosa. Obviamente, bens desse tipo não deveriam ser adquiridos, mas se você embarcou nessa furada antes de doá-los, confira se o presente vai ser útil ao presenteado, caso contrário, você está apenas passando o mico adiante.

Se você preferir, pode vender o que já não tem utilidade na sua vida em vez de doar. De qualquer maneira o meio ambiente será beneficiado e você vai ajudar alguém, que comprará o bem por um valor baixo. Só não seja avaro, pois é tempo de Natal.

Aparelho multifuncional

Comprar um aparelho com três funções é mais ecológico do que comprar três aparelhos mono função. Menos matéria prima é utilizada, menos energia é gasta na fabricação, menos embalagens, menos espaço para guardá-los, etc. Geralmente, o aparelho multifuncional é mais barato do que o conjunto de aparelhos mono funcionais que ele substitui. Por isso, seja ecológico e economize dinheiro. O aparelho multifuncional só deixa de ser interessantes se você for um usuário avançado dos recursos que ele traz. Se você tira fotos profissionais é claro que não vai ficar satisfeito com a câmera de um celular. Mas se você utiliza os recursos do aparelho em nível básico, não tem problema. Quando for às compras, pense em alguns desses dispositivos multifuncionais:

Home theather. Amplifica o som e toca rádio, CD, DVD, MP3, além de se conectar com vários aparelhos como TV, computador ou toca discos.

Impressora multifuncional. É impressora, scanner e copiadora. Integrada ao computador, também pode ajudar no envio de fax.

Multi processador de alimentos. É liquidificador, batedeira, espremedor de frutas e ainda pica e rala.

Smartphone. Além de telefone móvel, têm câmera, rádio, MP3 player, relógio, dá acesso à Internet, funciona como computador simples e alguns têm até GPS.

Para finalizar, lembre do aparelho mega hiper multi funcional chamado computador. Alguém já conseguiu listar quantas coisas o computador substitui?

Trocar asfalto por grama

Faz muito tempo que se fala em metrô para Curitiba. A cada campanha eleitoral, os candidatos se revezam em promessas sobre a criação do metrô curitibano. Não sei se o metrô vai sair um dia ou não, mas o que me chamou a atenção no último projeto para o metrô é a grama. Vou explicar: O transporte coletivo de alta capacidade em Curitiba é feito em vias exclusivas, aqui chamadas de canaletas do ônibus expresso. A principal delas corta a cidade de norte a sul. A proposta da atual administração é construir o metrô embaixo dessas vias exclusivas e, dessa forma, a canaleta pode ser desativada. No seu lugar, serão construídos jardins e áreas de convívio.

É o asfalto cedendo lugar ao verde. As áreas cortadas pelas canaletas ficarão mais agradáveis, menos ruidosas, mais valorizadas. Na lógica desenvolvimentista, asfalto é sagrado, traz status para a cidade e deve aumentar sempre. Nessa escola urbanista, parece sacrilégio propor a substituição de uma rua asfaltada por um jardim. Felizmente, o desenvolvimentismo faraônico está cedendo terreno a uma visão mais arejada sobre a qualidade de vida urbana. Espero que nos próximos anos Curitiba volte a assumir a vanguarda no urbanismo brasileiro e que muito asfalto seja trocado por grama.

Plantar espécies nativas

Eu circulava pelo final da rua Sete de Setembro em Curitiba, quando observei uns araçás caídos no chão. Pensei comigo: caraca, não como araçá desde quando era criança. Eram araçás vermelhos de um araçazeiro plantado pela prefeitura. Há muitos araçazeiros nesse trecho da avenida. Eles estão ainda em formação, mas já produzem frutos. Fui me informar e soube que se trata de um projeto da prefeitura para a substituição gradativa das espécies exóticas por plantas nativas da região.

Desde 2007, os proprietários curitibanos podem derrubar em seus terrenos uma árvore de espécie exótica como pinus e eucalipto desde que compensem a ação plantando pelo menos cinco mudas de espécies nativas como araçazeiro, guabirova ou araucária. Eu li algumas críticas ao projeto com as quais não concordo. Uma delas alertava sobre o perigo de uma repentina poda geral das árvores na cidade. Bem, eu entendi que a substituição deve ser gradativa. Outra crítica mencionava a dificuldade de se definir o que é uma espécie exótica em meio urbano. Para mim, a ideia é bem clara: valorizar as espécies nativas pelo benefício ambiental que isso representa. As espécies nativas são adaptadas ao local e favorecem a proteção da fauna, entre outras vantagens.

Para minha felicidade, esse ano o araçazeiro lá de casa deu sua primeira safra. Um segundo araçazeiro plantado por minha filha no ano passado também cresce viçoso no quintal, indiferente aos rabugentos críticos das espécies nativas.

Viver como nossos avós

Costumo dizer que ecológico é agir como nossos avós. Esses dias, uma colega de trabalho me lançou uma provocação bem humorada:

— Você quer dizer que devo sair por aí derrubando pinheiros?

De fato, o questionamento dela faz sentido e, por isso, vou esclarecer o que quero dizer quando defendo o estilo de vida de nossos avós.

Meus avós paternos, Napoleão e Judite, levaram uma vida simples, saudável e em contato com a natureza. Eram pessoas com um padrão de vida razoável para a época em que viveram, mas eles tinham uma casa com poucos bens se compararmos com o padrão típico das casas de hoje. O consumo de energia elétrica dos meus avós era menor que o das famílias de hoje, pois naquela época nem se falava em televisor, freezer, ar condicionado, máquina de lavar e outras comodidades modernas. Na cozinha, usava-se lenha em vez de GLP; automóvel naquela época era um luxo; longas viagens de turismo eram impensáveis e quase não se usava embalagens descartáveis. No cotidiano de meus avós havia poucos deslocamentos e eles praticamente não consumiam produtos processados industrialmente. Bem, esses são alguns aspectos ambientalmente positivos da vida de meus avós,  mas agora vamos à outra parte da história.

Meu avô Napoleão durante um período da sua vida teve uma serraria. O casal pôs no mundo sete filhos, o que nem era muito para a época, mas essa prole certamente contribuiu para a explosão populacional do século XX. Não faria sentido eu culpar meu avô por ter derrubado muitos pinheiros, nem minha avó por parir tantos filhos. Eles seguiam a cultura da época e eu não estaria aqui escrevendo posts se eles tivessem agido de outra forma. Outra coisa: na época dos meus avós havia poucos carros, mas os modelos que circulavam naquele tempo consumiam o dobro do combustível se comparados com os carros de hoje. Os aparelhos elétricos que começaram a se popularizar na época da vovó não tinham metade da eficiência energética dos eletrodomésticos de hoje.

Como se vê nesses poucos exemplos, nossos avós eram mais ecológicos do que nós em muitos aspectos, mas não em todos. Ao longo dos anos houve ganhos na produtividade econômica, evoluímos em tecnologia e melhoramos em consciência ambiental, mas por outro lado, a população cresceu e adquirimos hábitos de consumo mais poluidores. No balanço geral, o impacto ambiental humano hoje é muito maior hoje do que no tempo de nossos avós. Por isso, quando se mirar no exemplo de seus avós, faça uma assimilação seletiva do estilo de vida dos velhinhos.

Ambientalismo

Minimalismo raiz x minimalismo Nutella

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