Hostel
Direção de Eli Roth
2005 : EUA : 95 min
Com Jay Hernandez e
Barbara Nadeljakova.
Esse filme já entrou na lista dos mais violentos de todos os tempos e tem boas chances de encabeçá-la. É claro que existe violência e violência. As pessoas de bom senso repelem apenas os filmes com violência gratuita e glamourizada. Sob circunstâncias apropriadas, a violência pode levar à reflexão, mas é difícil dizer em que categoria se enquadra O Albergue.
Sua violência é estúpida ou tem dimensão filosófica? O diretor Eli Roth se diz satisfeito em ver os espectadores com o estômago revirado por causa do filme e que seu objetivo era esse mesmo. Eu, como membro do grupo dos estômagos revirados, confesso que fechei os olhos em algumas cenas e que passei o dia seguinte com o apetite estragado e com algumas imagens me atormentando. Talvez por ser tão chocante, O Albergue acabe nos forçando à reflexão.
O filme conta a história de três jovens mochileiros, dois americanos e um islandês, que viajam pela Europa em busca de aventuras. Por sugestão de um desconhecido, acabam viajando à Bratislava, na Eslováquia, onde supostamente as garotas são lindas e adoram transar com estrangeiros.
Chegando na cidade, os três jovens se hospedam em um albergue onde realmente há belas garotas bastante acessíveis. Até demais, convenhamos. Em pouco tempo, um deles desaparece e os dois que restaram resolvem se entreter visitando um museu da tortura. Bem, nesse ponto o espectador começa a deduzir o que virá em seguida.
Podemos dividir o filme em três partes. Na primeira, a que mais lembra um filme de terror trash adolescente, temos a criação do clima. Os três mochileiros percorrem a Europa em busca daquelas coisas clássicas: algazarra, bebidas, sexo e drogas e são bem sucedidos em seus propósitos. Na segunda parte, temos o sadismo extremo e sem atenuantes, com direito a centenas de litros de sangue, mais de 500, segundo dados da produção. Na última parte, temos a fuga frenética e a vingança brutal.
Quentin Tarantino é produtor executivo do filme e deu pitacos no roteiro. Sua influência na obra é visível. Temos os elementos típicos da escola tarantina: flerte com o trash, violência extrema, amoralidade, sadismo. Tudo isso faz com que O Albergue seja uma obra polêmica, por excelência. Além de todo o questionamento em torno de seu tema central, violência sádica desenfreada, outras questões marginais igualmente polêmicas completam o conjunto.
O Albergue nos mostra adolescentes hedonistas, mimados e dissolutos, uma Europa sofisticada, mas decadente, crianças de rua que agem como uma matilha de lobos e americanos enfrentando inimigos por todos os lados e das mais variadas nacionalidades.
O Albergue não é o primeiro filme hiper violento da história. A violência sempre esteve presente nas narrativas. Desde a tragédia grega, violência e morte permeiam a arte e com o cinema não poderia ser diferente. Desde o início, houve filme violentos, mas temos que admitir que há um crescimento espiral da intensidade, como se houvesse uma busca pela quebra de recordes em violência explícita.
Já vão longe os tempos de Psicose, em que a morte era apenas sugerida pela água turva de sangue escorrendo pelo ralo da banheira. Quentin Tarantino é um dos diretores que levaram a violência cinematográfica a um novo patamar e o diretor Eli Roth parece disposto a bater todos os recordes. Onde vai chegar essa escalada? O promissor Eli Roth é um dos diretores que pode nos dar a resposta.
Para finalizar, a reflexão inevitável. Toda a violência que revira o estômago do espectador na parte central do filme, a do “açougue”, é repetida na última parte, a da vingança brutal. Só que no final, nosso estômago não fica revirado. Até vibramos com os sucessos do rapaz porque estamos sedentos de vingança e a vontade de fazer justiça com as próprias mãos nos transforma. Só resta perguntar: afinal, qual é a diferença entre a violência de um sádico e a de alguém possuído pela fúria? Nenhuma. Os dois se divertem, cada um ao seu modo.
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