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Tradutor português/internetês

No endereço abaixo você encontra um tradutor que converte textos em português padrão para um dialeto internetês conhecido como miguxês. Quem diria, o internetês tem até dialetos. Você logo vai perceber que o miguxês é um dialeto descolado para mocinhas.

Eu gosto das discussões sobre internetês porque nos levam a uma reflexão profunda sobre a língua em todos os seus níveis. Mas como esse post tem caracteres contados, vou apenas lembrar um conselho de Lech Walesa dado ao Presidente Lula em uma entrevista ao Fantástico. Era o início do primeiro mandato de Lula como presidente e Walesa disse que o presidente Lula dispunha de um aquário cheio de peixinhos e que para fazer uma sopa com ele bastaria ferver a água do aquário.

Na Polônia, disse Walesa, o problema era outro: eles dispunham de uma sopa e queriam transformá-la em um aquário cheio de peixinhos. Vou adaptar a história do Walesa ao contexto dos tradutores: converter o português padrão em internetês é bem fácil, o problema é inventar um software que converta internetês em português padrão. De qualquer forma, o tradutor Miguxeitor é bem divertido. Vale a pena conferir para dar umas risadas.

http://aurelio.net/web/miguxeitor.html

A superioridade do internetês

Não sei me expressar em internetês como meus filhos, o que não me impede de ter uma certa admiração por essa variante de escrita que se difundiu pela Internet. Continuarei escrevendo na ortografia padrão, mas tenho certeza que o internetês vai influenciar profundamente as reformas ortográficas do futuro. Quando a garotada de hoje estiver no poder, vai querer incorporar alguns princípios do internetês na escrita oficial. E quais seriam as qualidades do Internetês? Nenhuma, diriam os tradicionalistas ranzinzas, mas olhando bem elas existem sim. Vejamos:

  • Se escreve como se lê. É o velho sonho da escrita fonológica que ressurgiu com o internetês. Para que ficar pensando se a palavra se escreve com x ou ch? É com sc, ss ou ç? O que importa é o fonema representado.
  • Fim das maiúsculas. As maiúsculas têm função meramente cerimonial na escrita oficial. Se fossem eliminadas, não haveria prejuízo nenhum ao entendimento da escrita.
  • Abreviar sempre. O internetês é bom na arte de abreviar. Você vira vc. Só ficam as consoantes suficientes para captar a mensagem. Trata-se de uma técnica antiga e eficiente encontrada em outras ortografias.
  • Emoção na escrita. O internetês encontra recursos para expressar no texto as emoções de quem está escrevendo. Os emoticons e outros recursos que colocam no papel a entoação deixam o internetês mais expressivo que a ortografia oficial.
  • Criatividade. O internetês abusa da criatividade e com isso consegue efeitos muito interessantes. A escrita fica mais estética e bem humorada.
  • Rapidez. O internetês é cheio de abreviaturas para dar velocidade na escrita.
  • Escrita ideogrâmica. Os emoticons, por exemplo, inserem emoções na escrita e a ortografia tradicional não tem recursos similares. Os emoticons funcionam porque são icônicos, ou seja, lembram graficamente a emoção que representam. 😀
  • Racionalidade. para que usar acentos e maiusculas? a comunicaçao funciona bem sem esses elementos da escrita. a ideia de acabar com os acentos na lingua portuguesa causa arrepios de indignaçao nos tradicionalistas, mas a garotada sabe que acentos e maiusculas sao completamente inuteis.

E sobre os defeitos do Internetês? Certamente existem, mas deixo a missão de identificá-los a cargo daqueles que defendem a expressão nos rigores do português castiço.

Não sei escrever em internetês

Confesso essa lacuna em minha formação: não sei me expressar em internetês. Felizmente, não há nenhum contexto social em meu cotidiano que me obrigue a usar essa nova forma de expressão. No máximo, falo com meus filhos pelo zap, mas nesse caso não passo por constrangimento, pois eles toleram essa minha limitação linguística.

Sempre busquei a máxima proficiência na ortografia padrão, meta que hoje considero inatingível. Você caro leitor, se encontrar algum deslize ortográfico neste post, por favor, deixe um comentário para provarmos juntos que o sonho da redação impecável é devaneio. De qualquer forma, a ortografia padrão é a minha referência.

Por razões que ainda não consegui mapear é a ortografia tradicional, rígida e castiça que procuro reproduzir sempre que escrevo. No máximo, em um ou outro ponto do texto tomo algumas liberdades em busca de um pouco de humor ou pelo fato de que a ortografia tradicional é pouco abrangente e não dá conta de toda a diversidade do idioma.

Internetês, vamos deixar claro, não é uma variante da língua. É uma nova forma de escrever, uma nova ortografia. Alguns podem ter a impressão de que o internetês corrompe o padrão culto do idioma, na medida em que registra por escrito formas populares de expressão. Na verdade, o âmbito do internetês se limita à escrita embora, em alguns casos, leve para o texto as formas populares da fala.

Para manter o equilíbrio, vou confessar que algumas coisas do internetês me irritam. Não gosto daqueles exageeeeeeeeros!!!!! POR QUE GRITAM TANTO????????

A minha simpatia pelo internetês não quer dizer que vou aderir a ele. Continuarei pelo caminho mais estreito e íngreme da ortografia tradicional. Existem na Internet tradutores que convertem a ortografia tradicional em internetês, mas ninguém até hoje criou um sistema que faz o contrário. Por que será?

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Radamés

Engenheiro curitibano pela UFPR, professor e produtor de conteúdos e ferramentas educacionais para a Internet.

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