Defiance
Direção de Edward Zwick
2008 : EUA : 137 min
Com Daniel Craig (Tuvia) e
Lev Schreiber (Zus)
Quando Moisés liderou seu povo na fuga do Egito em busca da Terra Prometida foi preciso cruzar o Mar Vermelho. Segundo a Bíblia, a travessia só foi possível graças à intervenção divina. Guardadas as proporções, Um ato de liberdade é uma história de superação, um verdadeiro Êxodo nos confins da Bielorrússia. Baseado em fatos reais, o filme nos conta a história dos irmãos judeus Bielski que lutaram contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Quase toda a família Bielski desapareceu no extermínio de judeus comandado pela SS durante a invasão da União Soviética. Para fugir da morte os irmãos se esconderam na floresta, mas não contavam que outros fugitivos viriam se juntar ao grupo. Com o tempo, forma-se uma comunidade de sobreviventes que terá que passar por provações de todo tipo: fome, frio, doença e perseguição.
Os dois irmãos mais velhos da família Bielski têm temperamentos opostos. Tuvia que lidera os sobreviventes é mais equilibrado e humanista. Tenta manter a dignidade em situações extremas, mas talvez por ser humano em alguns momentos rende-se aos instintos básicos. Em outros simplesmente faz o que precisa ser feito. Seu irmão Zus tem temperamento belicoso. Destemido e adepto das soluções sumárias, Zus prefere lutar com os partisans soviéticos onde se destaca e conquista a confiança dos comandantes pelo seu espírito aguerrido e apesar do preconceito dos russos contra os judeus.
A comunidade da floresta é uma pequena sociedade complexa com demonstrações de grandeza e solidariedade na maior parte do tempo, mas sujeita a divisões e histeria em situações críticas. Todos são obrigados a se adaptar a uma realidade nova e dura, onde os papéis que desempenhavam no passado perdem o valor. As habilidades e os valores de cada um são postos à prova.
Nesse ambiente primitivo de necessidades básicas o que importa é a capacidade de sobreviver. No meio da floresta não importa ser intelectual, refinado ou bem nascido. A nova realidade faz alguns perderem a fé, outros o caráter. Mesmo os íntegros optam pela justiça com as próprias mãos e a guerra estraga a todos. Felizmente, uns poucos mantem o foco e a esperança, mesmo que as perspectivas sejam as piores possíveis.
Provavelmente, a história dos Bielski foi adaptada para as necessidades do espetáculo cinematográfico. Pode ter sido glamourizada em um ou outro ponto, mas na maior parte do tempo o que temos é realidade crua e ninguém é poupado. As cenas de batalha são envolventes, a produção é impecável, o elenco é de nível, a direção é firme e as paisagens naturais são incríveis. Com todas essas qualidades, o filme ainda não recebeu o reconhecimento que merece.
Tenho a impressão de que algumas ressalvas ao filme tem a ver com seus posicionamentos implícitos mais do que com suas qualidades cinematográficas. No filme, alguns judeus eram partisans comunistas; outros duvidavam que o objetivo dos nazistas fosse a solução final; alguns bielorussos eram colaboracionistas e os russos anti-semitas. Críticos poloneses se irritaram com o filme por glorificar os Bielski, que teriam cometido atrocidades em território polonês durante a guerra. Quem sabe os críticos preferissem uma história menos previsível, menos edificante, mas aí a narrativa deixaria de ser histórica e profanaria a memória das vítimas e heróis daqueles tempos terríveis.
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