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Crítica | Z

Política como caso de polícia

Z
Direção de Costa-Gavras
1967 : Argélia : 127 min
Com Yves Montand (Doutor),
Irene Papas (Helene) e
Jean-Louis Trintignant (Magistrado)

Z é um thriller político descaradamente maniqueísta. Os bons do filme são cavalheiros altruístas, dedicados, austeros, intelectuais e bonitões. Eles lutam por uma causa justa e erguem bandeiras pela democracia, pelo pacifismo e pela independência das nações. Os maus, por outro lado, são toscos, truculentos, cômicos e abraçam causas de direita unicamente por conta de interesses mesquinhos.

Maniqueísmo político

Os maus preferem a ditadura, o anticomunismo, a xenofobia; no entanto, vão ao teatro ver o balé Bolshoi e um deles é pederasta. Seriam as contradições expostas da direita tacanha que pratica o que critica? Z mostra um mundo polarizado: nobres cruzados da política elegante contra rudes defensores do status quo retrógrado. Será que o mundo é simples e raso assim? Então, porque considerar Z um filme de grande importância? Primeiro, porque é baseado em fatos reais, depois, porque a visão implícita nas lentes de Z é um produto da Guerra Fria que, por extensão, retrata também outras realidades políticas desse mundão de Deus.

O mundo não é raso nem bipolar, mas infelizmente, muitas pessoas tentam faze-lo assim, logo uma obra que retrata essa visão de mundo tem sua importância. Ainda lembro de quando assisti Z no cinema na década de 1980. O filme tinha sido recém-liberado no Brasil, depois de ficar proibido por anos em nossas telas pela censura da ditadura militar. Lembro que fiquei injuriado com a truculência dos direitistas, vibrei com as reviravoltas do filme e sai do cinema purificado pela sua esperança de superação das trevas pela luz.

Naquela época, eu era universitário e acreditava no poder da mobilização das massas, etc, etc. Passados alguns anos, assisto Z com menos entusiasmo, mas com o devido respeito, talvez por saber que os bons não são tão bons assim, principalmente depois que assumem o poder e que o maniqueísmo é uma fonte inesgotável de atrocidades.

Costa-Gavras tem um estilo próprio e polêmico de fazer cinema político. Sua técnica consiste em transformar a questão política em um thriller de ação. Em Z, a fórmula foi aplicada com perfeição. O objetivo do filme é mostrar o autoritarismo bronco da política grega da década de 1960. A morte de um político de oposição é investigada por um magistrado que leva à risca a sua função de encontrar culpados, sejam eles quem forem. O filme se divide em três partes: na primeira, temos os antecedentes da tragédia.

Sonho de justiça

Vemos um grupo de políticos de oposição que preparam uma manifestação pacífica serem boicotados pelos poderosos locais. Na segunda parte, repleta de cenas de tensão em meio a confrontos de rua, ocorre o crime. É nessa parte que Helene (Irene Papas), esposa da vítima, faz sua parte que é mostrar como a truculência política alcança e arrasa o indivíduo. Na terceira etapa, temos a investigação. O promotor do caso, que aparentemente foi escolhido para não causar problemas para as autoridades, mostra uma desenvoltura que nos leva gradativamente ao entusiasmo à medida que percebemos que dessa vez o caso não vai terminar em pizza.

É uma delícia acompanhar o intrépido magistrado desmascarando os canalhas e ver, no final, os milicos entrando pelos canos. Infelizmente, a realidade é duríssima e o que sobra no final são apenas exemplos e promessas. Para quem pensava ser impossível fazer um thriller político, está aí. Z é um filme dos velhos tempos em que era possível distinguir os .bons dos maus na política.

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