Primeiramente, vamos classificar a função semântica das preposições segundo a necessidade. São três as possibilidades: necessária, abundante e redundante.
Necessidade semântica
Observe a série seguinte:
- Viajei com documentos.
- Viajei sem documentos.
Aqui, a função semântica da preposição é evidente. É pela preposição que diferenciamos o sentido dos enunciados. Nesse exemplo, se a preposição for removida o enunciado fica inaceitável e incompreensível. A preposição é necessária à compreensão do enunciado.
Abundância enfática
Observe o exemplo:
- Concordo com você.
Nesse caso, a preposição apenas enfatiza semanticamente o enunciado. O sentido de agrupamento, companhia, concordância, unidade, que a preposição agrega à frase já está presente no verbo. É impossível concordar contra alguém.
Temos uma situação em que a preposição apenas reafirma o sentido já portado pelos demais elementos do enunciado. Isso não quer dizer que a preposição pode ser removida da frase. A construção do exemplo é abundante, mas a preposição é obrigatória. Sem a preposição, o enunciado resulta inaceitável.
- * Concordo você.
Observe que a escolha da preposição nesses casos não é arbitrária. O significado portado pela preposição deve se harmonizar com os demais itens do enunciado.
Redundância enfática
Veja os exemplos:
- Procurar por alguém.
Procurar alguém. - Encontrar com um amigo.
Encontrar um amigo.
Observe que a preposição pode ser removida dos enunciados sem prejuízo para a compreensão ou para a aceitabilidade. A preposição, nesse caso, enfatiza semanticamente a mensagem. O importante nesse tipo de construção é que o significado associado à preposição se harmonize com os demais termos do enunciado.
Função adjetiva
Considere os exemplos:
- Caminhão de cimento.
- Piso de cimento.
Nos exemplos acima, a preposição de coopera na adjetivação do antecedente. O algoritmo para interpretar o enunciado pode ser expresso assim:
O antecedente tem um atributo intrinsecamente relacionado com o consequente e a preposição explicita a natureza dessa relação.
Mas qual atributo é considerado no conjunto preposicionado? No primeiro enunciado dado, podemos intuir que o caminhão transporta cimento e no segundo, que o material construtivo do piso é o cimento. Temos dois usos bem distintos para o trecho de cimento. Como o falante discerne qual é o sentido correto para esse tipo de adjetivação?
Trata-se de um mecanismo de associação metonímico. A natureza da relação entre o antecedente e o consequente não é explícita. É pelo contexto que o falante chega ao significado. Sem dúvida, nesses casos o falante deve contar com sua experiência acumulada, intuição e, às vezes, até com a imaginação. A preposição de coopera no processo, pois primariamente porta a ideia de origem, proveniência. Por meio de recursos retóricos essa significação básica gera significações correlatas como constituição, propósito, característica primária, etc.
O caráter adjetivo fica claro nas séries a seguir.
- Memória de prodígio.
Memória prodigiosa. - Homem de consciência.
Homem consciencioso. - Análise da qualidade.
Análise qualitativa.
Observe que sintagma preposicionado pode ser substituído a contento por adjetivos equivalentes.
Relação de posse
Em Português, a relação de posse é uma função adjetiva específica da preposição de. Dizemos:
- Livro de Pedro.
- Carro de Lúcia.
É interessante observar que a língua portuguesa, nesse detalhe, não herdou a solução do latim, que reservava uma flexão de caso especialmente para indicar a relação de posse.
Função adverbial
A preposição participa de várias construções com função adverbial. Predomina, nesse caso, a relação locativa e suas derivações.
Relações locativas
As relações locativas ou de movimento e situação são um caso específico de uso das preposições em função adverbial. Observe a série:
- Cheguei de Porto Alegre ontem.
- Estou em Curitiba hoje.
- Vou a São Paulo amanhã.
As preposições estão ligadas relações espaciais conforme o esquema:
origem=de > situação=em > destino=a
Vetor locativo
Para uma melhor compreensão das relações locativas vamos conceber o vetor locativo. Vamos considerá-lo como uma seta disparada de uma origem semântica, que passa através de uma posição referencial de situação e que avança para um destino semântico.
Baseados no vetor locativo, construímos frases como esta:
- Vim de Florianópolis. Estou em Curitiba. Vou a São Paulo.
A origem do vetor locativo se vincula a preposições como de. O local em que o vetor se encontra se liga a preposições como em, entre e por. Já o destino do vetor está associado a preposições como a e para.
Funções derivadas da locativa
Por derivação, as relações fundamentais de origem e destino, podem gerar outras relações como:
Origem = posição de referência.
Destino = posição relativa.
Veja nos exemplos, como isso se dá.
- Ele está a norte de Manaus.
- O país está à beira do abismo.
Na primeira frase, norte é uma posição relativa a Manaus, que foi tomada como referência. Na segunda frase, beira é uma posição relativa a abismo, que é a posição de referência da frase.
Por derivação de relações locativas, também se produz relações temporais. A correspondência, nesse caso é a seguinte:
Origem = Antes/Início
Destino = Depois/Fim.
Veja exemplos:
- O expediente se estende de 9 horas até 18 horas.
- Trabalhou de sol a sol durante toda a vida.
Dissipação da função semântica
A função semântica da preposição fica clara quando observamos séries como a seguinte:
- Falei a Pedro.
- Falei ante Pedro.
- Falei após Pedro.
- Falei com Pedro.
- Falei contra Pedro.
- Falei de Pedro.
- Falei em Pedro.
- Falei para Pedro.
- Falei perante Pedro.
- Falei por Pedro.
- Falei sem Pedro.
As frases acima se distinguem quanto ao sentido pelo uso da preposição. Percebe-se nelas uma clara função semântica da preposição. Por outro lado, existem muitos casos em que a função semântica da preposição se dilui consideravelmente. Veja alguns exemplos em que a preposição sofreu esvaziamento da função semântica.
- Acabo de comprar um livro.
- Assisti ao filme.
- O médico atendeu ao paciente.
- Ele está para chegar.
- Pensei em você.
- Precisamos de tempo.
- Ele simpatizou com você.
Deliberadamente, escolhemos exemplos em que a preposição sucede um verbo. Nesses casos, o uso da preposição é condicionado por algumas características da frase, mas principalmente pelo verbo que a antecede.
Poderíamos nos questionar: afinal, por que simpatizamos com alguém, em vez de * simpatizar a alguém ou * simpatizar por alguém? Aparentemente, o verbo simpatizar não permite escolha da preposição que o sucede por critérios semânticos objetivos.
Provavelmente, uma pesquisa histórica nos indicaria porque as preposições são usadas em frases como as exemplificadas. É provável que em fases anteriores da formação do idioma, a função da preposição fosse marcadamente semântica, mas o tempo se encarregou de dissipar o valor semântico da preposição nessas frases.
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Olá! excelente conteúdo. Mas tenho uma dúvida:
observe a frase
“Não há dependência entre os cônjuges para estar em juízo nas ações em
geral”.
Gostaria de saber:
1- qual a função sintática da frase “em geral”;
2- qual a função da preposição “para”.
Se puder dar uma ajuda, agradeço! rsrrs
Olá! excelente conteúdo. Mas tenho uma dúvida:
observe a frase
“Não há dependência entre os cônjuges para estar em juízo nas ações em
geral”.
Gostaria de saber:
1- qual a função sintática da frase “em geral”;
2- qual a função da preposição “para”.
Se puder dar uma ajuda, agradeço! rsrrsrs