Variante culta

A variante culta, também chamada de norma culta ou norma padrão, é a variedade linguística de caráter oficial para nosso idioma. É a variante recomendada para os contextos formais, estudada na escola, amplamente descrita e abonada pelos gramáticos normativos. Seu status é diferenciado em relação a outras variantes. Tem prestígio e tutores, tanto que é a única variante protegida por lei.

Gramática

Embora tutelada e descrita por muitos agentes da língua, a exata demarcação dos limites da variante culta, provavelmente, nunca será alcançada. Há muitos casos limítrofes, outros polêmicos e para completar o dinamismo da língua exige que os limites da variante culta sejam frequentemente redefinidos. Alguns falantes mais rígidos vão querer limites castiços, outros, mais liberais vão preferir fronteiras flexíveis e a discussão persistirá acesa sem que se possam estabelecer limites precisos.

Por que se ocupar da variante culta

Para a Linguística uma variante não é melhor que outra, por isso quando o gramático decide-se pelo estudo de uma variante específica pauta sua decisão por razões extra linguísticas. Em nosso estudo vamos nos ocupar da variante culta. Mas afinal, porque se ocupar dela, tão bem aquinhoada com estudos e tratados, enquanto variantes populares e regionais permanecem sem descrição? Vamos citar algumas razões para nossa escolha:

  • Amplitude. A variante culta tem o espectro de aceitação mais amplo entre os falantes, que a consideram adequada para boa parte dos contextos sociais de uso.
  • Relevância. A variante culta é a mais empregada no discurso escrito e este tem sua relevância social.
  • Evolução. A variante culta do português brasileiro neste início de milênio passa por um momento de transição. As gramáticas que estão nas prateleiras já não dão mais conta do seu estágio atual.
  • Defasagem. As gramáticas consagradas ocupam-se da variante culta, mas com uma defasagem considerável em relação à índole vigente desta.
  • Hegemonia. A variante culta é hegemônica e outras variantes convergem para ela graças à ação de vetores sociais como a influência dos meios de comunicação e da literatura didática.
  • Atualização. As gramáticas tradicionais ainda não incorporaram muitos avanços da Linguística, trazendo-nos modelos teóricos em muitos casos ultrapassados, o que torna necessário retomar a descrição à luz dos avanços da Linguística.
  • Oficial. A variante culta tem um caráter oficial que, quer queira, quer não, a torna privilegiada quando se considera a busca de um referencial unificador para o idioma.

As referências da variante culta

Nas gramáticas normativas, a alta literatura é a fonte que preferencialmente abona as prescrições. Esta prática vem de um tempo em que a alta literatura mantinha sintonia fina com os ditames da variante culta. Nos dias correntes, a alta literatura é muito variada no que diz respeito à afinidade com a norma padrão. Há autores que valorizam as variantes regionais, os que introduzem o coloquial no texto, os que criam sua própria norma e os que transgredem a variante culta de caso pensado.

Decididamente a alta literatura deixou de ser referência para a variante culta. Mesmo assim, graças a uma inércia que lhes é típica, os gramáticos tradicionais insistem em se respaldar nessa fonte. O que acaba acontecendo é a busca filtrada do exemplo literário. O gramático garimpa no texto literário os exemplos abonadores, fazendo vista grossa aos desvios. Citam até Guimarães Rosa para chancelar a norma culta, logo ele, um transgressor contumaz do idioma padrão.

Os tutores da variante culta

A tutela da norma culta tem seus cardeais. Esses agentes privilegiados têm atuação decisiva no processo de formação da norma. É claro que acima deles estão as tendências gerais do idioma, que atropelam tudo e todos e sobre as quais não há controle.

É curioso o fato de encontrarmos entre esses cardeais vários gramáticos, uma vez que seria mais natural esperar que os gramáticos desempenhassem papel de cronistas da língua e não de protagonistas.

Para começar

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