Genericamente, elipse é a supressão de uma parte do discurso que pode ser prevista no contexto. A elipse ocorre em vários níveis do discurso, tais como:
- Ortográfico: abreviaturas, siglas, aspas na construção de colunas.
- Morfológico: elisões: ‘Zé’ por ‘José’, ‘pneu’ por ‘pneumático’. De morfemas presos: ‘mono, di e trissílabos’, ‘otorrinolaringologista’.
- Mimético: suprimir passagens da narrativa.
- Lógico: suprimir passagens de uma sequência de implicações.
Na elipse eufemística, suprime-se uma parte devido ao impacto que pode causar. Exemplo: ‘É um grande filho da …’
A elipse clássica é a sintática, que consiste em suprimir um ou mais termos sintáticos de um dos modelos completos de oração da língua.
Condições para a elipse funcionar
Para ser praticada, a elipse exige a previsibilidade, o que implica na aceitação de algumas premissas:
- gramaticalidade: o enunciado elíptico na sua forma completa é gramatical.
- pertinência contextual: o enunciado elíptico na sua forma completa é pertinente ao contexto.
- maior probabilidade: Entre as alternativas prováveis para preencher a lacuna deixada pela elipse será válida a mais provável.
- regra da distribuição: é o caso do zeugma. O que foi dito no primeiro enunciado não se repete nos subsequentes, mas considera-se que o efeito se distribui sobre eles. O zeugma é uma regra convencional. Há casos de zeugma posterior, que são aqueles em que o explícito vem por último. A forma elíptica de dar resposta a perguntas não deixa de ser uma forma de zeugma.
Zeugma
O zeugma é formado por uma frase completa, que vem por primeiro, e uma ou mais frases elípticas, das quais a completa sempre é colocada por primeiro. A condição ideal é aquela em que as frases elípticas sucedem imediatamente à completa. Um distanciamento entre a frase completa e as elípticas do zeugma traz problemas de processamento.
O que se pode suprimir com a elipse?
- O que já foi dito. É o zeugma.
- O que se prevê pela concordância sintática com termos explícitos. É o caso da elipse dos pronomes pessoais em português porque são subentendidos pela flexão de pessoa do verbo da frase.
- O que se prevê pelas limitações gramaticais de substituição. É um tipo de elipse em que o termo elíptico é previsível independente do contexto. Exemplo: ‘E espero seja a última.’
- O que não faz parte do foco da frase. O foco da frase é a única parte dela que não se elide.
- A continuação de uma série infinita. Por exemplo: 3,333…
Um caso particular de elipse é a simplificação após uma primeira ocorrência. É típica no jornalismo. Na primeira citação usa-se o nome completo da personalidade e da segunda em diante, apenas uma elipse.
Funções da elipse
A elipse tem duas funções: a primeira é a de concisão. Usa-se para dizer mais com menos palavras ou não repeti-las, no caso do zeugma. A segunda é o eufemismo: suprime-se o que causa impacto.
Excelência da elipse
Há dois aspectos de excelência na elipse: o da previsibilidade e o da economia. A elipse será tanto melhor quanto mais previsível for. Se for usada com intenção de economia, será tanto melhor quanto mais extensa a parte elíptica relativamente à parte explícita.
Figuras de linguagem (Recursos retóricos)
- Alegoria
- Elipse
- Iconia
- Ironia
- Metáfora
- Metaplasmo
- Metonímia
- O título como recurso retórico
- Ordem do discurso
- Oxímoro
- Recursos retóricos editoriais
- Recursos retóricos entoativos e gestuais
- Recursos retóricos ortográficos
- Repetição
- Segmentação do discurso
- Trocadilho
- Figuras de linguagem pouco conhecidas