O signo manifesta-se objetivamente. Enquanto objeto, nos suscita sensações, impressões e opiniões. Embora os signos linguísticos em sua maioria tenham uma relação arbitrária com seu significado, em certos casos, espontânea ou intencionalmente, essa arbitrariedade é reduzida. Nesses casos temos iconia.
Iconia é a associação harmoniosa entre os efeitos suscitados pela observação do significante e seu significado. Essa associação pode derivar de uma relação de semelhança ou de contiguidade.
A iconia ocorre em vários níveis: gráfico, ortográfico, fonológico, gramatical, estilístico, entoativo, gestual, mimético. Tomando por exemplo a onomatopeia, uma iconia fonológica, as palavras mugido, piado, miado têm uma sonoridade do significante semelhante à classe de sons a que se refere o significado. Temos uma iconia por semelhança. A classe de sons do significante é semelhante à classe de sons significada.
Alguns tipos de iconia
Iconia natural: deriva da observação direta do significante. O melhor exemplo é a onomatopeia.
Iconia conotativa: deve-se aos atributos agregados ao significante pela convenção cultural. Por exemplo: a tipografia gótica está ligada a evocações de tradição, de antiguidade. Teremos iconia quando usarmos a tipografia gótica para criar o logotipo de um produto cuja imagem está associada à ideia de tradição, por exemplo. O efeito se deve à memória cultural e não à observação do significante.
Anti-iconia: trata-se do efeito oposto. Em vez de harmonia, produzimos contraste. É o caso em que o suscitado pelo significante contrasta com o significado. Um exemplo: usar a tipografia gótica num logotipo de produto cuja imagem está associada à ideia de modernidade.
Qualidade da iconia
Pode o significante como objeto modificar o significado? Sim. Pela contiguidade entre um e outro, o receptor do discurso tende a transferir para o significado os juízos que lhe suscita o significante. Quando se deseja tirar proveito desse fato como recurso de Retórica, é preciso considerar que os juízos suscitados pelo significante que interessam são os assumidos pelo público-alvo do discurso, não importando se são equivocados.
Muitas verdades duvidosas foram estabelecidas sobre efeitos suscitados pelos significantes. Diz-se que vogais abertas são alegres, vogais fechadas, tristes, que vogais nasais deprimem, etc. É preciso tomar cuidado com essas verdades, avaliando se elas surgem da observação do comportamento coletivo ou da experiência individual. Poetas simbolistas lembravam de cores diante de certas vogais, o que não ocorre para todo mundo. Assim, não é válido afirmar que vogais anteriores são claras e vogais posteriores escuras, não para todos.
O inventário dos efeitos suscitados por significantes envolve a observação experimental do comportamento coletivo e só vale para um contexto e uma época. Uma tipografia recém-criada pode vincular-se à ideia de modernidade por uns tempos e com o passar dos anos pode passar a evocar tradição.
Transferência icônica
Transferência icônica é a incorporação ao significado de alguma característica ou valor do seu significante. A qualidade da forma faz crer na qualidade do conteúdo designado, por exemplo. A publicidade é usuária constante da transferência icônica; usa significantes que evocam as qualidades que se deseja agregar à ideia referida.
A diferença entre a transferência icônica e a iconia é que na primeira não se atribui ao significado a qualidade do significante anteriormente à observação do significante. Na iconia, a qualidade em questão já é considerada pertinente ao significado antes mesmo da observação do significante.
Figuras de linguagem (Recursos retóricos)
- Alegoria
- Elipse
- Iconia
- Ironia
- Metáfora
- Metaplasmo
- Metonímia
- O título como recurso retórico
- Ordem do discurso
- Oxímoro
- Recursos retóricos editoriais
- Recursos retóricos entoativos e gestuais
- Recursos retóricos ortográficos
- Repetição
- Segmentação do discurso
- Trocadilho
- Figuras de linguagem pouco conhecidas