O discurso é segmentado em unidades discretas em todos os níveis linguísticos: fonológico, gráfico, morfológico, sintático e semântico. Além da segmentação com funções linguísticas, há segmentações retóricas e segmentações estilísticas. Uma diferença relevante entre segmentação linguística e retórica é o fato de a retórica ocorrer também num nível superior ao gramatical. A segmentação do discurso pode se dar na área do significante ou do significado.
Segmentação pelo significante
No discurso oral, a segmentação está presente na(s):
- pausas
- pontuação
- balizas. Exemplo: Vamos à outra parte …, Mudando de assunto …
- interpolação de títulos
No discurso escrito, a segmentação se dá por:
- Espaços em branco
- Parágrafo
- Mudança de linha
- Mudança de página
- Diferenciação editorial
- Caixas
- Interpolação de títulos
O discurso é segmentado no nível do significante geralmente para acompanhar uma segmentação no nível do significado. Há casos em que isso não ocorre. Por exemplo: o verso e a estrofe são recursos de segmentação pelo significante que podem corresponder ou não a segmentações pelo significado. Um verso ou uma estrofe com encadeamento não correspondem a um segmento temático.
Parágrafo
O parágrafo é um recurso de edição e consiste em segmentar o discurso após a conclusão de um período sintático, o novo segmento deve ser alinhado na margem esquerda, com ou sem recuo para a direita. As funções do parágrafo podem ser de atratividade. O parágrafo funciona como ponto de entrada para o texto.
Temos também a função de acessibilidade. Nesse caso, a função só se cumpre se o parágrafo for uma unidade temática, ou seja, se a sua segmentação tiver por correspondência uma segmentação temática. Há quem defina o parágrafo como a unidade temática mínima, mas isso só é válido para uma parcela dos parágrafos observados.
Segmentação e comunicabilidade
A segmentação pode aumentar ou restringir a comunicabilidade, dependendo do modo como é praticada. Por exemplo: ao praticarmos uma segmentação temática beneficiamos a acessibilidade. Se dividirmos uma palavra em dois segmentos de linha na hora da edição, prejudicamos a pronunciabilidade.
Outros exemplos: no discurso escrito, se segmentarmos a palavra, o termo sintático, a locução, a oração, perde-se em comunicabilidade. Por isso, no jornalismo evita-se dividir palavras, nomes, locuções e termos sintáticos em dois segmentos de linha. Como regra geral, pode-se afirmar que a segmentação prejudica a comunicabilidade toda vez que rompe uma unidade, seja ela uma palavra, um termo sintático, uma locução, uma oração ou um conceito.
Pontuação
A pontuação é um tipo de segmentação. Há uma pontuação linguística, outra retórica e uma terceira que é estilística. No discurso oral, a pontuação se caracteriza pelo uso da pausa. No discurso escrito, há vários grafemas que caracterizam pontuação: vírgula, ponto-e-vírgula, ponto. Além destes, há outros que apresentam outras funções acumuladas com a de pontuar: ponto de interrogação, exclamação, dois pontos, travessão, etc.
Pontuação linguística no português:
- Nas enumerações: ‘João, Pedro, Paulo e José se apresentem’.
- Nos apostos: ‘Aristóteles, o grande filósofo grego, é autor dos Tópicos’.
Pontuação estilística no português:
- Colocar entre vírgulas conjunções adversativas: ‘Fez, porém, malfeito’. Como as conjunções por natureza delimitar orações, as vírgulas são redundantes. Contudo, a regra consta nos manuais de gramática normativa.
- Separar provérbios em hemistíquios: ‘Quem usa a cabeça, não usa os pés’. A segmentação é usada meramente por respeito a uma tradição.
As funções retóricas da pontuação podem ser a de determinar a entoação, enfatizar o que se coloca entre pausas ou contestar a estilística quando se rompe com uma norma de estilo.
O desrespeito às regras de pontuação linguística pode trazer danos à comunicabilidade na medida em que cria obstáculos, às vezes intransponíveis, à decifração. Isto tem sido usado em literatura deliberadamente. Certos autores eliminam pontuação com objetivo de reduzir a comunicabilidade do discurso.
Estruturação em níveis
Tanto na segmentação pelo significante como na pelo significado pode haver estruturação em níveis. Na estruturação em níveis pratica-se a segmentação na segmentação, ou seja, segmentam-se os segmentos. Numa estruturação em níveis identificamos três tipos de segmentos:
- De ponta: não são formados por segmentos menores, só por texto.
- De topo: não estão contidos num segmento maior.
- Intermediários: estão contidos num segmento superior e contêm segmentos inferiores.
Podemos atribuir para cada segmento um número ordinário de nível. Os segmentos de topo são de nível 1. Os segmentos de nível 2 são os que só são contidos por segmentos de nível l e os segmentos de nível três só são contidos em segmentos de nível 2 e l e assim sucessivamente.
No discurso escrito o nível do segmento na estruturação pode ser caracterizado por:
- Tipografia específica para o título.
- Tipografia específica para o texto.
- Marcadores específicos para status.
Tipos de estruturação em níveis
Geralmente a estruturação em níveis se corresponde com uma hierarquia temática. Neste caso os segmentos de nível 1 tratam do tema genérico do discurso. Os segmentos de nível 2 tratam todos do tema relacionado ao segmento de nível 1 que os contém. Os segmentos de nível 3 tratam todos do tema relacionado ao segmento de nível 2 que os contém e assim por diante.
Também há estruturações em nível que refletem uma taxonomia. A cada segmento de uma estruturação em níveis é possível atribuir um status que pode ser correspondido a um número ordinal de status, ou a um nome.
Status de um segmento é um valor a ele atribuído relativamente aos demais. Exemplo típico de atribuição de status é a seqüência tomo, capítulo, artigo, parágrafo, alínea.
Um segmento numa estruturação por nível tem um número ordinal de nível e outro de status, que não precisam ser iguais, embora o de status não possa ser maior que o de nível.
Figuras de linguagem (Recursos retóricos)
- Alegoria
- Elipse
- Iconia
- Ironia
- Metáfora
- Metaplasmo
- Metonímia
- O título como recurso retórico
- Ordem do discurso
- Oxímoro
- Recursos retóricos editoriais
- Recursos retóricos entoativos e gestuais
- Recursos retóricos ortográficos
- Repetição
- Segmentação do discurso
- Trocadilho
- Figuras de linguagem pouco conhecidas