O lançamento do LHC, o Grande Colisor de Hádrons, me fez pensar no sentido da palavra átomo. Essa palavra vem do grego e é formada pela junção do prefixo a com o radical tomo. Tomo quer dizer parte e o prefixo a indica negação, ou seja, átomo é aquilo que não tem partes, indivisível. Para os gregos Demócrito e Leucipo, o átomo seria o constituinte fundamental da matéria, mas durante séculos esse conceito não passou de uma hipótese tentadora.
Muitos brasileiros ficam incomodados ao ver o nome do Brasil escrito com Z nas embalagens de produtos para exportação. Quem age assim deve achar um desrespeito alterar a grafia original dos nomes de locais. A ideia de manter a grafia e pronúncia originais dos topônimos é razoável, mas nada fácil de pôr em prática.
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que vigora desde 2008, prevê a extinção do trema, aqueles dois pinguinhos em cima do u de palavras como lingüiça. Extinção? Uma coisa é bom saber sobre as regras ortográficas da nossa língua: sempre quer dizer de vez em quando e todos quer dizer mais da metade.
Com o trema não poderia ser diferente: o trema vai sumir, mas permanece em nomes próprios e seus derivados. Depois de saber disso fui imediatamente falar com meu colega Jürgen. Pedi a ele encarecidamente para não lançar nenhuma seita ou movimento filosófico que possa vir a se chamar jürgenismo, senão teremos mais um trema escapando da extinção em massa.
No Brasil, as reformas ortográficas acontecem a cada 30 anos, mais ou menos. Espero que para a reforma de 2040 alguns programadores de computador sejam convidados a opinar. Eles são pessoas que conseguem raciocinar logicamente. Para programadores, sempre quer dizer sempre e todos quer dizer todos. Nenhum computador do mundo funcionaria se os programadores pensassem de outra forma. A língua, felizmente, funciona mesmo quando é tutelada pelos letrados.
Letras
Esta categoria traz postagens com assuntos polêmicos, curiosos ou cotidianos envolvendo linguagem.
A maneira como nos expressamos revela muito sobre nós mesmos. Houve um tempo em que as descargas com cordinha de puxar predominavam nos banheiros. Hoje, esse tipo de descarga é usado apenas em construções de baixo custo. As construções de melhor padrão usam descargas operadas com o aperto de um botão. O que concluímos disso? Se você diz puxar a descarga pode ser visto como uma pessoa antiga ou de baixo custo. Se você diz apertar a descarga poderá ser considerado como recente ou de alto custo.
No endereço abaixo você encontra um tradutor que converte textos em português padrão para um dialeto internetês conhecido como miguxês. Quem diria, o internetês tem até dialetos. Você logo vai perceber que o miguxês é um dialeto descolado para mocinhas.
Eu gosto das discussões sobre internetês porque nos levam a uma reflexão profunda sobre a língua em todos os seus níveis. Mas como esse post tem caracteres contados, vou apenas lembrar um conselho de Lech Walesa dado ao Presidente Lula em uma entrevista ao Fantástico. Era o início do primeiro mandato de Lula como presidente e Walesa disse que o presidente Lula dispunha de um aquário cheio de peixinhos e que para fazer uma sopa com ele bastaria ferver a água do aquário.
Na Polônia, disse Walesa, o problema era outro: eles dispunham de uma sopa e queriam transformá-la em um aquário cheio de peixinhos. Vou adaptar a história do Walesa ao contexto dos tradutores: converter o português padrão em internetês é bem fácil, o problema é inventar um software que converta internetês em português padrão. De qualquer forma, o tradutor Miguxeitor é bem divertido. Vale a pena conferir para dar umas risadas.