A função típica da vírgula é representar a correspondente pausa do discurso oral. As pausas que a vírgula representa podem ter valor sintático ou entoativo. No primeiro caso, a vírgula é importante para definir a estrutura sintática do período. O segundo uso tem função retórica e orienta a colocação de pausas não sintáticas durante a elocução.
Como regra geral, para garantir a correta interpretação do enunciado, a vírgula não deve interromper o sintagma, exceto nas enumerações que são um caso a parte. Agimos, nesse caso, da mesma forma que se procede no discurso oral, em que não usamos pausas que segmentem o sintagma. As pausas que a vírgula representa são as internas ao período. As pausas situadas nos limites do período são representadas pelos pontos simples, de exclamação e de interrogação. Vejamos diversas situações em que se usa vírgula.
Delimitar frases do período
As frases de um período são separadas por vírgulas tanto para representar o morfema pausa como também antes de conjunções. Só não se usa vírgula diante das conjunções e e ou. Exemplos:
- Arrumou as roupas na mala, juntou os documentos e partiu em viagem.
- Estava muito cansado, mas concluiu o trabalho em tempo.
Quando a conjunção não está em sua posição típica, ficando intercalada na frase seguinte, é costume isolá-la entre vírgulas. Exemplo:
- Fez uma boa apresentação. Não recebeu, porém, muitos aplausos.
Delimitar sintagmas deslocados
O uso de algumas ordens menos usuais, pode trazer dúvidas quanto à função sintática de cada segmento. Um dos recursos usados para dar maior clareza ao enunciado, nesse caso, é o uso de vírgulas para delimitar os sintagmas que estão em posição menos usual. Veja um exemplo:
- A temperatura baixou bastante nessa madrugada em Curitiba.
- Em Curitiba, a temperatura baixou bastante nessa madrugada.
O sintagma adverbial em Curitiba, quando colocado no início do período está delimitado por vírgula, pois essa ordem não é considerada a usual. Como é mais comum esse tipo de sintagma ficar no final do período, usa-se a vírgula para enfatizar a posição não usual.
Esse procedimento apenas imita o uso de pausas no discurso falado. No discurso oral recorremos à delimitação dos sintagmas deslocados através de pausa para deixar mais clara a função sintática desses.
Essa regra é subjetiva, pois cabe ao redator decidir se a ordem sintática precisa ser enfatizada.
Separar itens de uma enumeração
Para dar clareza à delimitação dos itens que compõem uma enumeração usamos vírgulas. Exemplo:
- Já chegaram à concentração os jogadores Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos e Ronaldo.
Delimitar aposições
Um dos itens da aposição pode vir delimitado por vírgulas. Por exemplo:
- Drummond, o grande poeta modernista, destacou-se também na crônica.
Delimitar intercalações
Intercalações podem ser delimitadas por vírgulas. Veja o exemplo:
- Ele acordou cedo, como era seu costume, e foi ao parque fazer sua caminhada.
Estão incluídas nesse caso expressões que intercalamos no período e que funcionam como balizas do discurso, geralmente com função metalinguística, como: isto é, ou seja, quer dizer, a saber, etc. Também se encaixam nesse caso os vocativos.
Indicar elipse
Indicamos, em alguns casos, a elisão de um item da estrutura sintática pondo vírgula na posição onde estaria o item se não fosse a elipse. Veja um caso:
- Um optou pela Engenharia, outro, pela Medicina.
Nem toda elipse é indicada com vírgula. Geralmente, se usa a vírgula quando houve elipse do sintagma verbal.
Isolar item complementar
Quando o redator quiser deixar claro que um trecho do enunciado tem caráter complementar, explicativo, acessório à estrutura do período, pode isolá-lo pela vírgula. O uso da vírgula nesse sentido é subjetivo, pois sintaticamente, não é possível definir um grupo de sintagmas como complementar. Veja um caso de exemplo:
- O preço dos produtos importados está muito atraente nesse final de ano, por conta da baixa no preço do dólar.
Orientar a entoação
A vírgula pode ser empregada para indicar pausas não sintáticas à leitura do texto. Nesse caso, a vírgula tem função retórica. Trata-se de um uso livre, indicado apenas aos redatores experientes.
Usos especializados
A vírgula é empregada em alguns casos específicos como:
Na notação de datas.
- Curitiba, 28 de fevereiro de 2006.
Na notação de endereços:
- R. Marechal Floriano Peixoto, 500, apto. 31, bloco 3.
Depois das palavras sim e não quando estas palavras não determinam o item seguinte.
- Sim, senhor.
- Não, ele não veio.
Vírgula e clareza
A principal função da vírgula é representar o equivalente morfema pausa do discurso oral. As pausas ajudam-nos a delimitar os componentes da estrutura sintática. Em muitos casos, a ordem dos itens e o contexto semântico são suficientes para o ouvinte interpretar corretamente o enunciado. Mas há situações em que a vírgula é fundamental à compreensão da mensagem. Isso ocorre principalmente nas enumerações e nas intercalações.
Quando usamos ordens sintáticas pouco usuais, a vírgula também pode ser de grande utilidade para clarear o enunciado. O redator pode usar algumas vírgulas a mais do que pedem as regras ortográficas sempre que isso fizer bem à clareza. Também pode lançar mão dela para orientar de forma mais precisa a elocução do enunciado.
Sintagma adjetivo intercalado
Vemos no exemplo seguinte um caso típico em que a vírgula é decisiva para a correta interpretação do enunciado.
- Os deputados que usam recursos ilegais em campanha serão cassados.
- Os deputados, que usam recursos ilegais em campanha, serão cassados.
O sintagma adjetivo que usam recursos ilegais tem abrangência semântica diferente em cada uma das frases. Na primeira frase, seguindo a estrutura sintática da língua portuguesa, o sintagma adjetivo determina o substantivo de forma restritiva, ou seja, delimita alguns elementos do conjunto referido pelo substantivo. Na primeira frase, entende-se que serão cassados apenas os deputados que usam recursos ilegais em campanha, pois o sintagma adjetivo restringiu a significação do substantivo.
Na segunda frase, entende-se que todos os deputados usam recursos ilegais em campanha. A colocação das vírgulas leva-nos a interpretar o sintagma adverbial como uma intercalação e isso nos faz considerar que o atributo se aplica a todos os elementos do conjunto referido pelo substantivo deputados. O uso das vírgulas aqui modificou a maneira como interpretamos a determinação do sintagma adjetivo. Veja outro exemplo que mostra a diferença entre determinação restritiva e ampla.
- O homem livre por natureza tem direitos inalienáveis.
- O homem, livre por natureza, tem direitos inalienáveis.
Na primeira frase, supõe-se que apenas alguns homens, os livres por natureza, tem direitos inalienáveis. Na segunda frase, supõe-se que todos os homens são livres por natureza.
Necessidade da vírgula
As regras ortográficas que tratam do uso da vírgula são numerosas e parte delas, bastante específicas. Nota-se, porém, que não são exaustivas. As convenções foram criadas a partir de alguns casos selecionados em que o uso da vírgula supostamente contribuiria para a clareza do texto e foram deixadas de lado outras situações estruturalmente similares.
Um exemplo é o fato de não marcarmos com vírgula todas as posições onde supostamente ocorre elipse. Da mesma forma, não delimitamos por vírgulas todos os sintagmas colocados em posição pouco usual. A pergunta que surge é se não poderíamos fazer uma simplificação considerável nesse rol de convenções. Antes de responder, vamos classificar os casos de uso da vírgula em três grupos distintos.
O primeiro grupo é o das regras supérfluas. Sem dúvida, vários usos da vírgula poderiam ser eliminados sem prejuízo à compreensão do discurso. Por exemplo: se eliminássemos as vírgulas na notação de endereços, o carteiro continuaria entregando as cartas sem problemas. Fica entendido que são regras supérfluas do ponto de vista lógico, mas que devem ser seguidas se quisermos escrever em conformidade com a variante culta.
Temos que lembrar também que em vários desses casos, a vírgula é usada porque no discurso oral se pratica uma correspondente pausa não sintática, típica nos enunciados com tal estrutura.
O segundo grupo é o dos usos em que a vírgula representa o morfema pausa. Nesse caso, a vírgula tem valor sintático e é necessária à correta interpretação do enunciado. Veja o enunciado a seguir, com vírgulas e sem vírgulas.
- Foram convocados os jogadores Carlinhos Júnior, Beto Capixaba, André Marques e Didi.
- Foram convocados os jogadores Carlinhos Júnior Beto Capixaba André Marques e Didi.
No segundo enunciado, se o ouvinte não estiver bem informado sobre esportes não vai saber quantos foram convocados, pois não há separação dos nomes compostos.
O terceiro grupo de usos da vírgula engloba a utilização opcional, em que o redator coloca a vírgula para sinalizar melhor a estrutura sintática da frase ou para orientar a elocução. É um uso retórico em que o redator reforça a sinalização do texto.
A conclusão a que se chega é que alguns usos da vírgula são necessários à clareza do enunciado, outros poderiam ser suprimidos sem prejuízo à escrita. Quanto ao uso retórico da vírgula, esse é opcional e cabe ao redator lançar mão deles se julgar necessário.
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ai eu gostei desse tipo de esplicasao pois naum e dificio mas e muito bom para aprender eu gosta muito obrigado
Caro,
Vírgulas não servem para indicar pausas em discursos. A vírgula costuma coincidir com a pausa, mas dizer que a função da vírgula é marcar a pausa é reduzir a sua importância. A vírgula ajuda a organizar as ideias e o sentido das orações, o que na língua oral costuma ser feito com pausas.
Dizer que a vírgula representa pausa, é dizer que sempre que precisar demonstrar uma pausa na fala, podemos por vírgula, o que justificaria a aplicação inadequada de vírgulas após sujeitos de orações e antes do verbo da ação do sujeito, por exemplo.
Bom dia. Dentre tantas dúvidas com relação à Língua Portuguesa, solicito, se possível, esclarecimento sobre a correta posição ou se desnecessário for, da vírgula na seguinte frase: “Avões aqui na serra não.” Obrigado