Para esgotar o assunto edição é necessário invadir a jurisdição alheia, pois edição é técnica e arte, uma arte plástica e para esgotá-la seria necessário também abordar questões como composição, harmonia, proporção, simetria, taxa de informação, etc. Na medida do possível não vamos tocar em questões ligadas exclusivamente ao domínio das artes plásticas.
Linha tipográfica
A linha tipográfica resulta da linearidade do discurso linguístico, linearidade que na sua forma oral é temporal e na escrita é espacial. No discurso longo, a linha tipográfica é segmentada por razões diversas: para acomodá-la às dimensões da página, para otimizar a legibilidade, por razões estéticas, etc.
Coluna tipográfica
Uma questão básica de legibilidade é determinar o tamanho do segmento de linha tipográfica, em outros termos, a largura da coluna tipográfica. Sabe-se que o segmento longo prejudica a legibilidade, muito curto, também. É provável que a dimensão ideal seja aquela que origina de uma a três acomodações visuais otimizadas por segmento durante a leitura.
Uma acomodação visual otimizada é aquela em que a fóvea do olho capta o máximo de grafemas que é possível para a natureza e o treinamento da visão do leitor. No segmento curto, desperdiça-se a capacidade da fóvea. No segmento longo, o leitor tem dificuldade para encontrar o início do segmento seguinte ao retornar a vista para a margem esquerda do texto, provavelmente, porque a visão periférica perde o contato com a margem esquerda.
A largura ideal da coluna é uma questão a ser determinada experimentalmente, em função do perfil de leitores visados, do corpo tipográfico usado e de diversos fatores técnicos e estéticos.
Mancha tipográfica
É a superfície ocupada pelo texto na página. Seus efeitos retóricos resultam da sua forma, textura e posição que ocupa na página. Quanto à textura, a mancha pode ser densa, se os tipos tenderem para o negrito ou se estão concentrados; rarefeita se os tipos são delgados ou expandidos. Pode ser maciça se não houver segmentação e espaços vazios internos e vazada no caso contrário.
A mancha tipográfica clássica e conservadora é retangular, maciça, densa e ocupa grande área da página, deixando vazias apenas as margens.
Convenções editoriais básicas
A escrita ocidental segue várias convenções. A obediência ou a transgressão dessas convenções gera fatos retóricos. O referencial para estabelecer as posições relativas é a visão do leitor. Vejamos algumas convenções:
- Na linha tipográfica o discurso deve progredir da esquerda para a direita.
- A linha tipográfica pode ser segmentada.
- Os segmentos de linha tipográfica são ordenados uns sobre os outros, de forma que o discurso progrida de cima para baixo.
- Se o discurso ocupar mais de uma página, deve haver progressão girando as páginas no sentido anti-horário. Diante de duas páginas lado a lado a progressão se dá da esquerda para a direita.
- Os segmentos de linha devem ser retos e horizontais.
- Os grafemas devem ser apresentados ao leitor sempre na mesma posição relativa ao eixo da linha tipográfica, sendo vedada a rotação.
- Os segmentos de linha tipográfica devem ser alinhados na vertical à esquerda e preferencialmente também à direita.
Recursos retóricos editoriais
Assim como a entoação no discurso oral, a edição pode ser modificadora do discurso escrito. Exemplo: grafar em itálico um termo que não se aceita a conotação, ou que se deseja enfatizar.
Em certos textos a edição é uma categoria enjeitada. Existem vários casos em que o texto é concebido abstraindo-se a edição, que fica a cargo do editor. Há um divórcio entre a codificação e a edição. O romance clássico é um exemplo disso.
No jornalismo e na publicidade a situação se inverte. A codificação é concomitante à edição e esta chega a condicionar aquela.
Há inúmeros recursos retóricos editoriais. Vejamos alguns:
- Diferenciação: Corpo tipográfico, famílias de tipos, negrito, itálico, sublinhado.
- Segmentação: Parágrafo, espaços em branco, boxes, verso, estrofe.
- Legibilidade: Alinhamentos, numerações e marcadores.
Os boxes, basicamente, são unidades independentes de texto, diferenciados do todo. Podem ser de vários tipos, tais como: prefácio, posfácio, orelha, notas, glossários, apêndices, dedicatórias, citações, bibliografia, cronologia e legendas.
Verso
O verso é um recurso de edição típico do discurso de intenção poética, embora um não seja essencialmente ligado ao outro. Há poesia sem verso e verso fora da poesia.
Verso é um segmento de linha tipográfica do discurso de intenção poética. Essa definição a partir da edição é a mais geral para o verso. Existe a possibilidade de defini-lo a partir da entoação: verso é uma parte do discurso de intenção poética delimitado por duas pausas nítidas seguidas de entoação.
A definição do verso como recurso de entoação apresenta o defeito de não ser geral. Há versos com pausas internas de entoação e versos com o chamado encadeamento, uma licença poética de estilística da versificação que consiste em emendar a entoação de dois versos seguidos.
Muitos versos podem ser definidos como compassos de métrica ou mesmo compassos de rima clássica. Efetivamente na sua origem, o verso era entendido como compasso de entoação, de métrica e de edição. Com a evolução histórica da poesia surgiram os versos brancos, sem métrica.
Estrofe
Uma definição restrita e sintática para a estrofe seria: parte do discurso de intenção poética formada por versos que constituem um período sintático completo. Restrita porque como o verso, a estrofe admite licenças poéticas. Há estrofes com mais de um período sintático e estrofes encadeadas.
As licenças poéticas que contaminam as definições de verso e estrofe são fruto de uma estética que primava pela rigidez numa cláusula e por ser frouxa em outra. Define-se um soneto como poema de quatro estrofes, duas com quatro versos e duas com três versos e não se estabelece critério algum sobre o que é uma estrofe.
Uma definição geral para estrofe a partir da edição seria: segmento de texto de intenção poética formado por mais de um verso que produz uma mancha tipográfica maciça.
Figuras de linguagem (Recursos retóricos)
- Alegoria
- Elipse
- Iconia
- Ironia
- Metáfora
- Metaplasmo
- Metonímia
- O título como recurso retórico
- Ordem do discurso
- Oxímoro
- Recursos retóricos editoriais
- Recursos retóricos entoativos e gestuais
- Recursos retóricos ortográficos
- Repetição
- Segmentação do discurso
- Trocadilho
- Figuras de linguagem pouco conhecidas