Crítica | Apocalypto

Caçada implacável ao bom selvagem

Direção de Mel Gibson
2006 : EUA : 139 min
Com Ruddy Youngblood (Pata de Jaguar) e
Dalia Hernandez (Seven).
Site oficial: www.apocalypto.com

O filme é sobre caçadas e já na primeira tomada um grupo de índios caçadores acua uma anta para a armadilha mortal. Depois de abater a presa, o líder da caçada arranca o coração do animal. Esse é o primeiro coração arrancado durante o filme.

As três partes

Pata de Jaguar é o jovem caçador de uma tribo das selvas mexicanas que vê o seu mundo desmoronar quando sua aldeia é atacada por maias caçadores de cabeças. Os agressores maias querem mulheres índias para escravizar e homens para sacrificar em rituais ao deus Sol. As crianças não interessam e são simplesmente abandonadas no meio da mata.

A aventura de Pata de Jaguar é para salvar sua família da brutalidade a que são submetidos. Para isso, ele terá que enfrentar situações inimagináveis para um homem urbano. O filme se divide em três momentos distintos. Na primeira parte, que é descontraída temos um retrato da vida cotidiana da tribo de Pata de Jaguar.

Na segunda parte, o foco está na crueldade com que os prisioneiros dos maias eram capturados e levados ao sacrifício. Na última parte, temos a fuga espetacular e a redenção do herói que se transforma quando regressa ao seu habitat. No seu terreno, Pata do Jaguar é senhor. Sua é a terra e lá ele levará a cabo a sua vingança.

A proposta

Esse filme de Mel Gibson surpreende em vários aspectos. O elenco tem o biótipo do povo maia e é todo de estreantes ou amadores. Os diálogos são em maia, a exuberância das locações, dos cenários e figurinos é incrível e o tema é para lá de polêmico. Os heróis do filme são índios que costumamos chamar de primitivos e os vilões são um grupo de carniceiros pertencentes a uma civilização cultuada nos livros de história como evoluída e refinada. Como entretenimento, não há o que reclamar. A história é repleta de ação e emoção e a caçada final é uma das melhores do cinema.

Apocalypto começa com uma caçada. Índios em um estágio simples de organização social caçam uma anta para fazer um banquete na aldeia. Logo depois, esses mesmos índios são caçados como animais por maias que pertencem a uma sociedade com organização mais avançada. O filme termina com os navios espanhóis aportando nas praias americanas. Uma sociedade europeia mais estruturada chega ao Novo Mundo para tratar os maias como animais.

Fidelidade histórica

Antropólogos acusaram Mel Gibson de cometer vários erros históricos no filme. A chegada dos espanhóis à América, por exemplo, ocorreu séculos depois do período em que havia sacrifícios humanos entre os maias. Dizem que o filme faz uma mistura de estilos arquitetônicos que não coexistiram e que os dados positivos da cultura maia não foram valorizados. A crítica mais séria, porém, é a de que não existem provas de que os maias praticassem sacrifícios humanos na escala que é mostrada no filme.

Obras de arte narrativas seguem regras para intensificar a dramaticidade e, por isso, algumas licenças históricas são justificadas em nome da expressividade. Então, façamos um esforço para perdoar o já conhecido apetite de Mel Gibson por sangue. Seria necessário um painel mais abrangente da sociedade maia, sim, mas filmes têm apenas duas horas para acontecer. Mel Gibson fez um filme com foco definido que é violento, sim, mas que mantém a unidade da trama restrita ao essencial do que se propõe.

Sem bons selvagens

O que o filme mostra bem é que a predação desenfreada e a brutalidade estão na história humana desde seus estágios iniciais. O desenvolvimento de estruturas sociais mais complexas não trouxe historicamente um convívio harmonioso com o meio ambiente nem com as culturas periféricas. Fazendo a inevitável comparação com as guerras contemporâneas chegaremos à conclusão que pouca coisa mudou desde os maias. Ainda é hábito cometer atrocidades com outros povos, principalmente se tiverem menos recursos que o agressor.

E os índios? Os poucos índios que restam no mundo continuam sendo vítimas das civilizações que se intitulam mais evoluídas. Apocalypto é um filme sobre os estágios iniciais da vida social que muita gente imagina como paradisíacos, mas que também são marcados pela brutalidade humana. Enfim, não há bons selvagens, há apenas homens.

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2 pensou em “Crítica | Apocalypto

  1. Um filme que dá prazer de assistir. Vc. fica ligado do começo ao fim , resultado de um roteiro de boa qualidade. Muito boa a montagem, que recupera o dialeto Maia, Iucateque, uma linguá já “morta”.A interpretação dos principais personagens, também se destaca, pela dramaticidade, sem cair no lugar comum.Uma estória cativante, que retrata a evolução das civilizações americanas e da própria humanidade, enquanto uma ascende, a outra desaparece e assim até os dias de hoje,Ao final, a chegada dos espanhóis representam a mudança que ocorrerá em breve, com o massacre e extinção da magnífica civilização Maia.A saga de Jaguar Paw, demonstra a resistência ao extermínio de sua tribo e sua linhagem, representada pelo retorno à mulher e o filho, que ficaram para trás e reiniciando uma nova vida.Ou seja, nada está totalmente perdido, nem mesmo na marcha inexorável da história.

    1. Obrigado pelo comentário consistente e que contribui para a dicussão de assuntos interditados pelo consenso ideológico atual.
      Abraço.

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