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Crítica | 007 – Operação Skyfall

Permanência em constante transformação

Skyfall
Direção de Sam Mendes
Com Daniel Craig (Bond),
Judi Dench (M) e Javier Barden (Silva)
2012 . Reino Unido . 145 min

Bond, James Bond. Certas coisas não mudam nos filmes de 007.  Perseguições espetaculares em que carros espetaculares são espetacularmente destruídos diante de nossos olhos; uma visita a um elegante cassino onde Bond de smoking pede aquele drink famoso mexido não batido e flerta com uma mulher misteriosa, linda e perigosa.  

Apesar das cenas previsíveis e obrigatórias da série existe espaço para a renovação e Operação Skyfall nos surpreende com um Bond atormentado por uma crise de meia idade. A série está para completar 50 anos e os tempos são outros. O velho James Bond precisa se adaptar ao século XXI e, ao que parece, está conseguindo a proeza de se reciclar no admirável mundo novo do cyber crime.

O nível dos filmes de 007 vem subindo e não sei se soaria como sacrilégio eleger Operação Skyfall como o melhor de todos os tempos. Tudo bem, o filme acabou de ser lançado e tem que competir com os clássicos do Sean Connery, mas vamos falar um pouco sobre ele.

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Crítica | Alien o oitavo passageiro

Futuro primitivo

Alien
Direção de Ridley Scott
1979 : EUA :  116 min
Com Tom Skerrett (Dallas)
Sigourney Weaver (Ripley),
Ian Holm (Ash) e
John Hurt(Kane)
Site oficial: www.alien-movies.com

Há milhares de anos, os contadores de histórias reuniam os membros da tribo à noite em volta da fogueira e falavam sobre aventuras mágicas onde o homem se defrontava com feras terríveis, civilizações exóticas, situações de perigo extremo e medo absoluto diante do mundo desconhecido. O que Ridley Scott fez com maestria em Alien, foi transpor esse ancestral fascínio pelo perigo desconhecido para um ambiente futurista.

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Crítica | Colateral

Quem se importa se um estranho morrer?

Collateral
Direção de Michael Mann
2004 : EUA :  116 min
Com Tom Cruise (Vincent) e
Jammie Fox (Max)
www.collateral-themovie.com

No início de Colateral todos os personagens são desconhecidos uns dos outros. Por capricho do destino ou do acaso eles vão se cruzar ao longo das poucas horas em que a história acontece e suas vidas vão se entrelaçar de forma trágica. São pessoas perdidas na noite de uma cidade desumana e que parece vazia. Colateral fala sobre solidão na selva urbana, solidão que desilude uns e que torna outros em selvagens insensíveis.

O fracassado do bem e o bem-sucedido do mal

Max (Jammie Fox) e Vincent (Tom Cruise) são subprodutos opostos da metrópole. Max é um pacato fracassado e Vincent um psicopata bem-sucedido. Um pensa que nada pode e o outro que pode tudo. O pacato tem um sonho distante e busca refúgio olhando para uma foto pendurada no seu quebra sol. O psicopata é uma máquina de matar dado a filosofar sobre a inutilidade da virtude. Colateral é um duelo entre dois extremos. Seria o duelo entre o bem e o mal?

Max é taxista e trabalha a noite. Sua ligação  com as pessoas se resume contatos rápidos pelo retrovisor. Elas entram e saem de seu táxi e deixam impressões vagas. Max é um observador, às vezes enojado, do seu mundo. Ele é boa praça, um cara carismático na sua insignificância. Graças a isso, conquista a simpatia de alguns passageiros. Até ganha um cartão da promotora de justiça Annie para quem ele fez uma corrida.

Para o caso de ele querer conversar sobre a vida em geral, sabe como é, né? O batismo de fogo de Max começa quando Vincent entra em seu carro. Vincent vai permanecer em Los Angeles apenas por algumas horas para contatar cinco pessoas em pontos diferentes da cidade e quer que Max o leve até elas. Infelizmente, os assuntos comerciais de Vincent com seu primeiro contato da noite não saem como era para ser e Max se torna testemunha de um assassinato.

Missão dada, missão cumprida

A partir daí a relação entre os dois muda e Max passa a ser motorista e refém de um matador profissional obcecado em cumprir sua missão. Depois do primeiro corpo tombar o ritmo do filme muda. A tensão cresce a cada cena e começa uma longa corrida pelas ruas de Los Angeles regada a violência e morte.

Vilão que se presa tem carisma e Vincent perturba o espectador porque é um perfeccionista na arte de matar. Não lhe faltam as virtudes do vilão: tem sangue frio, é oportunista, inteligente, corajoso, competente e focado. Além de matador profissional, Vincent é um filósofo da violência capaz de confundir a cabeça de Max com suas tiradas cínicas. Apesar de ser um niilista, para Vincent, missão dada é missão cumprida e esse fundamentalismo é o seu calcanhar de Aquiles. Ufa, ainda bem que esse cara tem um ponto fraco.

Solidão da metrópole

Diretores como John Ford elevaram o gênero western à categoria de arte. Michael Mann é um dos responsáveis pela elevação do nível do gênero policial. No western, havia a solidão das grandes paisagens desabitadas. Em Colateral, temos o homem solitário que enfrenta a violência do asfalto sem fim. Quando duas pessoas se conectam por algum motivo, mesmo que sejam extremos opostos, haverá uma convergência entre elas.

Cada um vai dar algo de si ao outro. Max, o meticuloso, vai ganhar em coragem, determinação e capacidade de improvisar sob pressão. Vincent, o facínora, acabará esboçando alguns sinais de humanidade. Mas Michael Mann é um otimista e nos seus filmes a aproximação entre o bem e o mal acontece, mas nunca termina em relativismo. O bem e o mal não devem se misturar e cabe ao bem vencer no final.

Marcante

  • A fotografia das cenas externas e noturnas, a trilha sonora intimista, o timing preciso de cada cena criam um clima único. É como caminhar sozinho e sem rumo na madrugada pelas ruas de uma grande cidade

Filmes

Crítica | Os infiltrados

Quando o mau é bom e o bom é mau

The departed
Direção de Martin Scorsese
2006 : EUA :  149 min
Com Leonardo DiCaprio (Billy Costigan),
Matt Damon (Colin Sullivan),
Jack Nicholson (Frank Costello) e
Vera Farmiga (Madeleine)
Site oficial: thedeparted.warnerbros.com

Os infiltrados parte de um enredo engenhoso: o policial Billy Costigan (DiCaprio) se infiltra na gangue de Frank Costello (Nicholson) ao mesmo tempo em que o gangster Collin Sullivan (Matt Damon) inicia carreira na polícia de Boston. Em pouco tempo ambos sobem na hierarquia das organizações em que atuam. Billy (o bom) consegue entrar no círculo do velho mafioso e Collin (o mau) é promovido no departamento de polícia.

Porém, uma sucessão vertiginosa de incidentes faz com que os dois lados farejem a existência dos infiltrados. A partir daí, começa uma caçada em que o bom e o mau perseguem um ao outro. Essa trama simétrica serve para Martin Scorsese fazer aquilo que é sua especialidade: mostrar o mundo do crime por dentro.

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Crítica | Os sete samurais

Honra de miseráveis


Shichinin no samurai
Direção de Akira Kurosawa
1954 : Japão :  206 min : branco e preto
Com Takashi Shimura (Kambei Shimada),
Toshiro Mifune (Kikuchiyo) e
Seiji Miyaguchi (Kyuzo)

Aprendemos a ver os samurais como uma versão japonesa dos cavaleiros andantes, como guerreiros obcecados pela honra, pelo aperfeiçoamento de suas habilidades e imbuídos de nobres ideais. Assim como os cavaleiros andantes, os samurais tiveram seu tempo até que o mundo deles começou a desmoronar. Bem, os sete samurais do filme têm todas essas características, mas também são seres humanos com história e sentimentos e enfrentam a miséria em uma época de provações terríveis.

Classes sociais em conflito

Akira Kurosawa compôs um painel social amplo de um Japão conturbado por guerras intermináveis e classes sociais em conflito. Temos os camponeses oprimidos pelos poderosos e atormentados por bandoleiros. Temos os samurais que vagueiam pelas vilas em busca de trabalho e, por fim, os bandoleiros que também não passam de miseráveis e vivem do saque. A história se passa no século XVI e começa quando um camponês flagra a conversa de um grupo de bandoleiros.

Eles planejam o ataque à aldeia do camponês assim que terminar a colheita, para que o saque seja mais proveitoso. Os pobres camponeses se reúnem para ver o que pode ser feito e decidem contratar os serviços de alguns samurais para protegê-los. O problema é que os lavradores são miseráveis e não têm como pagar pelos serviços. Depois de muitas dificuldades e peripécias, finalmente os camponeses conseguem trazer até a aldeia um grupo de sete samurais. Não é um grupo ideal, convenhamos, mas no calor da batalha é que se forjam os heróis. Um longo treinamento e uma dura batalha espera os camponeses que agora contam com proteção.

Os camponeses são miseráveis, mas ricos psicologicamente: o velho patriarca é cheio de astúcia; o jovem Rikichi é o líder que não se rende ao conformismo; o velho Manzo é o pai mesquinho que esconde a filha por medo de que os samurais a desonrem.  Cada samurai também tem muito a dizer.

Sete histórias, sete personalidades

Shimada é o líder. Homem desprendido e generoso, é um guerreiro experiente e líder astuto. É ele que monta a estratégia para a batalha. Kyuzo é um samurai litúrgico, austero, espadachim exímio, para quem ser samurai é um sacerdócio. Superar limites e executar missões impossíveis é com ele. Katsushiro é um rapaz inexperiente que tem veneração pelos samurais e quer a todo custo se tornar um deles. Só que para isso, ele precisa crescer e se tornar um homem. Kikuchiyo é um bufão ridicularizado por todos que tenta se unir ao grupo a todo custo. Para conquistar seu espaço ele tem que mostrar a que veio e precisa enfrentar seu passado obscuro e terrível.

É preciso pensar com uma cabeça oriental, para aproveitar o máximo que este filme têm a nos oferecer. É um filme com longos silêncios, com interpretações estilizadas e teatrais e fala sobre um universo estranho para os ocidentais. Quem no ocidente se preocupa com honra? Mas o shakespeariano Kurosawa tem a força: o enredo é envolvente e denso, as cenas de batalha são exuberantes, os personagens são complexos e a fotografia é magnífica. Tudo isso é universal e perfeitamente assimilável por um ocidental.

Os sete samurais é um filme sobre miséria extrema e nobres guerreiros desprezados. Na cena final, Akira compõe a última pintura viva do filme: os sete samurais aparecem juntos mais uma vez. Poderosa reflexão sobre vitória e derrota. Uma reflexão universal, mas com uma dimensão maior para o povo japonês que, em 1954, ainda se recompunha da derrota na Segunda Guerra Mundial.

Marcante

  • Kikuchiyo (Minfune) vestido com a armadura de um samurai morto fala aos outros seis tudo o que tem preso na garganta. Os ódios acumulados são postos na mesa. Momento mágico de Toshiro Mifune.
  • Os enquadramentos do filme são dignos dos grandes pintores muralistas. A cada cena, temos uma composição magnífica. Repare como Akira enquadra os samurais quando eles aparecem na mesma tomada.

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