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Crítica | O segredo de seus olhos

O amor, como a justiça, tarda mas não falha

El secreto de sus ojos
Direção de Juan José Campanella
2009 : Argentina : 127 min
Com Ricardo Darin (Esposito) e
Soledad Villamil (Irene)

Esposito é um investigador aposentado da justiça argentina que resolve passar a sua vida a limpo escrevendo um romance policial. O livro trata de um crime ocorrido em 1974 investigado pelo próprio Esposito e que gerou desdobramentos profundos na sua vida. Seria um balanço autobiográfico? Mais que isso: durante a pesquisa para a escrita do romance novos fatos vem à tona e se incorporam à história.

O romance e a realidade se fundem, um influenciando a outra. Na verdade, Esposito não tem pretensões literárias. A escrita do romance funciona como uma tentativa da auto preservação, como uma forma de evitar que o passado lentamente se perca na memória, deixando que injustiças se dissolvam impunes e que a amargura substitua os sonhos não realizados.

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Crítica | Colateral

Quem se importa se um estranho morrer?

Collateral
Direção de Michael Mann
2004 : EUA :  116 min
Com Tom Cruise (Vincent) e
Jammie Fox (Max)
www.collateral-themovie.com

No início de Colateral todos os personagens são desconhecidos uns dos outros. Por capricho do destino ou do acaso eles vão se cruzar ao longo das poucas horas em que a história acontece e suas vidas vão se entrelaçar de forma trágica. São pessoas perdidas na noite de uma cidade desumana e que parece vazia. Colateral fala sobre solidão na selva urbana, solidão que desilude uns e que torna outros em selvagens insensíveis.

O fracassado do bem e o bem-sucedido do mal

Max (Jammie Fox) e Vincent (Tom Cruise) são subprodutos opostos da metrópole. Max é um pacato fracassado e Vincent um psicopata bem-sucedido. Um pensa que nada pode e o outro que pode tudo. O pacato tem um sonho distante e busca refúgio olhando para uma foto pendurada no seu quebra sol. O psicopata é uma máquina de matar dado a filosofar sobre a inutilidade da virtude. Colateral é um duelo entre dois extremos. Seria o duelo entre o bem e o mal?

Max é taxista e trabalha a noite. Sua ligação  com as pessoas se resume contatos rápidos pelo retrovisor. Elas entram e saem de seu táxi e deixam impressões vagas. Max é um observador, às vezes enojado, do seu mundo. Ele é boa praça, um cara carismático na sua insignificância. Graças a isso, conquista a simpatia de alguns passageiros. Até ganha um cartão da promotora de justiça Annie para quem ele fez uma corrida.

Para o caso de ele querer conversar sobre a vida em geral, sabe como é, né? O batismo de fogo de Max começa quando Vincent entra em seu carro. Vincent vai permanecer em Los Angeles apenas por algumas horas para contatar cinco pessoas em pontos diferentes da cidade e quer que Max o leve até elas. Infelizmente, os assuntos comerciais de Vincent com seu primeiro contato da noite não saem como era para ser e Max se torna testemunha de um assassinato.

Missão dada, missão cumprida

A partir daí a relação entre os dois muda e Max passa a ser motorista e refém de um matador profissional obcecado em cumprir sua missão. Depois do primeiro corpo tombar o ritmo do filme muda. A tensão cresce a cada cena e começa uma longa corrida pelas ruas de Los Angeles regada a violência e morte.

Vilão que se presa tem carisma e Vincent perturba o espectador porque é um perfeccionista na arte de matar. Não lhe faltam as virtudes do vilão: tem sangue frio, é oportunista, inteligente, corajoso, competente e focado. Além de matador profissional, Vincent é um filósofo da violência capaz de confundir a cabeça de Max com suas tiradas cínicas. Apesar de ser um niilista, para Vincent, missão dada é missão cumprida e esse fundamentalismo é o seu calcanhar de Aquiles. Ufa, ainda bem que esse cara tem um ponto fraco.

Solidão da metrópole

Diretores como John Ford elevaram o gênero western à categoria de arte. Michael Mann é um dos responsáveis pela elevação do nível do gênero policial. No western, havia a solidão das grandes paisagens desabitadas. Em Colateral, temos o homem solitário que enfrenta a violência do asfalto sem fim. Quando duas pessoas se conectam por algum motivo, mesmo que sejam extremos opostos, haverá uma convergência entre elas.

Cada um vai dar algo de si ao outro. Max, o meticuloso, vai ganhar em coragem, determinação e capacidade de improvisar sob pressão. Vincent, o facínora, acabará esboçando alguns sinais de humanidade. Mas Michael Mann é um otimista e nos seus filmes a aproximação entre o bem e o mal acontece, mas nunca termina em relativismo. O bem e o mal não devem se misturar e cabe ao bem vencer no final.

Marcante

  • A fotografia das cenas externas e noturnas, a trilha sonora intimista, o timing preciso de cada cena criam um clima único. É como caminhar sozinho e sem rumo na madrugada pelas ruas de uma grande cidade

Filmes

Crítica | Os infiltrados

Quando o mau é bom e o bom é mau

The departed
Direção de Martin Scorsese
2006 : EUA :  149 min
Com Leonardo DiCaprio (Billy Costigan),
Matt Damon (Colin Sullivan),
Jack Nicholson (Frank Costello) e
Vera Farmiga (Madeleine)
Site oficial: thedeparted.warnerbros.com

Os infiltrados parte de um enredo engenhoso: o policial Billy Costigan (DiCaprio) se infiltra na gangue de Frank Costello (Nicholson) ao mesmo tempo em que o gangster Collin Sullivan (Matt Damon) inicia carreira na polícia de Boston. Em pouco tempo ambos sobem na hierarquia das organizações em que atuam. Billy (o bom) consegue entrar no círculo do velho mafioso e Collin (o mau) é promovido no departamento de polícia.

Porém, uma sucessão vertiginosa de incidentes faz com que os dois lados farejem a existência dos infiltrados. A partir daí, começa uma caçada em que o bom e o mau perseguem um ao outro. Essa trama simétrica serve para Martin Scorsese fazer aquilo que é sua especialidade: mostrar o mundo do crime por dentro.

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Crítica | Seven

O martírio como espetáculo

Se7en
Direção de David Fincher
1995 : EUA : 128 min
Com Morgan Freeman (Somerset),
Brad Pitt (Mills),
Gwyneth Paltrow (Tracy) e
Kevin Spacey

As cenas iniciais nos mostram o velho detetive Somerset se preparando para ir ao trabalho. A colcha impecavelmente alisada, os objetos pessoais alinhados sobre a cômoda. Um homem metódico e solitário, diferente de seu novo parceiro, o impetuoso e afoito Mills (Brad Pitt) que nunca desfaz o nó da gravata e vive em conflito com sua bela mulher (Gwyneth Paltrow).

Falta pouco para Somerset se aposentar e Mills está chegando à cidade grande disposto a conquistar espaço. O destino lhes reserva um caso difícil e logo surge uma aversão mútua entre os dois, no entanto, veremos que eles são opostos que se complementam: a experiência de um e o vigor do outro; o altruísmo do jovem e o ceticismo do velho; racionalidade de Somerset e a impulsividade de Mills.

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Crítica | Tropa de elite

Faca na caveira, nada na carteira

Direção de José Padilha
2007 : Brasil : 89 min
Com Wagner Moura (Capitão Nascimento),
André Ramiro (Aspirante André),
Caio Junqueira (Aspirante Neto),
Milhem Cortaz (Capitão Fábio),
Fábio Lago (Baiano) e
Fernanda Machado (Maria) .

Não tem lado bom nessa história em que o bandido é bandido, a polícia militar tem corrupção no DNA, os favelados colaboram com o crime, a classe média financia o tráfico e a tropa de elite faz justiça a bala. Nessa terra de ninguém, cada um desempenha o papel que lhe cabe criando o equilíbrio dinâmico da violência.

Pela perspectiva da polícia

Capitão Nascimento lidera um grupo do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) na cidade do Rio de Janeiro. Com seus homens, ele realiza missões de alto risco com enfrentamento direto a traficantes em condições típicas de guerrilha urbana. Nascimento está na função há dez anos e quer deixar o cargo porque vai ser pai e não agüenta mais a pressão do trabalho. Para isso, precisa encontrar um substituto à altura. O filme conta a história da formação desse novo guerreiro.

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