Arquivo da categoria: Filmes

Crítica | A culpa é do Fidel

Educação prafrentex

La Faute à Fidel
Direção de Julie Gavras
França : 2006 : 99 min
Com Nina Kervel-Bay (Anna),
Julie Depardieu (Marie) e
Stefano Acccorsi (Fernando)

Embora o filme mostre vários “comunistas barbudos comedores de criancinhas” e alguns “ricaços porcos imperialistas” prefiro vê-lo como uma obra sobre educação e não sobre política. Exemplos sobre o que não fazer ao educar os filhos são abundantes no filme e acredito que devia ser exibido em todos os cursos de pedagogia como case de dificuldades educacionais. Além disso, o filme traça um perfil divertido de esquerdistas e direitistas que se assemelham entre si em muitos aspectos e competem no quesito fundamentalismo tacanho.

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Crítica | O segredo de seus olhos

O amor, como a justiça, tarda mas não falha

El secreto de sus ojos
Direção de Juan José Campanella
2009 : Argentina : 127 min
Com Ricardo Darin (Esposito) e
Soledad Villamil (Irene)

Esposito é um investigador aposentado da justiça argentina que resolve passar a sua vida a limpo escrevendo um romance policial. O livro trata de um crime ocorrido em 1974 investigado pelo próprio Esposito e que gerou desdobramentos profundos na sua vida. Seria um balanço autobiográfico? Mais que isso: durante a pesquisa para a escrita do romance novos fatos vem à tona e se incorporam à história.

O romance e a realidade se fundem, um influenciando a outra. Na verdade, Esposito não tem pretensões literárias. A escrita do romance funciona como uma tentativa da auto preservação, como uma forma de evitar que o passado lentamente se perca na memória, deixando que injustiças se dissolvam impunes e que a amargura substitua os sonhos não realizados.

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Crítica | Um ato de liberdade

O êxodo

Defiance
Direção de Edward Zwick
2008 : EUA : 137 min
Com Daniel Craig (Tuvia) e
Lev Schreiber (Zus)

Quando Moisés liderou seu povo na fuga do Egito em busca da Terra Prometida foi preciso cruzar o Mar Vermelho. Segundo a Bíblia, a travessia só foi possível graças à intervenção divina. Guardadas as proporções, Um ato de liberdade é uma história de superação, um verdadeiro Êxodo nos confins da Bielorrússia. Baseado em fatos reais, o filme nos conta a história dos irmãos judeus Bielski que lutaram contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Quase toda a família Bielski desapareceu no extermínio de judeus comandado pela SS durante a invasão da União Soviética. Para fugir da morte os irmãos se esconderam na floresta, mas não contavam que outros fugitivos viriam se juntar ao grupo. Com o tempo, forma-se uma comunidade de sobreviventes que terá que passar por provações de todo tipo: fome, frio, doença e perseguição.

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Crítica | 12 homens e uma sentença

A justiça em julgamento

Twelve angry men
Direção de Sidney Lumet
1957 : EUA : 96 min : preto e branco
Com Henry Fonda (jurado nº 8),
Lee J. Cobb (jurado nº 3) e
Ed Begley (jurado nº 10).

Em filmes sobre julgamentos em tribunal, geralmente, o espectador sabe de antemão se o réu é inocente ou culpado. A questão se resume em torcer pelo surgimento das provas para que se faça justiça. Em Doze homens, o problema é outro. O réu já passou por julgamento, as provas já foram apresentadas e cabe ao júri dar o veredicto.

Justiça imperfeita

Nesse filme sem mulheres; como o nome sugere são doze homens em cena; aparentemente o caso está liquidado. Os doze jurados, que não se conhecem, entram na sala do júri em um final de dia muito quente, o que será um ingrediente a mais para aumentar a tensão entre eles, e só podem sair de lá com um veredicto unânime. Caso o resultado seja guilty, a pena para o réu será a cadeira elétrica.

Todos pensam que será uma decisão rápida porque as provas contra o réu parecem bem contundentes. Começa a votação e o resultado é onze a um pela condenação. Apenas o jurado número 8 (Henry Fonda) discorda do grupo. Nesse momento se ata o nó da ação.

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Crítica | 21 gramas

Sensibilidade em estado puro


21 grams
Direção de Alejandro Gonzalez-Iñárritu
2003 : EUA : 125 min
Com Sean Penn (Paul),
Benicio Del Toro (Jack) e
Naomi Watts (Christina)
Site oficial: www.21-grams.com

Morte como tema

São muitos os filmes que têm a morte como tema. Em alguns, ela é consequência da guerra, em outros, da ganância do ser humano. Às vezes, a morte acontece nos filmes pelo enfrentamento do homem contra a natureza. Pois bem, em 21 gramas a morte resulta de um acidente automobilístico, desses que a imprensa nos mostra diariamente.

Confesso que tinha em mim a ideia de que um acidente de carro é uma fatalidade da vida cotidiana e que não há muito o que fazer ou refletir nesses casos. Mas 21 gramas me obrigou a rever esse preconceito. A morte é aquilo que é, independente das circunstâncias em que ocorre e os vivos convivem com ela não como querem, mas como podem.

Histórias interligadas

21 gramas conta a história de três famílias cujas trajetórias se cruzam de forma trágica. O professor universitário Paul (Sean Penn) é um cardíaco grave que vive com a mulher à espera de um transplante de coração. Christina (Naomi Watts) é uma dona de casa  que teve um passado ligado a drogas e leva uma vida pacata com seu marido e duas filhas. Jack (Benicio Del Toro) é um ex alcoólico com passagens pela cadeia que descobriu na religião energia para cuidar de sua esposa e dois filhos pequenos.

Um acidente de carro vai interligar os destinos dessas três famílias. O resultado da tragédia é devastador. Paul ganha uma vida nova, Christina mergulha no abismo e volta às drogas, Jack passa a acreditar que Deus o abandonou. No final, restam algumas lições aos personagens e aos espectadores. Restam?

Em um filme com uma densidade de emoções tão alta, seria de se pensar que arrojos formais não seriam necessários e mais que isso, indesejáveis. No entanto, o diretor Gonzalez-Iñárritu arriscou e não perdeu a aposta. A fotografia do filme usa cores desbotadas que em alguns momentos beiram o preto e branco. O resultado foi um clima mais intimista sintonizado com a atmosfera emotiva do filme.

Filme intimista

Boa parte das tomadas foram feitas com câmera na mão e isso deixou o clima mais pessoal. Mas o efeito mais intenso está na montagem das cenas. O diretor optou por uma montagem fragmentada em que os enredos paralelos vão se alternando constantemente. Além disso há um proposital embaralhamento da ordem cronológica das cenas, como se duas sequências de cenas corressem em paralelo, uma cronologicamente mais avançada do que a outra.

A antecipação de algumas informações, longe de confundir ou desestimular o espectador o prende à tela, na tentativa de compor o quebra cabeça aos poucos.

21 gramas é um filme intimista com elevada densidade emocional, que fala sobre a dor diante da morte. Atores em plena forma, fotografia e montagem ousadas. Para sentir e pensar. Em tempo: no finalzinho, ficamos sabendo o que são os 21 gramas.

Marcante

  • A direção de atores desse filme é um caso a parte. O filme transborda emoção do começo ao fim. Rara sensibilidade.
  • A montagem com mais de uma sequência cronológica, produzindo avanços e recuos no tempo narrativo.

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