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Crítica | Tropa de elite

Faca na caveira, nada na carteira

Direção de José Padilha
2007 : Brasil : 89 min
Com Wagner Moura (Capitão Nascimento),
André Ramiro (Aspirante André),
Caio Junqueira (Aspirante Neto),
Milhem Cortaz (Capitão Fábio),
Fábio Lago (Baiano) e
Fernanda Machado (Maria) .

Não tem lado bom nessa história em que o bandido é bandido, a polícia militar tem corrupção no DNA, os favelados colaboram com o crime, a classe média financia o tráfico e a tropa de elite faz justiça a bala. Nessa terra de ninguém, cada um desempenha o papel que lhe cabe criando o equilíbrio dinâmico da violência.

Pela perspectiva da polícia

Capitão Nascimento lidera um grupo do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) na cidade do Rio de Janeiro. Com seus homens, ele realiza missões de alto risco com enfrentamento direto a traficantes em condições típicas de guerrilha urbana. Nascimento está na função há dez anos e quer deixar o cargo porque vai ser pai e não agüenta mais a pressão do trabalho. Para isso, precisa encontrar um substituto à altura. O filme conta a história da formação desse novo guerreiro.

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Crítica | Underground – mentiras de guerra

O bom e o mau comunista

Underground
Direção de Emir Kusturica
1995 : França/Iugoslávia :  194 min
Com Miki Manoljovic (Marko),
Lasar Rostowski (Crni) e
Mirjana Jokovki (Natalija).

A capa do DVD de Underground nos mostra uma imagem de extraordinária força: uma bela loira dança excitada em volta do canhão de um tanque de guerra. O poder das armas seduz e corrompe. Esta é apenas uma das muitas metáforas de Underground, filme que conta através do realismo fantástico a trajetória da antiga Iugoslávia, desde o período da invasão nazista na II Guerra Mundial até o seu esfacelamento no final do século XX.

História da Iugoslávia

Underground começa e termina em festa e no meio da farra acontecem as desgraças. Os personagens parecem conformados com essa promiscuidade entre alegria e tragédia e preferem se concentrar na festa do que dar atenção à tragédia. Emir Kusturica é ousado e abusado. Em dois momentos do filme o povo dos Bálcãs é representado por animais. Isso mesmo.

Na cena inicial que se passa no zoológico de Belgrado, os animais vivem em um mundo tranquilo, apesar das grades. São bem cuidados pelo tratador gago, mas de repente e do nada surgem aviões no ar que começam a despejar bombas na cabeça de todos. Alguns morrem no bombardeio, outros escapam de suas jaulas e saem vagando sem rumo pela cidade devastada. No final do filme, uma boiada surge nadando no meio do lago em busca de terra firme. Encontram abrigo em uma minúscula ilha que acaba de se desprender do continente. São os refugiados de uma guerra insana em um país que se fragmenta.

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Crítica | Vidas amargas

O fim do Éden

East of Eden
Direção de Elia Kazan
1955 : EUA : 115 min
Com James Dean (Cal),
Julie Harris (Abra),
Raymond Massey (Abram) e
Jo Van Fleet (Kate).

Tudo em Vidas Amargas é repleto de significação, a começar pelo título original (East of Eden) que nos remete à história bíblica de Abel e Caim. Mas não pense em encontrar o bom e o mau irmão nos moldes bíblicos, porque nesse filme as fronteiras entre o bem e o mal são muito difusas,  como na vida real.

Vidas Amargas é um filme sobre conflito de gerações, mas que vai muito além disso. É uma obra densa com personagens complexos e outros temas estão lá: o impacto da tecnologia; a transformação que a guerra traz à vida de uma pequena comunidade; a solidão; a perda da inocência; o conflito entre alinhados e desajustados; entre formais e viscerais; entre certinhos e malandros; e por que não dizer: entre o bem e o mal.

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Crítica | Z

Política como caso de polícia

Z
Direção de Costa-Gavras
1967 : Argélia : 127 min
Com Yves Montand (Doutor),
Irene Papas (Helene) e
Jean-Louis Trintignant (Magistrado)

Z é um thriller político descaradamente maniqueísta. Os bons do filme são cavalheiros altruístas, dedicados, austeros, intelectuais e bonitões. Eles lutam por uma causa justa e erguem bandeiras pela democracia, pelo pacifismo e pela independência das nações. Os maus, por outro lado, são toscos, truculentos, cômicos e abraçam causas de direita unicamente por conta de interesses mesquinhos.

Maniqueísmo político

Os maus preferem a ditadura, o anticomunismo, a xenofobia; no entanto, vão ao teatro ver o balé Bolshoi e um deles é pederasta. Seriam as contradições expostas da direita tacanha que pratica o que critica? Z mostra um mundo polarizado: nobres cruzados da política elegante contra rudes defensores do status quo retrógrado. Será que o mundo é simples e raso assim? Então, porque considerar Z um filme de grande importância? Primeiro, porque é baseado em fatos reais, depois, porque a visão implícita nas lentes de Z é um produto da Guerra Fria que, por extensão, retrata também outras realidades políticas desse mundão de Deus.

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Crítica | A bolha

Gosmenta, asquerosa, trash e cult

The blob
Direção de Irvin S. Yeaworth Jr.
1958 : EUA : 86 min
Com Steve McQueen (Steve) e
Aneta Corsaut (Jane)
Tema de abertura de Burt Bacharach

Ela veio do espaço dentro de um meteorito e está crescendo sem parar graças a uma dieta rica em proteína humana. Nada parece detê-la: nem tiros, nem ácido, nem choque elétrico. O que será da humanidade? Seremos todos engolidos pela bolha grudenta? A bolha é o legítimo filme trash cult. A produção é precária, as performances dos atores são uma droga, os efeitos especiais são toscos e engraçados, os diálogos são repetitivos.

Do trash ao cult

Enfim, quanto mais você assiste mais problemas encontra no filme. Então por que assisti-lo? Acontece que ele tem aquelas as virtudes fundamentais do trash cult: parte de uma ideia engraçada e original; pretende arrancar gritos de horror da plateia, mas acaba tirando boas risadas; é ingênuo e despretensioso e reflete uma visão de mundo simples e romântica.

A bolha é mais uma produção americana da década de 1950 que mescla horror com ficção científica. Outros exemplos são Guerra dos Mundos (1953) e Plan 9 from outer space (1959). Nas décadas anteriores, o cinema americano ainda importava monstros europeus como Drácula e Frankenstein. A partir da década de 1950, a indústria cinematográfica começou a se interessar pelo público adolescente e era preciso buscar novos paradigmas.

Com a corrida espacial em curso, o terror começou a vir do espaço. Como sempre, o terror vem de fora. O medo americano sempre tem como causa algo absolutamente mau que chega de além das suas fronteiras e ameaça uma população honrada. Ok, não são apenas os americanos que agem assim, mas eles lideram a indústria cinematográfica mundial, então que aguentem a bronca.

Pensando bem é bom

Mas nem tudo em A bolha é primário. Há algumas particularidades no filme que o mantém vivo em nossa memória. Note como ninguém acredita naqueles adolescentes, que são tratados como arruaceiros. Observe o policial durão que pensa que ainda está na Segunda Guerra. Perceba como no final, as diferenças são superadas e todos se unem contra a maldita bolha comilona.

Esse filme já teve remake com melhor produção em 1988 (A bolha assassina), mas vale a pena assistir o original. Atenção para Steve McQueen em início de carreira e a música de abertura de Burt Bacharach, que não tem nada a ver com filme de terror, é um mambo. Ideal para os saudosistas dos anos dourados e para quem pensa em largar o chiclete.

Marcante

  • O velho eremita é o primeiro a ver o meteorito fumegante que caiu próximo à sua cabana. De repente, o meteorito racha como um ovo e aparece a pequena bolha no seu interior. Como em todo filme de terror que se presa, os idiotas curiosos morrem primeiro e o velho resolve cutucar a bolha com um graveto.

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