Crítica | Adeus, Lenin!

A segunda queda do muro de Berlim

Good bye, Lenin!
Direção de Wolfgang Becker
2003 : Alemanha : 118 min
Com Daniel Brühl (Alexander) e
Katrin Sass (Christine)
Site oficial: www.good-bye-lenin.de

Sempre esperamos que a arte exorcize os demônios da História. A queda do muro de Berlim foi um trauma para muita gente. Não que as pessoas quisessem a continuação do muro, mas porque houve duas quedas em uma só: a do muro e a do socialismo real.

Tudo bem, estamos falando de pessoas ao redor do mundo que acreditavam, algumas ainda acreditam, na utopia socialista. Mas quem viveu no socialismo real vê as coisas sob outra perspectiva e nada como um filme feito por alemães para nos dar a visão de quem estava lá sobre o fim do muro e da RDA (República Democrática Alemã, a Alemanha oriental e socialista).

Comunista devota

Christine (Katrin Sass) é uma mãe devotada aos filhos e ao partido comunista. Depois que seu marido abandonou a família em circunstâncias mal explicadas, ela passou a ser uma ativista da causa socialista. Seu filho Alexander (Daniel Brühl) é mais pragmático e não se entusiasma com o comunismo. Chega a participar de uma passeata de protesto em 1989 pela queda do regime alemão oriental. A mãe de Alexander o vê no exato momento em que ele é preso pela polícia que dispersa a passeata e isso a leva a um enfarte.

Ela permanece em coma por oito meses e, enquanto isso, a situação política da Alemanha oriental vira de pernas para o ar. Quando Christine sai do coma, os médicos avisam o filho que a situação dela é muito delicada e que ela não pode passar por emoções fortes. Alexander então decide esconder da mãe comunista fervorosa toda a reviravolta política que ocorre no país. A partir daí, está montado o palco para situações hilárias e absurdas.

O Muro de Berlim não pode cair

Adeus, Lenin! usa a inesgotável e universal fórmula de retratar os dramas individuais tendo a História como pano de fundo. E faz isso com leveza, sensibilidade e humor. As transformações sociais causadas pelo retorno ao capitalismo estão lá registradas. Os alemães orientais abandonam rapidamente o modo de vida comunista e aderem ao capitalismo sem maior resistência. Há uma certa ironia em relação aos camaradas comunistas.

Eles são postos como pessoas ingênuas ludibriadas pela tosca propaganda oficial. Por outro lado, os capitalistas recém convertidos são fúteis e fazem tudo por dinheiro. É o conflito entre dois mundos, como se Christine fosse Dom Quixote e seu filho Alexander, Sancho Pança.

Ela crê na utopia socialista com uma ingenuidade digna de respeito. O terreno e objetivo Alexander se adapta rapidamente aos novos tempos, mas é capaz de criar as situações mais surreais para não abalar a saúde de sua mãe.

Esse filme é mais do que um registro sensível e divertido sobre um momento da história alemã. É uma reflexão sobre a velha oposição entre práticos e idealistas, inseridos e desajustados, vanguardistas e ultrapassados. E acima da ideologia, está o amor entre mãe e filho.

Marcante

  • Alexander participa de uma passeata de protesto contra o regime comunista. Sua mãe o vê no momento em que ele é preso pela polícia de choque e ela tem um enfarte na rua.
  • Christine sai à rua pela primeira vez após o coma e vê uma imensa estátua de Lenin passar à sua frente, pendurada a um helicóptero.

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