Crítica | Colateral

Quem se importa se um estranho morrer?

Collateral
Direção de Michael Mann
2004 : EUA :  116 min
Com Tom Cruise (Vincent) e
Jammie Fox (Max)
www.collateral-themovie.com

No início de Colateral todos os personagens são desconhecidos uns dos outros. Por capricho do destino ou do acaso eles vão se cruzar ao longo das poucas horas em que a história acontece e suas vidas vão se entrelaçar de forma trágica. São pessoas perdidas na noite de uma cidade desumana e que parece vazia. Colateral fala sobre solidão na selva urbana, solidão que desilude uns e que torna outros em selvagens insensíveis.

O fracassado do bem e o bem-sucedido do mal

Max (Jammie Fox) e Vincent (Tom Cruise) são subprodutos opostos da metrópole. Max é um pacato fracassado e Vincent um psicopata bem-sucedido. Um pensa que nada pode e o outro que pode tudo. O pacato tem um sonho distante e busca refúgio olhando para uma foto pendurada no seu quebra sol. O psicopata é uma máquina de matar dado a filosofar sobre a inutilidade da virtude. Colateral é um duelo entre dois extremos. Seria o duelo entre o bem e o mal?

Max é taxista e trabalha a noite. Sua ligação  com as pessoas se resume contatos rápidos pelo retrovisor. Elas entram e saem de seu táxi e deixam impressões vagas. Max é um observador, às vezes enojado, do seu mundo. Ele é boa praça, um cara carismático na sua insignificância. Graças a isso, conquista a simpatia de alguns passageiros. Até ganha um cartão da promotora de justiça Annie para quem ele fez uma corrida.

Para o caso de ele querer conversar sobre a vida em geral, sabe como é, né? O batismo de fogo de Max começa quando Vincent entra em seu carro. Vincent vai permanecer em Los Angeles apenas por algumas horas para contatar cinco pessoas em pontos diferentes da cidade e quer que Max o leve até elas. Infelizmente, os assuntos comerciais de Vincent com seu primeiro contato da noite não saem como era para ser e Max se torna testemunha de um assassinato.

Missão dada, missão cumprida

A partir daí a relação entre os dois muda e Max passa a ser motorista e refém de um matador profissional obcecado em cumprir sua missão. Depois do primeiro corpo tombar o ritmo do filme muda. A tensão cresce a cada cena e começa uma longa corrida pelas ruas de Los Angeles regada a violência e morte.

Vilão que se presa tem carisma e Vincent perturba o espectador porque é um perfeccionista na arte de matar. Não lhe faltam as virtudes do vilão: tem sangue frio, é oportunista, inteligente, corajoso, competente e focado. Além de matador profissional, Vincent é um filósofo da violência capaz de confundir a cabeça de Max com suas tiradas cínicas. Apesar de ser um niilista, para Vincent, missão dada é missão cumprida e esse fundamentalismo é o seu calcanhar de Aquiles. Ufa, ainda bem que esse cara tem um ponto fraco.

Solidão da metrópole

Diretores como John Ford elevaram o gênero western à categoria de arte. Michael Mann é um dos responsáveis pela elevação do nível do gênero policial. No western, havia a solidão das grandes paisagens desabitadas. Em Colateral, temos o homem solitário que enfrenta a violência do asfalto sem fim. Quando duas pessoas se conectam por algum motivo, mesmo que sejam extremos opostos, haverá uma convergência entre elas.

Cada um vai dar algo de si ao outro. Max, o meticuloso, vai ganhar em coragem, determinação e capacidade de improvisar sob pressão. Vincent, o facínora, acabará esboçando alguns sinais de humanidade. Mas Michael Mann é um otimista e nos seus filmes a aproximação entre o bem e o mal acontece, mas nunca termina em relativismo. O bem e o mal não devem se misturar e cabe ao bem vencer no final.

Marcante

  • A fotografia das cenas externas e noturnas, a trilha sonora intimista, o timing preciso de cada cena criam um clima único. É como caminhar sozinho e sem rumo na madrugada pelas ruas de uma grande cidade

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