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Crítica | Distrito 9

Apartheid alienígena

District 9
Direção de Neil Blomkamp
2009 : Nova Zelândia/África do Sul : 112 min
Com  Sharlto Copley (Wikus)

De repente, uma espaçonave gigantesca estaciona nos arredores de Johanesburgo, África do Sul. No interior da nave, são encontrados milhares de alienígenas doentes e desnutridos. O governo local aloja os estranhos seres em um terreno logo abaixo de onde a espaçonave flutua misteriosamente. Com o passar do tempo, a relação da população terrestre com os alienígenas começa a ficar tensa. Afinal, os intrusos não vão retornar para o espaço?

Alienígenas favelados

O terreno ocupado pelos seres interplanetários se transforma em uma imensa favela. Espere aí. Esse é um filme sobre aliens ou sobre favelados? Distrito 9 é uma criativa e impiedosa metáfora sobre choque de culturas. Quem quiser imaginar a espaçonave como uma grande embarcação que despeja refugiados indesejáveis em um país africano, fique a vontade.

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Crítica | Fahrenheit 451

Apologia da palavra através de imagens


Fahrenheit 451
Direção de François Truffaut
1966 : Inglaterra : 112 min
Com Oskar Werner  (Montag) e
Julie Christie (Clarisse e Linfa)

Embora seja um filme que enaltece a palavra escrita, os créditos de Fahrenheit 451 são dados em áudio. Essa forma atípica de começar um filme anuncia o enredo, que trata de uma sociedade futurista em que a palavra escrita é condenada e os livros são proibidos porque trazem infelicidade às pessoas. O filme é baseado em romance homônimo de Ray Bradburry, escritor americano de ficção com grande sensibilidade para questões humanas.

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Crítica | Gran Torino

O veterano volta às armas

Gran Torino
Direção de Clint Eastwood
2008 : EUA :  116 min
Com Clint Eastwood (Walt Kowalski),
Bee Vang (Thao),
Ahney Her (Sue Lor) e
Cristopher Carley (Padre Janovich)

Rabugento, é apelido. O nome é Sr. Kowalski, um polaco-descendente do meio oeste americano que diz o que pensa e, geralmente, pensa o que não devia dizer. O Sr. Kowalski, não o chamem de Walt, perdeu a esposa recentemente, não se dá com os filhos, noras e netos e só conversa amigavelmente com sua cadela labradora. Kowalski, entretanto, tem um Ford Gran Torino 1972 que ele mantém impecavelmente polido como se fosse extensão e metáfora de si mesmo.

Um muscle car como metáfora

Assim como o Sr. Kowalski, o Gran Torino é remanescente de uma época de ouro que se perdeu no passado. Kowalski combateu na Guerra de Coreia, mas seus netos nem sabem onde fica a Coreia. Ele trabalhou em uma montadora americana de automóveis onde instalou a coluna de direção de seu próprio Gran Torino, mas seu filho é vendedor de uma concessionária japonesa. O sr. Kowalski é o último branquelo aguado que restou no bairro decadente de Detroit em que mora, agora infestado por gangues de chicanos, negros e chinas. Para lembrar a todos que ali ainda mora um americano, ele mantem a bandeira dos EUA hasteada na varanda.

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Crítica | Marty

Tímido, desajeitado, feio e … adorável

Marty
Direção de Delbert Man
1955 : EUA : 91 min : branco e preto
Com Ernest Borgnine (Marty Piletti),
Batsy Blair (Clara Snyder) e
Esther Minciotti (Sra. Piletti)

Provinciano? Sim, é um filme sobre pessoas simples de ideais simples, provincianas enfim. Resta saber se a mensagem do filme é provinciana também. Pode ser, mas talvez aí esteja a sua força, afinal é impossível não torcer pelo simpático gorducho.

Quase toda boa história começa com uma situação inverossímil. Marty é um solteirão de 34 anos, mas não por opção. Ele sempre quis constituir família, porém não consegue e aí está o problema. Ele é simpático, boa praça, responsável e respeita as pessoas. Não dá para crer que com esse elenco de qualidades ainda não tenha arrumado uma esposa.

Busca dos valores genuínos

Marty acredita que o problema é com ele e que não consegue noiva porque é tímido, desajeitado e feio e daí vem o tema do filme: o dilema de se deixar levar pela superficialidade do grupo ou seguir o que o próprio julgamento manda. Marty sabe no seu íntimo quais são as qualidades indispensáveis a quem quer se casar. Os seus amigos, no entanto, preferem a farra, as moças bonitas e fáceis e acreditam que sair com moças feias compromete a imagem do sujeito.

A história do filme cobre pouco mais do que 24 horas na vida do açougueiro Marty. Para contá-la bastariam umas duas ou três linhas, porque a história é muito simples. Trata-se do encontro de Marty com Clara, uma professora de Química, que também busca um companheiro e que enfrenta as mesmas dificuldades do nosso herói. Ela também é tímida, desajeitada e sem encantos físicos. Infelizmente, para os dois pombinhos, as pessoas que cercam Marty parecem estar unidas no propósito maligno de melar a relação dos dois. Marty, porém, sabe o que quer e mesmo balançando diante das pressões toma o caminho que sua consciência e seu coração mandam.

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Crítica | O diabo veste Prada

A sofisticada sedução do diabo

The devil wears Prada
Direção de David Frankel
2006 : EUA : 109 min
Com Meryl Streep (Miranda Priestly),
Anne Hathaway (Andy Sachs) e
Stanley Tucci (Nigel)
Site oficial: www.devilwearspradamovie.com

O diabo tem suas armas para atrais as almas: sofisticação, glamour, poder e grifes caríssimas. Andy (Anne Hathaway), nossa heroína, terá que lutar muito contra o assédio das forças do mal. Ela é uma jovem recém-formada em jornalismo buscando seu lugar no mundo profissional. Eficiência e dedicação não lhe faltam, mas essas qualidades acabam sendo úteis aos interesses do Mal.

Crítica ao workaholic

O diabo, ou melhor: a diaba, nesse caso é a lendária executiva do jornalismo de moda Miranda Priestly. Essa diaba (Meryl Streep) nunca desce do salto e cumpre à risca o seu papel na sociedade. É uma executiva ultra eficiente e visionária que dá as cartas no iniciático universo da alta moda. Bem, esse é o lado light de sua figura. Completam o perfil da diva o mau humor 24 por 7, o perfeccionismo a qualquer preço e a convicção de que todos a sua volta estão em um nível ínfimo de competência e relevância.


Andy consegue o emprego de segunda assistente de Miranda em parte pelo acaso, mas principalmente por ser diferente das jovens que ocuparam o cargo anteriormente. Na editora de Miranda todos repetem o mesmo mantra: “Um milhão de garotas dariam a vida pela sua vaga, minha cara Andy.” Andy, porém, sequer sabia quem era a poderosa Melissa antes de chegar para a entrevista. Depois de conquistar a vaga,

Andy, que sonha trabalhar no jornalismo ‘sério’, inicia um processo de rápida transformação. Ela começa a entender de moda, a ficar mais sofisticada e graças às cobranças desumanas da chefe rapidamente se transforma em uma máquina de trabalhar. Uma transformação para o bem ou para o mal?

Esse é um filme sobre o universo do trabalho. Além de ser uma comédia deliciosa, podemos refletir sobre os limites da servidão aos interesses da carreira. Para ser reconhecido e chegar ao topo há um preço alto a pagar. Talvez seja preciso puxar o tapete de alguns concorrentes ou deixar o namorado esperando.

Mercado da mega hiper competência

Em sua busca pela mega hiper competência Andy se transforma. A sua vida simples começa a se perder no passado, os velhos amigos vão se afastando. Evolução ou corrupção? Uma hora Andy terá que decidir o que deseja para si. Levar a sério a futilidade da alta moda? Futilidade? Mas como se é um negócio que movimenta milhões? E o que seria o trabalho ‘sério’ que Andy cultua?

No fundo, Andy projeta na chefe sua imagem amanhã e Miranda vê na assistente a si mesma ontem. Talvez Miranda tenha escolhido Andy por causa de um desejo secreto: o de fazer com que pessoas normais e inteligentes respeitem o mundo fashion, tido por muitos como frívolo e afetado. Um filme para rir dos chefes carrascos. Miranda é o retrato escarrado de alguns que estão por aí infernizando a vida dos seus funcionários. Tudo em nome da eficiência pós-moderna, claro.

Marcante

  • Os mortíferos olhares de desprezo de Miranda. Capazes de reduzir qualquer um ao pó da insignificância.
  • Miranda, personagem inesquecível graças à atuação de Meryl Streep que é ótima quando é má. A personagem se torna ainda mais divertida quando lembramos que foi inspirado em Anna Wintour, editora chefe da revista Vogue de Nova York.

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