Twelve angry men Direção de Sidney Lumet 1957 : EUA : 96 min : preto e branco Com Henry Fonda (jurado nº 8), Lee J. Cobb (jurado nº 3) e Ed Begley (jurado nº 10).
Em filmes sobre julgamentos em tribunal, geralmente, o espectador sabe de antemão se o réu é inocente ou culpado. A questão se resume em torcer pelo surgimento das provas para que se faça justiça. Em Doze homens, o problema é outro. O réu já passou por julgamento, as provas já foram apresentadas e cabe ao júri dar o veredicto.
Justiça imperfeita
Nesse filme sem mulheres; como o nome sugere são doze homens em cena; aparentemente o caso está liquidado. Os doze jurados, que não se conhecem, entram na sala do júri em um final de dia muito quente, o que será um ingrediente a mais para aumentar a tensão entre eles, e só podem sair de lá com um veredicto unânime. Caso o resultado seja guilty, a pena para o réu será a cadeira elétrica.
Todos pensam que será uma decisão rápida porque as provas contra o réu parecem bem contundentes. Começa a votação e o resultado é onze a um pela condenação. Apenas o jurado número 8 (Henry Fonda) discorda do grupo. Nesse momento se ata o nó da ação.
All about Eve Direção de Joseph Mankiewicz 1950 : EUA : 138 min : preto e branco Com Bette Davis (Margo) Anne Baxter (Norma Desmonds) e George Sanders (Addison)
O título em português não caiu muito bem, até porque é possível identificar mais de uma malvada no filme. Malvadas? Talvez sim, talvez não. Ambiciosas, dissimuladas, talentosas, geniosas, carentes, obstinadas, sensíveis, venenosas, Eve (Anne Baxter) e Margo (Bette Davis) são parecidas em muitos aspectos.
Uma está chegando ao estrelato como atriz teatral e a outra se preparando para deixá-lo. O mestre Mankewicz nos mostra a ascensão e queda das divas e, por que não dizer, de todos que experimentam o fugaz sabor da celebridade.
Anatomy of a murder Direção de Otto Preminger 1959 : EUA : 160 min : preto e branco Com James Stewart (Paul Biegler), Lee Remick (Laura), Ben Gazarra (Manion), Arthur O’Connell (McCarthy), George C. Scott (Dancer) e Eve Arden (Maida) Música de Duke Ellington
Uma sugestão para quem vai assistir o filme: imagine que você é um dos doze jurados e que no final terá que dizer: inocente ou culpado. Fique atento, pois nesse filme o espectador não recebe informações privilegiadas. O crime não aparece diante das câmeras em nenhum momento.
Temos que reconstituir os fatos a partir de dados que vão surgindo durante o julgamento. Ficamos sabendo que há um corpo cravejado de balas e que quem fez os disparos foi o tenente Manion, mas não é um caso fácil. Agravantes e atenuantes estão embaralhados de tal forma que o espectador fica dividido.
A Justiça é uma coisa complicada
Afinal, o tenente deve ser inocentado ou tem que pagar pelo ato que cometeu? Que saudades daqueles filmes de tribunal em que sabíamos com nitidez cristalina se o réu é culpado até a medula ou inocente como um anjinho de Rafael. Anatomia de um crime coloca-nos diante do direito real, com todas as suas manipulações, cortinas de fumaça, incertezas e seres humanos que não são absolutamente bons ou maus.
O ex-promotor Paul Biegler (James Stewart) abandonou sua carreira de sucesso e agora ocupa-se de coisas mais interessantes como pescar, dedilhar um jazz ao piano, tomar um uísque ou conversar com seu amigo McCarthy (Arthur O’Connell) sob a filosofia do direito. Quando falta-lhe o numerário, ele assume alguma causa para colocar as contas em dia.
Por aí dá para ver que Biegler não tem uma visão romântica da justiça. O caso que lhe cai nas mãos é a defesa do tenente Manion, acusado de matar um homem publicamente com cinco tiros. Como estabelecer uma linha de defesa em um caso tão flagrante? Bem, o filme nos mostra a batalha do advogado para livrar seu cliente das grades, porém há muitos obstáculos a remover.
O réu é uma pessoa arrogante, cínica e fria e a defesa quer provar que ele perdeu a razão diante da situação limite em que se deu o delito. O motivo do crime seria uma desforra porque o morto teria estuprado a esposa do réu. O problema é que Laura (Lee Remick), a esposa, tem um comportamento bem, digamos, descontraído com os homens em geral, o que nos leva a suspeitar que não se trate de um caso de estupro. No final, teremos um veredicto. Faça sua aposta você também, antes de ouvir a conclusão dos jurados.
Entre o branco e o negro tem os tons de cinza
Anatomia de um crime coloca algumas cascas de banana no caminho do espectador que tenta a todo custo se posicionar no caso. A cada nova revelação nossa opinião pode balançar. O réu não atrai simpatias, mas isso interessa ao caso? O que está em julgamento é a pessoa ou o ato? O estupro justifica a insanidade do réu? E se o estupro não ocorreu e trata-se de uma questão de ciúme descontrolado, o que muda na avaliação dos jurados?
Biegler é um advogado calejado e usa sua retórica afiada para manipular a opinião da plateia. Do outro lado, os promotores não deixam por menos e temos uma batalha de raposas matreiras. A manipulação emocional dos advogados confunde a justiça? Não é um filme para comemorar no final quando os jurados dão o veredicto magnânimo porque diante de tanta ambiguidade, qualquer veredicto é possível. O valor do filme está em mostrar o processo a fundo, em nos deixar confusos.
Marcante
O juiz pede aos jurados que desconsiderem a argumentação da defesa. O réu pergunta reservadamente ao seu advogado como é possível alguém desconsiderar o que ouviu.
O promotor Dancer espreme a testemunha Mary Pilant. A tensão vai aumentando, aumentando, até que o promotor comete o erro fatal de fazer uma pergunta para qual não conhece a resposta.
Sunset Boulevard Direção de Billy Wilder 1950 : EUA : 110 min : preto e branco Com William Holden (Joe Gillis) Gloria Swanson (Norma Desmonds) e Erich Von Stroheim (Max)
Quem conhece o diretor Billy Wilder a partir de suas deliciosas comédias, pode pensar que Crepúsculo dos deuses nem seja obra dele. Embora alguns vejam toques de humor negro no filme, trata-se de um drama melancólico com uma visão dura, duríssima, sobre a decadência e o fracasso. A história tem fim trágico, mas não há problema em revelar isso, afinal o filme começa com um cadáver boiando na piscina e depois regride no tempo para contar como tudo aconteceu.
Relacionamento de interesses
Um roteirista de cinema desempregado é perseguido pelos cobradores que querem tomar o seu carro. Fugindo das dívidas, Joe Gillis (William Holden) acaba por acaso na mansão em que Norma Desmonds (Gloria Swanson), ex-estrela de cinema, vive reclusa. Os interesses se cruzam e Joe acaba se tornando roteirista da ex-atriz em um projeto dela para retornar às telas. Só que aquilo que começa como uma relação profissional e oportunista evolui para um relacionamento complexo e dramático. Para complicar a situação, temos o mordomo Max que desempenha um papel chave na trama.
Norma Desmonds é uma mulher de meia idade, muito rica, que conheceu o estrelato na juventude, durante os tempos do cinema mudo. Mas o tempo passou para ela e o cinema passou por uma revolução. Norma agora vive reclusa em um mundo fechado, totalmente dedicada ao culto de seu passado de estrela. Ela não consegue aceitar a realidade e comporta-se como se ainda fosse uma estrela temperamental. É arrogante, manipuladora e autoritária. Fala com as pessoas como se estivesse representando um papel em um de seus filmes. Seu apego ao passado e a incapacidade de enfrentar a decadência transformam Norma em uma figura patética e frágil. Construiu um muro de isolamento à sua volta e talvez mereça a solidão em que vive.
O sucesso é para poucos
Joe Gillis é um roteirista que não conseguiu decolar na carreira e já pensa em mudar para uma profissão menos glamourosa e mais prosaica. Joe é um fracassado, mas tem alguma dignidade. É um oportunista, embora sinta-se mal sempre que tem de praticar atos sórdidos. Ele gostaria mesmo é de fazer sucesso pelo talento, mas parece que falta-lhe alguma coisa para chegar lá. A frustração faz de Joe um homem entediado e sem perspectiva.
Em alguns momentos o filme parece noir, principalmente quando Joe, que é o narrador, faz seus comentários ácidos. Ao conhecer Norma, ele vê a chance para resolver alguns problemas financeiros. Então, Norma o envolve em seu mundo e a contra gosto ele se deixa manipular. Isso por um certo tempo até que uma crise de identidade o faz repensar a vida. E aí o caldo entorna.
Max, o mordomo, é ao mesmo tempo protetor e carcereiro de Norma. Protege a patroa contra o mundo real e cuida dela nos momentos em que ela entra em depressão. No entanto, alimenta a insanidade da ex-estrela, a quem idolatra.
Cinema sobre cinema
Crepúsculo dos deuses é cinema falando sobre cinema. Alguns de seus personagens são figuras reais como o diretor Cecil B. DeMille, que representa a si mesmo. A meta arte (arte que fala sobre si mesma), costuma dar maus resultados, mas não é o caso de Crepúsculo, pois o filme não gira em torno do umbigo do artista. É uma história universal sobre a decadência que calhou de ter artistas como personagens. Isso faz sentido porque o artista de cinema é um dos que mais sofre com a decadência e o competitivo mundo do cinema costuma deixar muitos na soleira da porta amargando o fracasso ou o esquecimento.
O final do filme é surreal. Um ato insano pode ser o último recurso de quem quer ter uma última vez os holofotes sobre si. Para alguns, a decadência chega bem cedo, para outros demora um tanto, mas vem para todos. Billy Wilder nos mostra como é trágico não saber aceitar a decadência. Como custa caro não se preparar para o dia que sucede a fama. O glamour dos holofotes é fugaz e a competição é implacável. A história de Norma se repete cada vez que uma estrela cadente risca o céu.
Marcante
A vida e a arte se misturam. Gloria Swanson foi estrela do cinema mudo, Erich Von Stroheim dirigiu filmes e Billy Wilder teve seus dias de roteirista fracassado na juventude. Cecil B. DeMille, da Paramount, representa a si mesmo no filme e dirigiu Gloria Swanson na época do cinema mudo. Os amigos de Norma no filme eram realmente atores do cinema mudo como Buster Keaton, que faz ele mesmo. Onde termina a realidade e começa a ficção?
Interpretação na interpretação. O desafio de Gloria Swanson foi representar uma atriz que vivia em um mundo de sonho e agia em seu cotidiano como se estivesse no set de filmagem. Norma Desmonds é exagerada como suas atuações. Ela procura expressar suas emoções sem recorrer a palavras, como se a vida fosse um filme mudo.
Marty Direção de Delbert Man 1955 : EUA : 91 min : branco e preto Com Ernest Borgnine (Marty Piletti), Batsy Blair (Clara Snyder) e Esther Minciotti (Sra. Piletti)
Provinciano? Sim, é um filme sobre pessoas simples de ideais simples, provincianas enfim. Resta saber se a mensagem do filme é provinciana também. Pode ser, mas talvez aí esteja a sua força, afinal é impossível não torcer pelo simpático gorducho.
Quase toda boa história começa com uma situação inverossímil. Marty é um solteirão de 34 anos, mas não por opção. Ele sempre quis constituir família, porém não consegue e aí está o problema. Ele é simpático, boa praça, responsável e respeita as pessoas. Não dá para crer que com esse elenco de qualidades ainda não tenha arrumado uma esposa.
Busca dos valores genuínos
Marty acredita que o problema é com ele e que não consegue noiva porque é tímido, desajeitado e feio e daí vem o tema do filme: o dilema de se deixar levar pela superficialidade do grupo ou seguir o que o próprio julgamento manda. Marty sabe no seu íntimo quais são as qualidades indispensáveis a quem quer se casar. Os seus amigos, no entanto, preferem a farra, as moças bonitas e fáceis e acreditam que sair com moças feias compromete a imagem do sujeito.
A história do filme cobre pouco mais do que 24 horas na vida do açougueiro Marty. Para contá-la bastariam umas duas ou três linhas, porque a história é muito simples. Trata-se do encontro de Marty com Clara, uma professora de Química, que também busca um companheiro e que enfrenta as mesmas dificuldades do nosso herói. Ela também é tímida, desajeitada e sem encantos físicos. Infelizmente, para os dois pombinhos, as pessoas que cercam Marty parecem estar unidas no propósito maligno de melar a relação dos dois. Marty, porém, sabe o que quer e mesmo balançando diante das pressões toma o caminho que sua consciência e seu coração mandam.